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Os principais bancos reestruturaram mais de 62 mil créditos devido à dificuldade das famílias em comportarem a forte subida dos juros, mas consideram que não há um problema generalizado, ainda que admitindo que a situação se pode agravar.
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O Santander Totta renegociou cerca de 18 mil créditos à habitação desde o início do ano, sendo o valor total dos empréstimos de cerca de 2.000 milhões de euros.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) reestruturou 17 mil créditos à habitação (apenas 1.024 foram ao abrigo do decreto-lei do Governo que forçava os bancos a reestruturar esses empréstimos), no valor total de 1.760 milhões de euros. O banco público tem mais de 320 mil créditos à habitação ‘vivos’.
O BCP fez 9.600 renegociações de créditos no primeiro semestre, sendo que 1.885 foram ao abrigo do decreto-lei do Governo. O banco não divulga o valor total dos créditos renegociados.
O BPI renegociou 9.000 créditos à habitação (8% da carteira total de crédito à habitação) no valor total de 1.100 milhões de euros, 2.400 dos quais ao abrigo do decreto-lei.
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Por fim, o Novo Banco disse que foram cerca de 9.000 desde o início do ano e que desses cerca de 90% foram renegociações comerciais.
As renegociações de crédito podem ser feitas de várias formas, por baixa do ‘spread’ (margem de lucro comercial do banco), aumento do prazo de pagamento do crédito ou um período de carência no pagamento de capital (por exemplo, durante um ano o cliente só paga juros, o que baixa a prestação mensal mas capitalizando de futuro o valor em falta).
Nas conferências de imprensa de apresentação das contas semestrais, os presidentes dos principais bancos a operar em Portugal consideraram que não há um problema genérico de crédito à habitação, apesar das dificuldades que as famílias sentem em acomodar o aumento das taxas de juro no seu orçamento mensal, e que os problemas têm sido mais focados em algumas franjas de clientes (pessoas de mais baixos rendimentos e quem pediu crédito mais recentemente, sobretudo de classe média).
Contudo, os banqueiros também dizem que irão agravar-se os problemas se continuar o ciclo de aumento das taxas de juro, sendo então esperadas mais reestruturações de empréstimos. A associação de defesa do consumidor Deco tem relatado que há já muitas famílias a tentar vender casas porque não conseguem pagar a prestação ao banco.
“Há claramente um conjunto de famílias em dificuldades, mas os casos têm sido resolvidos e têm-se encontrado soluções. Se as taxas continuarem a subir e se mantiverem de forma prolongada haverá agravamento das situações até agora acomodadas”, disse o presidente da CGD, Paulo Macedo, na apresentação de resultados.
O presidente do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, considerou, por seu lado, que o tema do crédito à habitação “tem estado estável” e que as renegociações apresentam valores globais baixos, mas admitiu que o banco tem estimado que as renegociações “possam aumentar”.
O Banco Central Europeu (BCE) voltou a subir as taxas de juro a semana passada e deixou a porta aberta a mais aumentos, ainda que possam não ser já em setembro. “Estamos a entrar num período em que dependeremos dos dados económicos”, afirmou a presidente do BCE, Christine Lagarde.
Para mitigar o impacto da subida dos juros, o Governo dá um apoio na bonificação do crédito à habitação às famílias com maior esforço. Os presidentes dos bancos consideraram a medida uma ajuda às famílias mas que não faz grande diferença (no BCP a bonificação foi, em média, de 37 euros).
A semana passada, em entrevista ao Público, o ministro das Finanças, Fernando Medina, disse que o Governo quer alterar a medida para que abranja mais famílias.
Apesar das dificuldades que a subida dos juros tem imposto às famílias, para os bancos tem sido o grande fator de lucro já que as altas taxas de juro nos empréstimos e a lenta subida das taxas de juro nos depósitos beneficiam a margem financeira (a margem financeira, geralmente a principal fonte de receitas de um banco, é a diferença dos juros cobrados nos créditos e os juros pagos nos depósitos).
Os lucros agregados dos cinco maiores bancos que operam em Portugal somaram 1.994 milhões de euros no primeiro semestre, mais 735 milhões de euros do que no primeiro trimestre de 2022 (um aumento de 58,4%).
A CGD lucrou 607,9 milhões de euros, mais 25% face a junho de 2022, tendo a margem financeira crescido 124,7% para 1.316 milhões de euros.
O BCP multiplicou por quase sete vezes os lucros para 423,2 milhões de euros, tendo a sua margem financeira subido 39,5% para 1.374 milhões de euros.
O Novo Banco teve lucros de 373,2 milhões de euros (aumento de 39,9%), com a margem financeira a crescer 95,5% para 524 milhões de euros. Este foi o único dos grandes bancos que não apresentou resultados em conferência de imprensa, aliás, desde que Marke Bourke é presidente executivo nunca fez conferência de imprensa de apresentação de contas. A Lusa, em fevereiro, questionou o Ministério das Finanças e o Fundo de Resolução sobre o tema, uma vez que o Estado e o Fundo de Resolução são acionistas, mas não obteve resposta.
Os lucros do Santander foram de 333,7 milhões de euros (mais 38,3%), tendo a margem financeira aumentado 58,4% para 586,5 milhões de euros, e o BPI apresentou lucros de 256,2 milhões de euros (mais 26,1%), com a margem financeira a subir 85% para 435 milhões de euros.
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