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No último ano, as famílias depararam-se com um aumento da prestação da casa no seguimento da acelerada subida das Euribor. E o ano arranca com novos agravamentos. Os contratos que sejam atualizados este mês poderão ter um acréscimo de entre 80 a 270 euros. As perspetivas são que a Euribor continue a subir ao longo de 2023, mas os especialistas ouvidos pelo Dinheiro Vivo acreditam que será a um ritmo inferior e poderá, até, estabilizar a partir do primeiro semestre.
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Depois de anos em terreno negativo, em 2022 as Euribor inverteram a tendência fruto da decisão do Banco Central Europeu (BCE) de aumentar as taxas de juro diretoras para responder ao aumento da inflação na zona euro. Uma situação que, como explicou Natália Nunes, coordenadora do departamento de Proteção Financeira da Deco, acabou por “colocar uma grande pressão nas famílias que têm crédito à habitação com taxa variável”. Em Portugal, ao contrário de muitos países europeus, a larga maioria dos contratos de crédito para a compra de casa (cerca de 90%) são com taxa variável, o que significa que a mensalidade varia consoante a atualização da Euribor a que estão associados. Aliás, de forma a apoiar as famílias com mais dificuldades em assegurar o aumento dos empréstimos, o Governo avançou com novas regras para obrigar os bancos a renegociar os contratos com taxas de esforço mais elevadas.
De mês para mês, à medida que os contratos vão sendo renovados, há cada vez mais portugueses a ver a prestação aumentar. E este mês não será exceção. De acordo com as simulações da Deco, um cliente com um empréstimo de 150 mil euros – a 30 anos, indexado à Euribor a 12 meses e com um spread (margem de lucro do banco) de 1% – vai pagar 717,68 euros, um incremento de 269,03 euros face ao que pagava desde o mesmo mês de 2022.
No caso de um contrato com as mesmas condições mas com Euribor a 6 meses, a mensalidade passará a ser de 678,60 euros, um agravamento de 184,90 euros face à última revisão em julho. Enquanto com a modalidade a 3 meses – o cliente fica a pagar 637,60 euros, mais 82,35 euros.
Subida mais contida
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Os aumentos da Euribor poderão continuar, mas a um ritmo bem mais contido. Filipe Garcia, economista e presidente da IMF- Informação de Mercados Financeiros, recordou que na última reunião da entidade liderada por Christine Lagarde “houve uma recalibração de expectativas em alta de 50 pontos base quanto à taxa terminal deste ciclo de subidas de juros, colocando a taxa de depósitos num máximo de 3,25%”, níveis que considera “razoáveis”. Em termos de Euribor, detalha que significará um valor máximo “entre 3.50% e 3.75% em meados de 2023”.
Pedro Lino partilha da mesma posição. O economista estima que “as taxas Euribor irão todas convergir para os 3%-3,25%, a taxa de depósitos que o BCE deverá atingir até abril e depois estabilizar”. Neste seguimento, “é possível que no último mês de 2023 se assista a algo invulgar que é a inversão da tendência dos juros com a taxa Euribor a 12 meses a ser inferior à de 3 e 6 meses”, sublinha o também CEO da Optimize e DIF Broker.
Já Paula Carvalho realça que na reunião de dezembro “o BCE tornou claro que pretende continuar a ajustar a sua política monetária ao atual contexto, “pelo que pelo menos mais uma subida de 50 pontos base nas taxas diretoras parece estar garantida”. Porém, a diretora do BPI Research destaca que, cada vez mais, a atuação do banco central estará dependente da informação económica que for sendo divulgada, sobretudo da taxa de inflação, mas também da atividade económica”. Ora, dada a expectativa de que a inflação confirme, pelo menos, estabilização ou ligeira redução nos próximos meses, “é possível que a necessidade de novas subidas de taxas seja mais contida. Assim, as nossas projeções para as taxas Euribor indicam que estas deverão estar já próximas do máximo do ciclo, dado que já incorporam a expectativa de alguns movimentos adicionais pelo BCE”, adiantou a economista-chefe do BPI.
Filipe Garcia também considera que “o grande impacto” da subida das Euribor já ocorreu em 2022. O economista comentou que a perspetiva atual do mercado é de que o BCE deverá parar as subidas no final do primeiro semestre. Depois,” tenderão a manter as taxas nesses níveis durante o resto do ano, até porque demorou anos aos bancos centrais (e um golpe de “sorte” de ter a inflação alta) para reconquistar o instrumento taxas de juro como ferramenta de política monetária e não deverão cortar ao primeiro sinal de necessidade”, acrescentou.
No entanto, Natália Nunes alerta que a forte “pressão” que os portugueses já estão pode piorar em 2023, “isto porque a Euribor poderá subir até aos 3,5% a 4%, até final de 2023, o que causará com toda a certeza, impactos nefastos nos orçamentos familiares das famílias com rendimentos mais reduzidos e/ou com taxas de esforço elevadas”.
Olhando para as perspetivas a longo prazo e às atuais projeções do mercado, os especialistas apontam para aumentos médios de cerca de 100 euros ao longo deste ano, que dependerá sempre de caso para caso. Por exemplo, utilizando taxas médias nos anos de 2022 e 2023 e a Euribor de 12 meses para um capital de 150 mil euros e um empréstimo a 30 anos, o acréscimo será de cerca de 120 euros. Porém, como adverte Paula Carvalho, “esta é uma informação totalmente indicativa dado que o acréscimo, entre outras coisas, depende do período/momento de refixação”.
Face a este cenário, o que seria necessário acontecer para interromper esta tendência de aumento? Todos os economistas apontam na mesma direção. “Para que os juros parem de subir e possam estabilizar nos 2%, será necessário que a taxa de inflação baixe para os 2%,”, explicou Pedro Lino. Para tal, “provavelmente será necessária uma recessão para que isso aconteça, mas até lá não teremos alívio nos juros”.
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