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Os empréstimos para comprar carro atingiram 1,25 mil milhões de euros no primeiro semestre, o que traduz uma subida de 13% face aos 1,11 mil milhões registados no igual período do ano passado e uma média de 6,9 milhões pedidos por dia, sobretudo para aquisição de veículos usados, segundo cálculos feitos pelo DN/Dinheiro Vivo, baseados nos dados da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC).
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Estas estatísticas incluem apenas a produção das associadas da ASFAC, que representam 60% do crédito ao consumo concedido em Portugal e detêm 75% da quota de crédito automóvel, 45% do crédito pessoal e 59% dos cartões de crédito. BNP Paribas, Cofidis, Unicre e BMW Group são algumas instituições de crédito especializadas no financiamento ao consumo que integram a lista de 26.
Os valores acumulados até junho mostram que os portugueses pediram 1,15 mil milhões, isto é, praticamente 92% do montante total, para comprarem veículos ligeiros de passageiros. Dentro desta categoria, os automóveis em segunda mão continuaram a ser uma aposta, assumindo mais de 74% do montante de empréstimos, o que em valores absolutos expressa 933,3 milhões de euros. Em contrapartida, apenas 218,2 milhões de euros foram canalizados para a compra de viaturas prontas a estrear.
A preferência por veículos usados não é exclusiva do momento: já nos primeiros seis meses do ano passado, os empréstimos para aquisição de viaturas de passageiros ligeiros nesta condição tinham totalizado os 1,02 mil milhões de euros (menos 13% do que em 2023), representando 76% do crédito automóvel concedido naquele período, ao passo que apenas 16%, ou 177,5 milhões de euros, se destinaram à compra de automóveis novos.
Focando apenas a evolução do crédito automóvel entre janeiro e junho deste ano, verificou-se um melhor desempenho no segundo trimestre, com 651,3 milhões de euros financiados, face ao primeiro trimestre, quando foram emprestados 605,3 milhões – ou seja, de abril a junho as instituições concederam mais 46 milhões de euros. O acréscimo entre o primeiro e o segundo trimestre foi uma tendência observada também no ano anterior.
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Feitas as contas, os empréstimos automóvel representaram cerca de 60% do crédito clássico atribuído pelas associadas da ASFAC a famílias e empresas durante o primeiro semestre, sendo que, em igual período de 2022, esta proporção fixou-se nos 57%, o que traduz num aumento de três pontos percentuais. Em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo, Duarte Gomes Pereira, secretário-geral da associação, explica que a subida se deveu sobretudo a “uma maior disponibilidade de viaturas no mercado e à concretização de negócios fruto de encomendas de há vários meses”.
De recordar que, no crédito clássico, a instituição disponibiliza ao cliente uma quantia de dinheiro certa, que deve ser reembolsada num prazo previamente fixado e nas condições contratualmente acordadas. Entre janeiro e junho, o montante concedido através deste tipo de empréstimo totalizou os 2,09 mil milhões de euros, refletindo um acréscimo de 7% em relação ao período homólogo, quando foram emprestados 1,95 mil milhões de euros.
Neste sentido, os empréstimos ao consumo, respeitantes aos particulares, ascenderam aos 1,92 mil milhões de euros, o que, além de refletir uma fatia de praticamente 92%, significa que as famílias pediram mais de 10,6 milhões por dia às instituições de crédito – trata-se de uma subida de 5% em comparação com o mesmo conjunto de meses do ano anterior.
Parte desta rubrica, o valor dos empréstimos pessoais, destinados a financiar a aquisição de bens e serviços, podendo ser contratados também sem uma finalidade específica, fixou-se nos 609,5 milhões de euros, com a concessão no segundo trimestre a registar uma quebra de cerca de 16% relativamente aos primeiros três meses do ano. Ainda assim, face ao primeiro semestre de 2022, o total de crédito pessoal subiu 2%.
Até junho, foram celebrados em torno de 243 810 contratos de crédito clássico, sendo que 236 486 dizem respeito às famílias e 7324 às empresas. Enquanto os pedidos de particulares se mantiveram estáveis em termos homólogos, subindo apenas 2%, os pedidos de empréstimo por parte das empresas aumentaram 19%. Considerando o volume total, o crescimento foi de 3%, somando-se mais 6543 contratos.
Já considerando o revolving nas contas, isto é, os cartões de crédito que disponibilizam um determinado plafond, que pode ou não ser utilizado, o crédito ao consumo no âmbito da atividade das 26 associadas da ASFAC subiu quase 9% no primeiro semestre, face ao igual período do ano passado, cifrando-se em 3,6 mil milhões de euros. Concretamente, os portugueses tiveram à sua disposição, neste mesmo espaço temporal, cerca de 1,7 mil milhões de euros em plafond.
Sem sinais de alerta no incumprimento
O crédito é, muitas vezes, a forma que as famílias têm de fazer face a necessidades que de outra forma não poderiam satisfazer, inclusive despesas correntes. E embora as prestações do crédito ao consumo sejam maioritariamente fixas, outros fatores, como a inflação e o aumento da prestação da casa, ocasionado pela subida das taxas de juro, têm pesado no orçamento dos consumidores, levando a uma perda de rendimento disponível e, consequentemente, a um maior esforço para o pagamento das prestações de outros créditos, como o pessoal, o automóvel ou até mesmo o em cartão.
Mas, até agora, não há sinais alarmantes no que toca aos níveis de incumprimento, garante Duarte Gomes Pereira. Em parte, porque a concessão do crédito em Portugal “é feita de forma cuidada e sujeita a uma análise completa do cliente e da sua capacidade financeira a cada momento e perspetivas futuras”, explica o secretário-geral da ASFAC. O que se verificou antes, nota, foi “um ajustamento” do financiamento atribuído pelas associadas face à atual conjuntura económica, que se refletiu essencialmente numa “maior cautela” por parte das instituições de crédito especializadas no segmento de consumo.
De acordo com os dados citados pela associação, a taxa de incumprimento no crédito ao consumo até revelou melhorias ao longo do segundo trimestre, tendo-se cifrado, em julho, em 3,3%, enquanto no início do ano se fixou nos 3,4%, ou seja, uma redução de um ponto percentual. Além disso, trata-se de um valor “bastante abaixo” dos 4,5% registados em janeiro de 2022.
“A qualidade do crédito ao consumo é bastante boa, se tivermos como medida o incumprimento”, destaca o mesmo responsável. Contudo, acrescenta, “se houver agravamentos ao nível socioeconómico e limitações legais ao crédito ao consumo”, os problemas serão inevitáveis.
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