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As famílias portuguesas estão entre as que mais apoios exigem ao governo para fazer face aos impactos da pandemia, de acordo com os resultados do inquérito Risks that Matter: the long reach of covid-19, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE), publicado no final de abril.
Portugal surge nos primeiros três lugares da tabela, muito próximo de Chile e México. Quase 89% das famílias portugueses exigem mais apoios públicos, independentemente do impacto que sofreram durante a crise sanitária e se no agregado houve ou não casos de desemprego ou de redução salarial. O país surge à frente da Grécia e Espanha.
Um resultado muito acima da média da OCDE, de 67,7%. No fundo da tabela, estão os países nórdicos: Países Baixos, Noruega e Dinamarca. Aqui metade ou menos famílias inquiridas pedem reforço dos apoios públicos para enfrentarem a pandemia.
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O inquérito decorreu nos meses de setembro e outubro do ano passado, quando muitos países já começavam a enfrentar a segunda vaga da pandemia, incluindo Portugal. Nesse mês, a taxa de desemprego medida pelo Instituto Nacional de Estatística foi de 7,5%, correspondendo a mais de 387 mil pessoas sem trabalho. No Instituto de Emprego e Formação Profissional estavam inscritas mais de 400 mil pessoas. No lay-off tradicional encontravam-se mais de 8400 trabalhadores e no regime simplificado quase 115300 empresas entregaram o pedido para aceder, mas não existem dados sobre o número de trabalhadores abrangidos.
O inquérito foi conduzido em 25 países da OCDE, num total de 25 mil pessoas, um universo de 1000 pessoas por país. Entre as medidas de políticas públicas mais pedidas pelos inquiridos está o reforço da saúde. Seguem-se os serviços de cuidados continuados para os mais idosos e a fechar os três primeiros lugares, as pensões. Os dados não estão discriminados por país.
A OCDE destaca ainda um dado deste inquérito: os agregados em que houve registo de desemprego no período da pandemia “são mais propensos do que outros a descontarem mais 2% do seu rendimento em impostos e contribuições sociais para uma melhor prestação e acesso a serviços como apoios ao emprego e ao desemprego, prestações de rendimento mínimo, apoios familiares (como licenças parentais, prestações para acolhimento de crianças e prestações de infância) e apoios à habitação (como serviços de habitação social e subsídios de habitacionais).”
A organização sediada em Paris deixa ainda um alerta: “sem a continuação e expansão de fortes respostas políticas, as populações dos países da OCDE podem sofrer os efeitos económicos da covid-19 nos anos vindouros.”Para os técnicos da OCDE, o facto de estas famílias terem tido alguma insegurança financeira poderá justificar esta predisposição.
Dificuldade em pagar as contas
Na edição 2020, o inquérito da OCDE procurou perceber o impacto da pandemia no bem-estar das famílias e como é que estas responderam às dificuldades, nomeadamente, o pagamento das contas do dia-a-dia.
No período em que foi conduzido o questionário, pouco mais de um quarto das famílias responderam ter tido algum tipo de dificuldade. Por exemplo, 17% dos inquiridos disseram que foram obrigados a recorrer às poupanças ou mesmo à venda de bens para fazer face às despesas e 5,7% confessaram ter pedido ajuda a amigos ou familiares.
Por outro lado, Portugal apresenta das mais baixas taxas de perda da casa por falta de pagamento da renda ou do crédito. Um resultado que estará relacionado com a utilização extensiva das moratórias, uma vez que, de acordo com os dados de novembro do ano passado, Portugal era o terceiro país com mais moratórias no crédito a Europa em função do total de empréstimos.
Mas as dificuldades em fazer face a compromissos também se aplicavam para o futuro. Mais de sete em cada dez inquiridos “dizem estar “preocupados” ou “muito preocupados” com a sua capacidade de fazer face às despesas a curto prazo”, refere o relatório da OCDE. No caso português, em média, 76,3% confessam ter receio de não conseguirem pagar as contas. É o quarto país da lista, atrás da Grécia, do Chile, do México e de Espanha.
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