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Os pedidos de empréstimo para compra de habitação por parte das famílias portuguesas diminuíram nos primeiros três meses do ano, em comparação com o trimestre anterior, e o Banco de Portugal (BdP) não antevê quaisquer mudanças no mercado de crédito hipotecário até junho. A tendência deverá manter-se, com os consumidores a recorrerem cada vez menos ao financiamento junto dos bancos para este efeito, intimidados por um contexto de elevadas taxas de juro, que reproduzem um efeito direto na prestação mensal a pagar ao banco. Os dados pertencem ao “Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito”, divulgado ontem, pelo supervisor, que avaliou a oferta e a procura no setor entre janeiro e março, e que antecipa o comportamento do mesmo no segundo trimestre.
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No relatório, a instituição liderada por Mário Centeno revela que os bancos registaram um decréscimo na procura de crédito à habitação no primeiro trimestre, que se fez à boleia da subida da Euribor e do baixo nível de confiança dos próprios consumidores. O mesmo sucedeu no segmento de consumo, no qual se verificou uma “ligeira diminuição”, causada pelas “despesas de consumo de bens duradouros” e pelo recurso às poupanças.
Em março, os empréstimos para compra de casa abrandaram para 99,7 mil milhões de euros, tendo aumentado apenas 1,9% face ao mês anterior, revelam os dados do Banco de Portugal também divulgados ontem. A desaceleração em cadeia tem marcado os últimos meses. Em fevereiro o crescimento foi de 2,5% para 99,8 mil milhões de euros e, em janeiro, face a dezembro, a subida foi de 3,11%, para 100 mil milhões de euros.
“A concessão destes empréstimos desacelerou, relativamente ao mês homólogo do ano anterior, pelo oitavo mês consecutivo: a taxa de variação anual passou de 4,8% em julho de 2022 para 1,9% em março de 2023”, sublinha o banco central na nota de informação estatística relativa a março.
Os critérios de concessão de crédito aos clientes particulares mantiveram-se estáveis, não criando os bancos obstáculos ao financiamento das famílias, pelo contrário, conclui o inquérito. Numa estratégia para atrair novos clientes – e porque a concorrência assim pressionou – as instituições bancárias a operar em Portugal baixaram os spreads (indicador correspondente à margem de lucro sobre o crédito) nos empréstimos para compra de habitação de risco médio e nos de consumo de risco médio superior.
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“O custo de financiamento e as pressões concorrenciais contribuíram ligeiramente para reduzir os spreads em empréstimos de risco médio e, no crédito ao consumo e outros fins, o custo de financiamento e a perceção e tolerância de riscos contribuíram ligeiramente para reduzir os spreads nos empréstimos”, refere o BdP, no documento. As comissões e outros encargos associados aos contratos, por seu turno, subiram.
As expectativas do regulador para os meses que se seguem (de abril a junho)apontam para uma contínua redução da procura de crédito hipotecário e para a manutenção do interesse dos portugueses no segmento de consumo.
Critérios e spreads apertam para empresas
Os bancos começaram a apertar o cinto das empresas em janeiro e as previsões do Banco de Portugal é de que continuem a fazê-lo, pelo menos, até junho. Nos primeiros três meses do ano, as taxas de juro altas, conjugadas com critérios de concessão mais restritivos fizeram com que os empresários do país se financiassem menos junto do setor bancário, registando-se até um aumento do número de pedidos de empréstimo rejeitados, revela o banco central.
As instituições financeiras observaram uma diminuição da procura quer por parte de Pequenas e Médias Empresas (PME) como de companhias de grande dimensão, sobretudo nos empréstimos de longo prazo. A justificação, aponta o regulador, esteve relacionada com “o nível geral das taxas de juro”, as próprias “necessidades de financiamento do investimento” e o “recurso a fontes de financiamento alternativas”, entre as quais se destacam “a geração interna de fundos, especialmente no caso de grandes empresas”.
Os critérios de concessão de crédito no segmento empresarial foram “ligeiramente mais restritivos”, nomeadamente para as PME, em resultado da “perceção dos riscos associados à situação e perspetivas económicas gerais e, em menor grau, a setores de atividade ou empresas específicos”. Face a tais riscos, os bancos decidiram aumentar a “restritividade dos outros termos e condições, sobretudo das garantias exigidas e das condições contratuais não pecuniárias” para as PME. Em sentido contrário ao que se passou no lado das famílias, os spreads nos empréstimos às empresas conheceram um “ligeiro aumento”, principalmente nos contratos de maior risco e de risco médio, relata o supervisor.
O BdP antecipa critérios de concessão mais restritivos no crédito a empresas para o segundo trimestre, nomeadamente para empresas de pequena e média dimensão, e “de forma transversal à maturidade dos empréstimos”.
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