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O preço grossista da eletricidade no mercado ibérico (Mibel) mantém-se em alta e a tendência parece ser para assim continuar. Na quinta-feira, dia 1 de julho, o preço da eletricidade alcançou um valor médio de 99,8 euros por megawatt hora, o mais alto desde que o Mibel foi criado, em 2007. E, apesar da correção registada nos dois dias seguintes – os contratos para hoje, dia 4 de julho, baixaram para 79,43 euros, embora tenham chegado a negociar muito perto dos 105 euros-, tudo indica que a escalada poderá continuar, impulsionada pelo disparar das cotações das licenças de CO2. Os contratos futuros para o quarto trimestre rondam também os 100 euros por MWh.
O disparar dos preços grossistas da eletricidade no mercado ibérico (Mibel) levaram já a Entidade Reguladores dos Serviços Energéticos a decretar uma atualização intercalar das tarifas de eletricidade, para o mercado regulado, que entrou em vigor esta quinta-feira, dia 1 de julho. O aumento de 3% em média sobre os preços em vigor traduz-se em agravamentos na fatura que vão dos 1,05 aos 2,86 euros por mês e que se aplicam às 954 mil famílias que se mantêm, ainda, no mercado regulado.
Estima o regulador que, no caso de um casal sem filhos, com uma potência contratada de 3,45 kVA e um consumo anual de 1900 kWh, a fatura mensal da luz passará a ser, em média, de 37,11 euros. Já para uma família de quatro pessoas, com uma potência contratada de 6,9 kVA e um consumo anual de 5000 kWh, o custo mensal da eletricidade passará a ser de 92,60 euros.
O aumento dos preços no mercado regulado não significa, necessariamente, que as tarifas para os restantes 5,3 milhões de clientes residenciais que estão já em mercado livre venham também a sofrer agravamentos. A revisão em alta das condições tem acontecido sim, mas sobretudo para novos contratos. Mesmo assim, garante a ERSE que ainda há “várias ofertas melhor posicionadas que o mercado regulado” e recomenda aos consumidores que “procurem potenciais poupanças na fatura de eletricidade junto dos comercializadores em mercado livre”.
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Comercializadores querem manter preços
E qual a estratégia dos vários comercializadores? A EDP Comercial, que detém 70% da quota de mercado do consumo de eletricidade dos clientes residenciais, garante que não vai fazer qualquer mexida nas tarifas até ao fim do ano. “A EDP Comercial tem como princípio garantir uma política de estabilidade e previsibilidade aos seus clientes domésticos, mantendo os preços da eletricidade inalterados ao longo do ano. Assim, e apesar de os preços grossistas estarem a subir de forma significativa, devido ao aumento do preço do gás e das licenças de CO2, não está prevista qualquer alteração nos preços pagos pelos nossos clientes, que apenas são atualizados no início de cada ano civil”, refere fonte oficial da empresa.
A EDP sublinha, ainda, que a evolução dos preços no mercado grossista não está, também, a ter qualquer impacto para os novos clientes residenciais, já que, não só os tarifários “não se alteraram desde o início do ano”, quando “desceram, em média, 1% face a 2020”, como a elétrica tem em vigor “uma oferta para novos clientes com desconto até 8% em eletricidade verde”.
A situação é diversa no segmento empresarial. Há quem prefira contratos com valor fixo até à sua renovação, e só então sentirão os efeitos do disparar de preços no Mibel, e há contratos com valor indexado ao mercado grossista, que estão já a sentir a volatilidade dos preços. “Apesar de este ser um segmento que, tradicionalmente, tem preferido contratos de curta duração, há cada vez mais empresas que preferem garantir estabilidade de preços, por exemplo, com contratos a cinco anos, em que o preço é fixo e que, adicionalmente, chegam a representar uma poupança de 20% no seu custo com eletricidade”, explica a EDP.
A empresa assume que dispõe de um “espetro alargado” de produtos de energia que permitem aos clientes empresariais “adaptarem a sua estratégia a uma maior ou menor exposição aos preços do mercado grossista”. São exemplo disso os contratos PPA, com visibilidade sobre os preços por um longo período e que, adicionalmente, permitem o desenvolvimento de um novo parque eólico ou solar, contribuindo para a transição energética, destaca a EDP Comercial. A companhia garante que a associação de contratos de longo prazo com a adoção de medidas de eficiência e do recurso ao autoconsumo de energia produzida “podem levar a poupanças de até 40% no consumo das empresas”.
A Endesa, o segundo maior comercializador de eletricidade em Portugal, garante, também, que os clientes com preço fixo contratualizado não terão as suas tarifas alteradas. Ou seja, as famílias. “A Endesa não tem por prática a alteração de preços contratualmente fechados durante a vigência do prazo de contrato acordado com os clientes”, sublinha fonte oficial do grupo espanhol.
Já no segmento empresarial,” o mercado liberalizado já está a viver um importante aumento de preços para aqueles contratos que estão a ser renovados”, reconhece a empresa, que está a propor aos clientes contratos a vários anos como forma de combater esse aumento. “Os preços baixam quantos mais anos são contratados e é uma forma para minimizar o impacto” da subida de preços no mercado grossista.
A Endesa recorda, ainda, que a situação não é exclusiva do mercado ibérico. “É geral em todos os mercados elétricos europeus e está justificado pelo aumento dos preços do CO2 e dos preços do gás natural na Europa. A principal referência do gás na Europa é o índice holandês TTF, e espera-se que o preço do gás para a segunda metade deste ano de 2021 seja 60% mais caro do que a média histórica dos 5 anos anteriores (sem considerar 2020 em que o preço esteve nos mínimos, devido à pandemia). No caso do CO2, entre fevereiro e maio o preço aumentou cerca de 70%”, sublinha.
Já a Iberdrola não é muito clara quanto a uma mexida, ou não, nas tarifas dos consumidores domésticos. A empresa espanhola, que lidera o mercado de grandes consumidores, com uma quota de 26%, refere que “segue uma estratégia de aprovisionamento que protege o cliente durante o período contratual”, propondo novos preços de mercado, “que contemplam não só o presente como a evolução futura”, no início de cada novo período. No entanto, fonte oficial da empresa reconhece que, a manter-se o cenário atual de preços grossistas elevados, “haverá uma revisão de valores”.
Lembra a Iberdrola que, apesar de existirem diferenças entre o segmento empresarial e residencial, nomeadamente no que respeita à adaptação e negociação direta com cada cliente, “comungam da mesma matéria prima, que é a energia, e são diretamente afetados pela evolução dos preços grossistas no mercado”.
Também a Galp não está a refletir qualquer aumento do custo de energia nos clientes domésticos. “A tabela de preços da Galp mantém-se para já, apesar do acréscimo do preço da eletricidade no mercado grossista”, diz fonte oficial da empresa. No caso dos clientes empresariais, a oferta é “customizada” às suas necessidades, perfil de consumo, serviços abrangidos e prazo contratual; vários são os fatores que influenciam a proposta de valor oferecida a estes clientes, acrescenta.
“Os preços da eletricidade são normalmente atualizados anualmente, em linha com a revisão anual das tarifas e com a evolução dos custos da energia elétrica. Como é habitual, qualquer atualização será avaliada e anunciada atempadamente”, sustenta a Galp.
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