O aumento acentuado da poupança das famílias portugueses durante a pandemia está a prejudicar a economia, alerta o economista João Duque em declarações à Renascença.
O dinheiro aplicado desde março de 2020 chegou quase aos 23 mil milhões de euros em junho deste ano, um aumento de mais de 12 mil milhões em relação ao mesmo período de 2018/2019.
Questionado pela Renascença sobre este comportamento dos portugueses, João Duque começa por dizer que “seria bom se não fosse mau”.
“O que nós estamos a observar é uma contração do consumo que foi forçada, porque tivemos de ficar em casa e as pessoas acabaram por não gastar tanto quanto deviam para ajudar os que mais estavam a necessitar. O consumo excessivo é errado, mas em défice é prejudicial”, sublinha.
João Duque: “O consumo excessivo é errado, mas em défice é prejudicial”
Devido ao confinamento e às restrições para travar a pandemia, os portugueses acabaram por, “forçadamente, ficar em casa, e não gastaram”.
“Estamos a prejudicar o desenvolvimento da economia. Acabámos por poupar e por isso temos o resultado espelhado no balanço dos bancos a crescer de uma forma que não era suposto crescer”, assinala João Duque.
A continuação do aumento da poupança pode atrasar a retoma económica? ““Sim, mas neste caso cavou a recessão”, sublinha.
“O que nós fizemos foi abrandar de forma muito agressiva o consumo e criámos todas as condições para agravar a situação económica da pandemia. Neste sentido, agimos erradamente. Devíamos ter comprado mais coisas às empresas que vendem pela internet, gasto mais dinheiro em restauração servida em casa, em roupa… Há uma perda grande de atividade.”
O economista espera, que com a vacinação e o levantamento progressivo das restrições, a vida dos portugueses e o consumo possam normalizar.
“Aquilo que foi hoje divulgado é o resultado esperado. Para o futuro é outra história. Por um lado. as pessoas vão voltar à atividade económica, espera-se, estamos a fazer um processo de descompressão em termos de situação sanitária. As pessoas têm já índices de confiança mais elevados, têm expetativa que com a vacinação concluída podemos andar mais livremente, consumir mais facilmente, mais pessoas juntas nos restaurantes”, refere.
“Podemos começar a aspirar a ter uma atividade mais normal e mais próxima daquela que era a anterior. Espero que a agora a poupança se reflita em sentido contrário. Vamos poupar muito menos e fazer despesas importantes em determinados setores. Por exemplo, as pessoas vão comprar um automóvel para quê se estão em casa. Mas à medida que começamos a podemos sair à rua, podemos começar a pensar no que fazer e revisitar os espaços de compras. Espero que com alguma moderação, bom-senso e sentido de equilíbrio se possa repor o consumo aos níveis que se aspira que deviam ter”, conclui João Duque.
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