//PSI20. Menos lucros mas o mesmo prémio aos acionistas

PSI20. Menos lucros mas o mesmo prémio aos acionistas

Já abriu a época de caça aos dividendos na bolsa portuguesa. Apesar de os lucros das cotadas nacionais terem encolhido, o cheque a distribuir em dividendos vai manter-se este ano. Há empresas, como a EDP e a NOS, que vão mesmo distribuir mais dinheiro pelos acionistas do que aquele que conseguiram gerar de resultados.

As 17 cotadas do PSI20 que vão pagar dividendos contam distribuir 2,38 mil milhões pelos acionistas, valor semelhante ao do ano anterior. A fatia de leão chegará aos bolsos dos investidores já nas próximas semanas. A Navigator dá o pontapé de saída na época de pagamento de dividendos já na quarta-feira.

As maiores empresas da bolsa planeiam, em termos agregados, distribuir 68% do lucro obtido no ano passado pelos acionistas, segundo cálculos do Dinheiro Vivo baseados nas contas das empresas. A proporção do lucro reservada para remunerar os investidores aumentou. Em 2018 tinham reservado 66% dos resultados.

Esse aumento é explicado pelo menor lucro obtido pelas empresas do PSI20. Reportaram um resultado acumulado de 3,48 mil milhões em 2018, menos 100 milhões que em 2017.

A generosidade das empresas portuguesas é uma forma de não desiludir e de tentar segurar e seduzir os investidores. A Allianz Global Investors (AGI) explica, numa nota de investimento, que o “mercado fica com uma opinião muito negativa quando há um corte ou eliminação de dividendos, já que isso levanta dúvidas sobre a sustentabilidade futura da empresa”.

Dividendos acima do lucro

Quando os lucros baixam, as administrações das empresas tentam segurar o dividendo para evitar serem olhadas de soslaio pelo mercado e pelos acionistas, que escolhem e avaliam os gestores. “As empresas cotadas esforçam-se para assegurar dividendos consistentes”, diz a AGI.

Na bolsa portuguesa houve casos de empresas que sofreram uma queda significativa do lucro mas, ainda assim, mantiveram o dividendo. A EDP é um dos grandes exemplos. O lucro da elétrica reduziu-se para metade devido, em parte, aos 258 milhões que teve de meter de lado caso tenha de devolver a alegada sobrecompensação de que beneficiou nos custos de manutenção do equilíbrio contratual (CMEC).

Dos mais de mil milhões que costumava lucrar, a EDP passou para um resultado de 519 milhões. Apesar dessa quebra, decidiu manter a remuneração de 695 milhões ao acionistas, podendo ter de recorrer a reservas ou a dívida para premiar os seus investidores.

Com esse valor, a elétrica continua a passar o maior cheque de dividendos da bolsa portuguesa. Isto apesar de ter perdido o estatuto de empresa com o maior lucro para a Galp. A petrolífera lucrou 707 milhões em 2018, mais 23% que no ano anterior. E vai distribuir 525 milhões pelos acionistas.

A EDP não é caso único no PSI20. A NOS também vai dar aos acionistas mais do que lucrou. A operadora liderada por Miguel Almeida propõe distribuir 180 milhões em dividendos, mais que os 141 milhões que obteve de resultado líquido. Já a REN destina a quase totalidade dos 115 milhões que teve de lucro para remunerar os acionistas.

A EDP, a NOS e a REN são as empresas cotadas na bolsa que, face aos lucros gerados, fazem um maior esforço para premiar os seus investidores. Mas há mais empresas com níveis de generosidade acima da média. Navigator, CTT, Altri, Mota-Engil e Galp destinam mais de 74% do lucro para pagar dividendos. A Jerónimo Martins vai entregar metade do lucro depois de no ano passado ter reservado todo o resultado conseguido para remunerar acionistas.

Quanto dar aos acionistas?

O valor ideal do lucro a distribuir aos acionistas sob a forma de dividendo varia consoante o setor de atividade, a empresa e a análise dos especialistas. Há gestoras de ativos, como a britânica Schroders, a defender que, em termos gerais, as empresas não devem destinar mais de metade do lucro para dividendos.

O argumento é que desta forma podem ganhar músculo financeiro e, assim, aproveitar oportunidades de negócio e a reforçarem investimento para garantir que continuam a crescer. Mas a perspetiva não é unânime.

A Allianz Global Investors considera que “o compromisso de distribuições elevadas e de manterem esses pagamentos de forma consistente tende a resultar em empresas mais disciplinadas”. Os especialistas da gestora de ativos argumentam que esse tipo de empresas “precisa de orçamentar os recursos financeiros de forma cuidadosa e de os usar de maneira eficiente”.

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