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Com a inflação a disparar, os mercados financeiros antecipam que o Banco Central Europeu suba juros em 75 pontos base até final do ano, observa Filipe Garcia, economista da IMF. E isso tem tido reflexo no comportamento das Euribor. Seis anos depois de ter entrado em terreno negativo, a meio de abril o indexante a 12 meses subiu para valores positivos, situando-se agora em 0,118%. Olhando para os valores futuros previstos nos mercados financeiros, “espera-se que a Euribor a 12 meses esteja a 0,60% no início de agosto, a 1,06% no início de novembro e a 1,62% daqui a um ano”, detalhou o especialista.
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A Euribor a 12 meses é usada em 24,5% dos contratos com taxa variável e abrange 292 mil famílias, segundo contas do DN/Dinheiro Vivo, tendo como base o último Relatório de Acompanhamento dos Mercados Bancários de Retalho, publicado pelo Banco de Portugal com dados referentes a 2020. Esses empréstimos poderão ver, assim, o indexante subir para mais de 1% já em novembro.
No caso da Euribor a três e a seis meses – que servem, respetivamente, como indexante a 382 mil e 495 mil contratos de crédito à habitação – situam-se ainda em valores negativos: -0,429% e -0,226%. Mas as previsões nos mercados financeiros são de um regresso a valores positivos já em julho, no prazo a seis meses, e em agosto na taxa a três meses. No entanto, apenas deverão passar a fasquia de 1% no início do próximo ano.
Estas subidas indicam que os consumidores com crédito a taxa variável terão de se preparar para maiores despesas quando os contratos forem alvo de revisão. Quanto poderá subir a prestação? Considerando um contrato de 100 mil euros a 30 anos e com uma taxa de 1%, se tiver um aumento para 2% representa passar de uma prestação de 322 para 370 euros, um aumento de 48 euros por mês ou 15%, de acordo com as contas da Reorganiza, consultora especializada nas áreas de crédito. Já segundo a simulação do Doutor Finanças, que tem em conta um empréstimo de 100 mil euros a 25 anos e em que o spread (margem de lucro do banco) seja de 1,5%, se a taxa subir de cerca -0,53% para 1%, a prestação deverá aumentar de 375 para 448 euros, um acréscimo de cerca de 70 euros por mês.
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Subidas graduais?
Tendo em conta que em Portugal 82,3% dos contratos de crédito à habitação são com taxa variável, a subida acelerada da Euribor nos vários prazos vai começar a ter impacto nos orçamentos familiares em breve, os quais já estão a ser pressionados pelo aumento de bens essenciais, como do preço dos alimentos e da energia. Filipe Garcia avisa que os orçamentos familiares serão postos à prova. “Foram muitos anos de juros muitíssimos baixos, que criaram uma certa habituação a que a prestação da casa não fosse um problema”. Por outro lado, como recorda o economista, “o aumento do custo de vida já está bem visível, mas o nível de rendimentos ainda está ligado à economia de 2021, senão antes, e isso certamente irá causar problemas sérios a muitas famílias”.
No entanto, como a Associação Portuguesa de Bancos (APB) tem vindo a sublinhar, na avaliação de solvabilidade que os bancos fazem dos clientes, já calculam a “capacidade do cliente bancário continuar a cumprir com as obrigações associadas ao contrato de crédito, caso se verifique um agravamento na taxa de juro, que pode ir até os três pontos percentuais”.
Uma situação também destacada pelo sócio-fundador da Reorganiza que explica ainda que o “problema do incumprimento de contratos de crédito não é exclusi- vamente justificado pela subida das taxas de juro”. João Morais Barbosa revelou que cada vez mais pessoas recorrem à Reorganiza com prestações em atraso, maioritariamente provocadas por excesso de créditos de curto prazo ou pela redução dos rendimentos líquidos. “Ainda não sentimos dificuldades provocadas pelo aumento das taxas de juro, aumentos que se traduzirão de forma gradual nos orçamentos familiares, o que dará tempo para as famílias se adaptarem à nova realidade”, defendeu o administrador da consultora especializada nas áreas de crédito.
Sara Antunes reconhece que “estamos perante um cenário que merece a atenção de todos”. Mas a diretora de comunicação e conteúdos do Doutor Finanças também realça que as subidas deverão ser graduais. Ainda assim, avisa que “as famílias que estão com orçamentos muito apertados, devem atuar o quanto antes, caso contrário a probabilidade de terem problemas é grande”.
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