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As vendas do retalho alimentar estão a estabilizar. É verdade que os dados do setor mostram um crescimento acumulado, desde janeiro a outubro, de 12,3%, mas, na quadrissemana 41 a 44, correspondente ao mês de outubro, o aumento foi já só de 7,6%, longe dos valores a dois dígitos que tem mantido desde outubro de 2022. No total, os portugueses deixaram 11 314 milhões de euros nas suas compras para o lar, mais 1289 milhões do que no ano passado. No entanto, lembra a Centromarca, as compras das famílias estão a cair, em volume, mais até do que durante o período da troika.
“A diminuição da inflação faz com que se comece a notar cada vez mais o efeito da quebra em volume que estava completamente disfarçada. Com o aumento dos preços, tudo parecia crescer, quando, na realidade, crescia o dinheiro [pago], mas não o que se vendia. Agora, diria que, em especial até março do ano que vem, vamos começar a sentir, cada vez mais, dois efeitos distintos: é que as pessoas estão a comprar menos, e mesmo o que compram é de uma gama de valor mais baixa”, diz o diretor-geral da Centromarca.
Os dados são da Nielsen e referem-se às vendas, em valor, dos super e hipermercados, mas também das mercearias e pequeno comércio, informação que Pedro Pimentel complementa com números da Kantar, suportados nas compras realizadas por um painel de famílias, e que registam, até setembro, uma diminuição acumulada de 9%, em volume, desde o início do ano. “É uma quebra brutal. Compara com números do tempo da troika e que, entre 2012 e 2014, tivemos uma quebra de 5%, que foi muito mais visível porque não tínhamos então a inflação para disfarçar os números”, explica. Mas há outros fatores a ajudar a “disfarçar” esta situação, como o crescimento do turismo, que é hoje “muito mais forte” do que existia em 2014, “o que faz com que as vendas, as saídas de caixa dos supermercados – seja para os restaurantes e cafés ou para os próprios turistas -, disfarcem este número”.
Para que melhor se entenda a dimensão desta quebra, Pedro Pimentel lembra que, normalmente, a variação de volumes comprados pelas famílias varia entre 1 a 1,5%, para cima ou para baixo. “Uma quebra de 9% num espaço muito curto significa que não só as pessoas tiveram que tomar medidas um bocadinho à força, como essas medidas foram tomadas não apenas na quantidade do que compram, mas também na escolha de produtos de preço mais baixo”, refere.
No entanto, o responsável acredita que, eventualmente, a queda possa já ter chegado ao fim. “Não há ainda nenhuma recuperação de consumo, há claramente aqui um sinal de que a quebra provavelmente terá chegado ao seu ponto mais baixo e agora estaremos numa fase de alguma estabilização para depois, quando as pessoas sentirem que o seu poder económico e de compra recuperou alguma coisa, possam também recuperar a forma como fazem as suas compras”, defende. Admite, no entanto, que tudo depende, como sempre nestas matérias, da evolução da conjuntura económica nacional e internacional, lembrando que basta um foco externo que faça disparar as cotações do petróleo para complicar todas estas contas.
Voltando aos números da Nielsen, dos 11 314 milhões de euros deixados no retalho alimentar, 40,4% foram para artigos de mercearia, 17,6% para laticínios e 7,8% para congelados. Comparando com os primeiros 10 meses de 2022, os gastos em mercearia cresceram 13%, aumentando ainda 16% e 15%, respetivamente, nos laticínios e nos congelados.
Os produtos das marcas da distribuição, as chamadas “marcas brancas”, pesam, este ano, 44,3% do valor total das vendas do setor, sendo que, há um ano, estavam nos 40,1%. E é na alimentação que se vê esse o quanto as famílias estão a preferir as marcas de distribuição, mais baratas, do que as de fabricantes. A quota, em valor, dos produtos de mercearia em marca branca subiu de 47,5% para 51,1%, passando de 41,5% para 46,4% nos laticínios e de 56,6% para 62,1% nos congelados.
Num mercado a crescer 12,3%, para os tais 11 314 milhões de euros, as marcas de fabricantes estão a crescer 4,5% enquanto as da distribuição disparam 24% face a 2022.
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