O atual ministro das Finanças, Mário Centeno, deverá mesmo sair em julho, depois de arrumado o orçamento retificativo, e Pedro Siza Vieira, hoje ministro da Economia, está a ser falado para assumir a tutela das contas públicas. Ato contínuo, António Costa Silva, o presidente da Partex, a histórica petrolífera que pertenceu ao universo Gulbenkian até ao final do ano passado, poderá ser convidado pelo primeiro-ministro a entrar no governo e ser uma opção para liderar o ministério da Economia, avança a edição do Expresso deste sábado (acesso condicionado).
Ou seja, nesta versão do Expresso, Pedro Siza Vieira, atual ministro da Economia, o ministro com mais peso e influência junto de António Costa, não deve acumular a Economia com as Finanças, como já se chegou a escrever nas últimas semanas.
O braço direito de Costa deverá ficar só com as Finanças, abraçando uma missão que será de certeza gigantesca e difícil. O substituto de Centeno (que deverá seguir para governador do Banco de Portugal) vai pegar num ministério que terá a complexa tarefa de reduzir um grande défice público e uma dívida gigantesca, com o país a tentar sair de uma recessão de proporções nunca imaginadas.
Segundo o Expresso, a remodelação, que acontecerá portanto em julho, antes de o país ir de os políticos irem de féria, tenderá ser minimalista, sendo que António Costa Silva até já está a trabalhar com o primeiro-ministro Costa para se inteirar das várias áreas governativas com um objetivo: será este engenheiro de minas que pode vir a desenhar e a coordenar o programa de recuperação para a economia sair desta crise.
Segundo o Expresso, “há duas semanas, António Costa convidou um gestor, independente do PS, para uma missão imprevisível: preparar um programa de recuperação económica para o país”.
António Costa Silva, que nunca teve um cargo político (foi durante muitos anos o rosto da Partex Oil and Gas, a empresa petrolífera com avultados interesses e investimentos em projectos de exploração e produção de petróleo e gás (em Abu Dhabi, Oman, Kazaquistão, Brasil, Argélia, Angola) e que alimentou financeiramente a Fundação Calouste Gulbenkian durante 60 anos.
O semanário refere que “Costa Silva tornou-se uma espécie de “paraministro”: o chefe de Governo falou com todos os membros do seu executivo e explicou-lhes que Costa Silva iria reunir com cada um deles para definirem os programas que estão previstos ou programados e que devem cair, ficar ou nascer”.
“Do ponto de vista político, a missão é de enorme sensibilidade: Costa Silva não faz oficialmente parte do Governo, mas já acompanhou Costa em reuniões com empresários e já começou as reuniões com cada um dos ministros, sabendo que vai condicionar toda a governação dos próximos anos. A primeira reunião foi com Matos Fernandes, ministro do Ambiente, para garantir que a sua posição (gestor de uma petrolífera) e currículo não seriam incompatíveis com a agenda de combate às alterações climáticas”, pode ler-se no online do semanário.
Bloco de Esquerda recusa reunir-se com “paraministros”
O Bloco de Esquerda já reagiu a esta ascensão do nome de Costa Silva. “Paraministro” é uma figura que não existe, portanto, apesar de o engenheiro já ter reunido com empresários e ministros, quando chegar a vez dos partidos, o Bloco vai pedir escusa de reunir com Costa Silva.
Catarina Martins, coordenadora do BE, disse, citada pela Lusa, que “o senhor primeiro-ministro é aconselhado por quem acha que pode fazer esse trabalho, é livre de o escolher. O Bloco de Esquerda, naturalmente, negoceia com membros do Governo, como fez até agora e como mandam, aliás, as regras da boa transparência da nossa democracia”, mas “a figura de paraministro não pode existir”.
“As pessoas que têm competência para tomar decisões em Portugal, que estão sujeitas não só a um regime de incompatibilidades e impedimentos estritos como de transparência sobre os seus rendimentos são membros do Governo: ministros e secretários de Estado”, acrescentou Catarina Martins.
CDS quer negociar com “Costa e Siza”, “não com “Costa Silva”
De acordo com a Lusa, o CDS-PP também reagiu através de um comunicado. Os centristas dizem que pretendem discutir o plano de recuperação económica do país com “Costa e Siza”, uma referência ao primeiro-ministro e ministro da Economia, “e não com Costa Silva”.
“O primeiro-ministro pode escolher com quem é que os seus ministros se aconselham, mas em matéria de governação do país, o CDS deve falar com o Governo e não com quem o Governo fala”, acrescento o partido na nota de imprensa.
Quem é António Costa Silva
Segundo o seu currículo (CV), Costa Silva é “professor no Instituto Superior Técnico de Lisboa onde fez a agregação em Planeamento e Gestão Integrada de Recursos Energéticos. Licenciatura em Engenharia de Minas (IST), fez o mestrado em Engenharia de Petróleos no Imperial College (Universidade de Londres) e o doutoramento no IST e no Imperial College”.
“Em 1980 iniciou a sua actividade profissional na Sonangol em Angola, fazendo parte do departamento de Produção, dedicando-se a estudos de reservatórios e execução de planos de produção, assim como análise e interpretação de testes de poços nos campos da Bacia do Quanza, em Angola.”
Como referido é o presidente da Partex, empresa que ao fim de 60 anos, foi vendida pela Gulbenkian no final do ano passado ao grupo tailandês PTT Exploration and Production por cerca de 555 milhões de euros.
(atualizado às 18h20 com a reação do CDS)
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