“A União de Freguesias do Felgar e Souto da Vela era a única que tem território nas duas margens da albufeira do Baixo Sabor. Com a construção da barragem, os terrenos agrícolas da margem direita do rio estão abandonados por falta de acessos condignos. Os que ainda são cultivados obrigam a percorrer grandes distâncias”, disse hoje à Lusa o membro fundador da Associação de Proprietários do Baixo Sabor e Lagos do Sabor, José Rachado.
De acordo com o também proprietário agrícola, no Baixo Sabor não é possível contornar o perímetro da albufeira porque os acessos ficam distantes.
“Tenho várias propriedades na margem direita, umas nas proximidades umas das outras, mesmo assim tenho que percorrer vários quilómetros para lá chegar, dentro da mesma freguesia. Isto é inadmissível. Se olharmos para as propriedades mais distantes, começam a ficar abandonadas e o perigo de incêndio é uma preocupação constante, tal como o que aconteceu em 2013”, vincou José Rachado.
Para fazer eco destas preocupações, foi legalmente constituída no início de de janeiro de 2023 a Associação de Proprietários do Baixo e Lagos do Sabor que conseguiu congregar em volta do seu objetivo mais de centena de agricultores e investidores dos quatro concelhos do Baixo Sabor, tendo atualmente implantação nos quatro concelho deste território, concretamente em Torre de Moncorvo, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros e Alfândega da Fé, no distrito de Bragança.
Por seu lado, Olga Guimarães, também parietária agrícola neste território do Nordeste Transmontano, indicou que vai começar em outubro a plantação de 23 hectares de amendoal na margem direita do rio Sabor, mas há receio no investimento por falta de acessos.
“Estamos com medo de investir, porque não temos acessos condignos ao perímetro da albufeira aqui no Felgar. Só conseguimos chegar às nossas propriedades com recurso a viaturas 4×4. Se não for criada uma marginal no perímetro da albufeira, não conseguimos passar nem retirar as nossas colheitas”, indicou.
Outras das ideias apontadas passa pela colocação de uma embarcação que una a duas margens do rio Sabor e que faça o transporte de máquinas agrícolas e da produção das colheitas como o olival e amendoal, defendeu Rui Pombo, outro dos produtores afetados.
Já o agricultor Jorge Encarnação defende que a EDP, aquando da construção da barragem do Baixo Sabor, deveria ter acautelado a criação de acessos que proporcionassem ligações condignas dentro do perímetro da albufeira do Baixo Sabor.
As preocupações já foram transmitidas ao Governo, Assembleia da República, Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), associação de Municípios do Baixo Sabor, Parlamento Europeu, entre outras entidades.
O eurodeputado Nuno Melo fez recentemente uma visita ao Baixo Sabor e levou ao conhecimento da Comissão Europeia o projeto da barragem e os constrangimentos que diariamente recaem sobre os agricultores da região.
“Diariamente, por falta de acessos a terras que lhes pertencem e foram divididas pelas águas da barragem, os agricultores do Sabor são obrigados a percorrer cerca de 100 quilómetros para poderem exercer a sua atividade agrícola, o que se tornou uma prática insustentável e absurdamente onerosa”, descreveu o eurodeputado.
Nuno Melo sublinha que o Baixo Sabor está inserido numa região de baixa densidade com enormes problemas estruturais, que a construção da barragem veio agravar, pelo que questionou a Comissão Europeia sobre a eventual atribuição de fundos para um problema que não foi acautelado pelo Governo Português desde o início do projeto de construção desta barragem.
A albufeira do Baixo Sabor tem cerca de 70 quilómetros navegáveis, abrangendo quatro concelhos – Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros – nos distrito de Bragança e que abrange uma área de 2.300 quilómetros quadrados com uma capacidade de armazenamento de 1.095 metros cúbicos de água.
A albufeira da barragem do Baixo Sabor começou a encher em 2013 e foi inaugurada em 2016.
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