“Quase um terço dos diretores financeiros (CFO ou chief financial officers) inquiridos em Portugal (29%) esperam poder ter acesso às medidas implementadas para entrada em lay-off [redução forçada de horários aos empregados ou suspensão temporária de contrato laboral]”, diz ao Dinheiro Vivo (DV) António Rodrigues, sócio da PwC e coordenador de um primeiro estudo desta consultora sobre as intenções dos gestores de topo das “principais empresas” em abril.
O Covid-19 CFO Pulse Survey foi conduzido na semana de 23 de março, tendo sido obtidas 91 respostas em território nacional. O trabalho terá uma periodicidade quinzenal e os próximos resultados serão divulgados após 14 de abril, diz a PwC.
Segundo António Rodrigues, a preferência pelo lay-off pode mudar, pois a conjuntura é extremamente volátil e incerta. “Temos presente que esta realidade, à data de hoje, já poderá ser diferente e poderá vir a ser evidenciada na nossa análise da próxima quinzena”.
Com base neste estudo, os resultados obtidos a partir das questões feitas aos CFO em Portugal “mostram que ao longo do próximo mês a covid-19 deverá afetar os negócios através de alterações da dinâmica da força de trabalho”.
Cerca de metade dos gestores financeiros portugueses referiram a “perda de produtividade, devido à falta de capacidade para executar tarefas em modo remoto, como o principal impacto a curto prazo”. Além disso, “42% dos CFO portugueses preveem uma mudança ou maior rotatividade da força de trabalho devido à quebra acentuada da procura”.
Questionado sobre se estes gestores de topo também estão a considerar despedir ou não renovar contratos de trabalho, António Rodrigues diz que “essa questão concreta não foi colocada”.
Outra forma de conter custos seria ativar cláusulas contratuais que permitam reduzir a remuneração dos empregados. Os CFO que admitiram essa possibilidade contam com ela nos seus planos de adaptação? Há alguma percentagem de resposta? A resposta do coordenador foi “não”. Eventualmente, a informação sobre salários pode emergir nos próximos inquéritos.
Mas o estudo revela outras dimensões interessantes, também. Por exemplo, “uma pequena fração dos CFO (3%) não espera quaisquer impactos na sua atividade, em 2020”. O DV quis saber se este grupo é de algum setor em concreto ou é heterogéneo. O que leva estes dirigentes a não esperarem qualquer impacto na atividade? Rodrigues considera que “todos os setores serão afetados, embora com diferente severidade e duração”.
“Sabemos que os vários serviços estão a ser os mais afetados uma vez que é muito difícil efetuar teletrabalho em setores como por exemplo a banca, o turismo ou os transportes de passageiros.” Estão a ser bastante afetados, porque se verifica “uma redução abrupta do consumo”.
Além disso, avisa o consultor, “esta queda da procura vem fazer diferir ou cancelar investimentos e pôr em causa a liquidez das empresas” um pouco por todo o espetro analisado.
A PwC conclui neste primeiro estudo que “as principais medidas já tomadas são de contenção de custos (56% em Portugal e 72% nos vários territórios)” e que “cerca de metade dos CFO estão a considerar diferir ou cancelar investimentos já planeados e 41% já fizeram ajustamentos às suas orientações iniciais”.
Diz António Rodrigues que “haverá setores menos afetados mas, nesta fase, é prematuro identificá-los. Nesta edição do estudo, não foram identificados setores”.
Em termos de sentimento geral, a PwC diz que “para cerca de metade dos CFO em Portugal (48%), o regresso à normalidade deverá demorar entre um e três meses”. A percentagem de CFO que acreditam “num regresso à normalidade daqui a mais de três meses é de 26%, enquanto uma igual fatia (26%) ainda acha viável que possa demorar apenas um mês, diz o coordenador. Portanto, para estes últimos, em maio tudo estaria regularizado.
O estudo quinzenal será conduzido até final de maio. “Nesta primeira edição foram inquiridos mais de 200 CFO, em vários territórios, incluindo Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Filipinas, Holanda, Portugal, Qatar, Suíça e Tailândia.”
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