//Quanto custa ter energia 100% verde em casa? Ser ecológico sai mais caro

Quanto custa ter energia 100% verde em casa? Ser ecológico sai mais caro

A energia verde está na moda. Em Portugal já há três empresas que garantem que a eletricidade que comercializam no mercado liberalizado é de origem 100% renovável: Goldenergy, Energia Simples e Iberdrola. A estas, junta-se a EDP, com alguns tarifários especiais para este segmento de mercado.

A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) não tem contabilizadas as famílias e as empresas que já optaram por energia verde, mas o Dinheiro Vivo apurou que este número ascende a mais de meio milhão: a Goldenergy dá conta de 250 mil clientes abastecidos com eletricidade renovável, a Iberdrola fala em mais de 200 mil, a Energia Simples tem 15 mil clientes e compra energia renovável suficiente para 30 mil casas, a EDP garante que “no segmento empresarial e residencial a atual carteira totaliza um consumo anual de 150 GWh”.

Quanto a preços, por enquanto a energia verde é sempre mais cara do que as ofertas mais baratas do mercado, de acordo com o simulador da ERSE. Para um casal sem filhos, por exemplo, o tarifário mais baixo é o da Galp, com um fatura anual de 460 euros, enquanto a primeira oferta – da Goldenergy – para a energia verde neste tipo de cliente não fica por menos de 465,74 euros, quase mais seis euros por ano. O mesmo acontece com um casal que tenha dois filhos: para esta família, a maior poupança na luz também surge com a Galp (1070,53 euros por ano), mas se optarem pela via mais ecológica a Goldenergy cobra 1091,12 euros, mais 20 euros em 12 meses. O cenário repete-se nas famílias numerosas (casal com quatro filhos), diz a ERSE. Neste caso, a Galp também é o comercializador mais barato, com uma fatura anual de 2262 euros, menos 105 euros do que os preços da energia verde cobrados pela Goldenergy (2367,60 euros).

No entanto, por comparação com as tarifas do mercado regulado, as ofertas de energia verde “encontram-se maioritariamente com preços mais competitivos”. “Para um consumidor doméstico médio existem atualmente 26 ofertas comerciais de energia 100% renovável, o que corresponde a cerca de 16% do total de 164 ofertas”, refere a ERSE.

A diferença de preços é justificada pelas empresas com a necessidade de aquisição de garantias de origem para garantir que a eletricidade é mesmo de origem 100% renovável.

“Os certificados verdes têm um custo associado à sua aquisição e processamento, o que se reflete naturalmente no tarifário”, explica fonte oficial da EDP, que fornece energia verde para potências acima dos 6,9 kVA, no mercado doméstico, e também a empresas como a Coca-Cola, McDonald’s, Siemens, Tesla, Zurich, BNP Paribas, DHL, entre outras. Nuno Moreira, presidente da Goldenergy, confirma que “a certificação de origem tem custos”. “No entanto, seria um abuso cobrar aos clientes um preço mais elevado pela eletricidade renovável. Quando mais de 60% da fatura de eletricidade corresponde a custos com o sistema energético nacional, impostos e taxas, seria uma ato de malvadez.”

Já Manuel Azevedo, cofundador da Energia Simples, garante que nem todas as estratégias de aquisição de energia renovável implicam um aumento de preço: “Os contratos bilaterais nas renováveis estiveram neste ano abaixo do preço médio das tecnologias tradicionais”, garante. Carla Costa, diretora comercial da Iberdrola Portugal, também identifica um “custo adicional de energia verde” que será “maior à medida que os cidadãos europeus aumentem o desejo por produtos verdes”.

Energia com “diploma”

Preços à parte, resta a dúvida: como saber se a energia que temos em casa é realmente verde, tendo em conta que não existe em Portugal um sistema de certificação (desde 2015) e que a eletricidade injetada na rede circula “toda misturada”? Para 2019, o governo anunciou já a criação de um sistema de “certificados de origem que garantem que a produção de energia foi feita a partir de fontes renováveis”. A adesão a estes certificados de origem será voluntária, mas não isenta de custos para os produtores.

Por enquanto, a solução passa por comprar certificados de garantia de origem de outros países: é o que acontece com a EDP e a Iberdrola, por exemplo, e também com a Goldenergy, que recorre à Aenor, uma entidade espanhola. A Energia Simples opta por alocar a energia renovável, proveniente de contratos bilaterais diretamente com os produtores, à rotulagem energética dos clientes domésticos.

Na prática, diz a ERSE, os comercializadores com ofertas comerciais de energia 100% verde adquirem a eletricidade que fornecem aos clientes através de contratos com produtores renováveis (mini-hídrica, eólica, solar), podendo depois apresentar os documentos que garantem essas mesmas fontes de energia.

No entanto, “a eletricidade que circula na rede é um produto indiferenciado, pois o trânsito de energia dos produtores para os consumidores é efetuado de forma conjunta, sem diferenciação de tecnologia (fontes de renováveis e não renováveis)”, explica o regulador, ressalvando que “a certificação de origem e a apresentação dos respetivos certificados verdes garante ao consumidor que a eletricidade consumida foi injetada na rede por produtores que utilizaram fontes de energia renovável”.

Efetivamente, diz a EDP, “os eletrões circulam nas redes sem identificação da central que os produziu, razão pela qual o mix energético utilizado para a rotulagem de energia elétrica não é o mix físico, mas sim o mix comercial”, tal como definido pela ERSE. A Iberdrola, por exemplo, emite “diplomas” que certificam que a energia consumida lá em casa é, de facto, verde.

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