Para manter os atuais benefícios, as próximas gerações vão ter de pagar até mais 25% de impostos nos próximos 70 anos. O aumento da pobreza entre crianças e jovens poderá acentuar o caráter estrutural da fenómeno no país.
As conclusões são do índice de justiça intergeracional do Instituto de Políticas Públicas, que será apresentado esta quarta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
>Ao contrário do que acontecia até ao início do século, nos últimos anos assistiu-se a um significativo acentuar da pobreza de crianças e jovens – que apresentam, agora, maiores dificuldades do que a população idosa.
Os autores do estudo do Instituto de Políticas Públicas concluem que, se não for contrariada, esta mudança no perfil etário da população pobre poderá agravar o caráter estrutural da pobreza em Portugal e influenciar as oportunidades e a qualidade de vida que as crianças de hoje terão no futuro.
Num outro plano, este Índice de Justiça Intergeracional refere que, numa sociedade envelhecida, para manter os atuais benefícios, as próximas gerações poderão ter de pagar mais 25% de impostos, num horizonte de 70 anos. Dado avançado pelo Jornal de Negócios, que explica que o Estado vai ter de arrecadar mais receitas para garantir bens e serviços públicos que hoje estão assegurados para a população.
O estudo em causa não aponta soluções, mas pede que se estude o fenómeno para se perceberem as causas do problema e se enfrente este potencial desiquíbrio, que irá atingir as gerações vindouras.
Pobreza entre crianças e jovens pode acentuar pobreza estrutural
O aumento da pobreza entre as crianças e os jovens poderá “acentuar o caráter estrutural da pobreza” em Portugal e marcar vincadamente” as oportunidades e a qualidade de vida que terão, segundo o estudo.
“Enquanto até ao início do presente século a população mais idosa era aquela que se confrontava com uma maior exposição à situação de pobreza, nos últimos anos verificou-se um forte acentuar da pobreza das crianças e dos jovens, com índices de pobreza superiores aos da população idosa e mesmo do conjunto da população”, lê-se no relatório de “Um Índice de Justiça Intergeracional para Portugal”, coordenado pelo professor catedrático Paulo Trigo Pereira.
Os investigadores observam que esta mutação no perfil etário da população pobre, traduzido por uma maior incidência da pobreza nas crianças poderá, se não for contrariada, “acentuar o caráter estrutural da pobreza em Portugal e marcar de forma vincada as oportunidades e a qualidade de vida que as crianças de hoje terão ao longo da sua vida”.
“Em Portugal, bem como na generalidade dos países da União Europeia, assistiu-se nas últimas décadas a uma transformação significativa do perfil da população pobre”, observam os autores do trabalho, que é hoje apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian.
No documento, assinala-se que em Portugal houve recessões em 1993, 2003, 2009, 2011-2013 e 2020, com reflexos nas taxas de desemprego, rendimentos e emigração.
No que toca à precariedade laboral, na década de 2010 houve uma tendência de aumento significativo da proporção de jovens com contratos a termo (35% em 2010), atingindo mais de metade dos contratos nos anos anteriores à pandemia (2016 a 2019). “Se compararmos com os jovens europeus, vemos que não só na Europa esta proporção é muito menor (ronda os 20%) como não aumentou ao longo da mesma década”, lê-se no documento.
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