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A prestação que as famílias têm de pagar ao banco pela casa vai voltar a subir para todos os créditos indexados à Euribor cujas condições sejam revistas em setembro. Os contratos a 12 meses serão os mais penalizados pela escalada das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE), agravando a prestação em 230,92 euros, ou seja, mais 40% face aos 573,29 euros pagos há exatamente um ano por um empréstimo de 150 mil euros a 30 anos (360 meses), indexado ao prazo mais alargado e com um spread (margem de lucro do banco) de 1%, segundo uma simulação realizada pela Deco, a pedido do Dinheiro Vivo.
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Isto significa que, após a revisão no próximo mês, este cliente passará a pagar, previsivelmente, 804,21 euros mensais, tendo em conta a média da Euribor a 12 meses, que, no final de agosto, deverá fixar-se em 4,070% – o que, face a julho, mês em que se cifrou em 4,149%, reflete uma tendência de descida. “Esta é a primeira vez que tal se verifica”, nota a Deco.
Já no caso de um crédito com as mesmas condições, mas vinculado à Euribor a seis meses, os consumidores deverão ver a prestação da casa aumentar para 798,82 euros, um montante que traduz uma subida de 9,8%, ou 70,97 euros, relativamente à última revisão em março, quando o valor foi atualizado para 727,85 euros. Quanto à média da Euribor neste prazo, terá rondado os 3,940% no oitavo mês do ano, estabilizando assim os valores em relação a julho (3,943%).
Por último, no que respeita aos empréstimos contratados a três meses – o prazo mais curto -, e dentro dos referidos critérios, passarão a pagar em setembro mais 36,82 euros, aumentando a prestação paga ao banco para 784,95 euros, ou seja, um acréscimo de 4,9% face aos 748,13 euros determinados em junho. A previsão de média desta Euribor em agosto é de 3,780%, o que revela que o indexante mantém ainda “a tendência de subida verificada nos últimos meses” – no mês sete tinha sido de 3,672%.
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De recordar que a evolução da Euribor está diretamente relacionada com as flutuações das taxas de juro diretoras do BCE, que, desde julho do ano passado, têm vindo a subir significativamente, numa tentativa do banco central combater a inflação na zona euro. Em Portugal, especificamente, a inversão da política monetária tem custado caro às famílias, sobretudo as que possuem crédito à habitação, uma vez que 90% destes empréstimos possuem taxa variável, o que significa que a prestação da casa sobe ou desce quando o mesmo acontece com a taxa que serve de referência.
Apesar dos aumentos efetivos, que deverão continuar a ocorrer nos próximos meses, o cenário simulado pela Deco mostra que o agravamento mensal das prestações está a diminuir, o que poderá significar que as Euribor podem estar perto de estabilizar. Quando acontecer, o valor pago pelas famílias ao banco deixará de subir, ainda que tal só deva cumprir-se em 2024.
Nos contratos revistos em agosto, por exemplo, a mensalidade aumentou 6,1% (44,51 euros) nos créditos associados à Euribor a três meses, 13,5% (94,75 euros) nos empréstimos a seis meses e 46,3% (256,60 euros) no prazo a 12 meses. Tendo em conta a evolução esperada para setembro, é possível constatar um decréscimo quer no indexante médio, compreendido em 3,7 pontos percentuais, como no mais longo, de seis pontos percentuais.
Ainda assim, a cumprir-se as previsões, “em setembro verificar-se-á um grande esforço financeiro para o orçamento das famílias com crédito à habitação, levando, consequentemente, também a um agravamento da suas taxas de esforço, obrigando a reajustes financeiros”, alerta Elisabete Policarpo, jurista do gabinete de proteção financeira da Deco.
Num balanço feito ao DV, a especialista revela que a maioria dos consumidores que procuram os serviços da associação encontra-se em situação de regularidade quanto ao pagamento dos seus créditos, sendo que, por norma, possuem cinco contratos: dois cartões de crédito, dois empréstimos pessoais e um à habitação. Quanto aos montantes médios em dívida, é ainda avançado, são de 21 600 euros em empréstimos pessoais, 7900 euros em cartões de créditos e de 92 mil euros em empréstimo à habitação.
Segundo a mesma responsável, por norma, o incumprimento surge primeiramente no pagamento dos cartões de crédito, sendo a dívida da habitação a última a deixar de ser paga: “Em regra, o lar é a prioridade das famílias.” Ainda neste sentido, e ao contrário do que se verificou em crises anteriores, os portugueses estarão agora sensibilizados para uma “atuação preventiva, procurando ativamente por informação e soluções para as suas dificuldades”.
Contudo, vale sublinhar que já chegam à associação casos de quem não esteja a conseguir fazer face à escalada generalizada dos preços e a acusar pressão no orçamento, incorrendo no risco de não cumprir com o pagamento ao banco. O aumento do custo de vida é a principal alavanca para as dificuldades financeiras – isto porque, “apesar de a inflação apresentar uma tendência de decréscimo, as famílias ainda não sentiram este efeito” no bolso, nota Elisabete Policarpo -, mas a perda de rendimento e o desemprego são outras das principais causas apresentadas pelos consumidores.
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