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O ano de 2022 marca novo período de crescimento nas vendas de bens de grande consumo, à boleia da subida da inflação. Os dados do Scantrends da NielsenIQ mostram que, no total, os portugueses gastaram 11 821 milhões de euros nos super e hipermercados, um aumento de 9,6% face ao ano anterior, correspondentes a mais 1036 milhões. Significa isto que abastecer a despensa custou, em média, 32,4 milhões de euros diários às famílias portuguesas.
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Isto não significa que os consumidores estejam a comprar mais, estão é a pagar tudo mais caro. Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca, garante mesmo que estas taxas de crescimento são “balofas”, porque correspondem apenas ao efeito inflação. “Vendeu-se menos, embora mais caro, e a prova disso é que o consumo retraiu a vários níveis, desde a compra de produtos mais baratos, mantendo o mesmo padrão de consumo, à escolha de produtos complementares, mas de qualidade inferior. E há mesmo redução de compra, com o consumidor a preferir fazer mais idas ao supermercado, mas comprando apenas o que precisa”, diz.
O que ajuda também a explicar o “crescimento brutal” das marcas próprias das cadeias de supermercados que registaram acréscimos de vendas de 18,3%, quase o dobro do mercado. Mantiveram sempre taxas a dois dígitos a partir de março, tendo atingido um acréscimo de 26,9% em dezembro. Em contrapartida, os artigos de marcas de fabricantes só cresceram 4,5%, menos de metade dos 9,6% da variação homóloga do mercado.
Não admira, por isso, que, em termos de mercado, quem mais ganha quota são as cadeias de hard discount, como Aldi, Lidl ou Mercadona – é um segmento que cresce 11%, contra os 9,3% dos hipermercados e os 9,5% dos pequenos supermercados – sendo, por consequência, elas próprias, um dos motores de crescimento das marcas próprias, já que a preponderância deste tipo de produtos nestas cadeias é substancialmente superior às restantes.
Já o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) fala num ano “altamente complexo” para toda a cadeia de distribuição, com um aumento generalizado dos preços. No entanto, Gonçalo Lobo Xavier assegura que só 35% do aumento dos custos reais tenha sido passado ao cliente final. “São custos difíceis de suportar para o consumidor, mas seria muito pior se não tivesse havido este esforço por parte das empresas”, sustenta.
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Mesmo assim, reconhece, registam-se já “perdas importantes” nas vendas de peixe e carne, com um consumo maior de carne de aves, de ovos e de conservas e outros enlatados.
Sobre o retalho especializado, que a APED também representa, Gonçalo Lobo Xavier diz que se assistiu, em 2022, a uma recuperação, com os consumidores a serem “cada vez mais racionais” no processo de compra, procurando online o que pretendem e indo às lojas com objetivos já predefinidos. “Apesar do consumo estar já muito próximo dos valores pré-pandemia, sobretudo na moda, na eletrónica de consumo e na cosmética, a compra por impulso diminuiu acentuadamente”, refere este responsável. Que considera que, apesar da grande incerteza que marcou o ano, o setor mostrou-se “resiliente”, com “alguma capacidade de investimento, ainda, na abertura de lojas e na criação de emprego”.
Escalada energética a abrandar
Quanto às perspetivas para 2023, a APED refere que já se começa a notar alguma tendência de estabilização dos custos energéticos e consequentes efeitos sobre os custos de produção. Gonçalo Lobo Xavier acredita que isso se comece a fazer sentir na carteira dos consumidores “no fim do primeiro trimestre”.
O setor, garante, “continua a investir em eficiência energética e em energia limpa, mas também, na formação dos seus recursos humanos. “Há uma batalha muito grande pelo talento, que só se consegue vencer com inovação, modernidade, e com melhores salários. E esse foi um esforço que se viu, não só com a assinatura do novo contrato coletivo de trabalho, que prevê um aumento de quase 9% em média, mas também pelo esforço individual das empresas de partilha e distribuição de resultados”. Suster a inflação, manter a cadeia de abastecimento a funcionar, sem riscos de ruturas de stocks, e reter e atrair talento são as grandes preocupações da APED e dos seus associados para 2023.
Já a Centromarca destaca o receio dos efeitos da recessão. “Vamos continuar a ter perda de poder de compra, porque o crescimento da inflação não será acompanhado do crescimento dos salários e é natural que o mercado contraia”, diz Pedro Pimentel. Para este responsável, a grande incógnita é se o verão será, em 2023, “tão forte” como foi o ano passado, “ajudando a compor, um bocadinho, as perdas do mercado interno”.
Do ponto de vista dos fabricantes, a preocupação está também no crescimento das “marcas brancas” que “parece estar para durar”, o que poderá “criar condições para um aumento da tensão negocial” entre o retalho alimentar e os seus fornecedores. ” Tememos que esta compressão do mercado e das rentabilidades possa extravasar para tensões e exigências mais exageradas e é muito importante fazer perceber às autoridades que é preciso estar com uma atenção muito grande ao mercado”, diz Pedro Pimentel.
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