
Vamos ter mesmo de nos endividar?
A narrativa é quase como ver um copo meio cheio: pagamos mais impostos e há sacríficos inevitáveis, mas áreas como a saúde e a educação permanecem intocáveis. Ainda assim, a pergunta para queijinho não desaparece: isto chega para suportar o esforço de uma guerra? Para Pita Barros, a resposta é óbvia: “não” e uns vão sofrer mais do que outros.
“O mais simples para qualquer governo será cortar prestações que beneficiam pessoas com menos representação no sistema político, a começar por imigrantes, que não votam. Esse seria o incentivo mais racional de um governo que quer ganhar eleições”, antevê, ressalvando que a presença de migrantes e refugiados (nomeadamente ucranianos) pode vir a ser um fator de tensão se a Europa entrar em guerra: “Tende a haver uma culpabilização do estrangeiro que chega, da pessoa que é estranha”, alerta.
Fora isto, e numa altura em que os estudos académicos ainda são parcos e é difícil quantificar o possível esforço de ter uma Europa em guerra, há passos que Pita Barros acredita que podem ser dados desde já, nomeadamente “reformar o Estado para garantir mais eficiência” e aproveitar os pacotes de apoio da União Europeia.
Em fevereiro deste ano, a Comissão Europeia apresentou o plano Prontidão 2030, para reforçar as capacidades de defesa dos Estados-membros nos próximos cinco anos e que tem o valor de 800 mil milhões de euros, divididos em duas parcelas.
Vai-se àqueles onde é mais fácil retirar algum dinheiro extra – que seriam as pessoas, com o IVA e o IRS
A primeira assenta num envelope de 150 mil milhões de euros em empréstimos concedidos por Bruxelas aos 27, para adquirirem equipamentos militares. A outra consiste num aliviar das rígidas regras orçamentais: os estados-membros não têm de cumprir as normas relacionadas com o défice e a dívida pública, desde que isso signifique um investimento em defesa – uma medida que, segundo as contas europeias, deve custar 600 mil milhões de euros.
Na perspetiva do também professor no ISEG, estas são todas formas diferentes da mesma solução: a contração de dívida. É a hipótese mais rápida e segura para arranjar fundos sem minar o Estado Social, mas também traz água no bico: “Qualquer contração de dívida significa que são as gerações futuras que vão pagá-la”, avisa Pita Barros.
Mais vale agora do que depois
Faz parte da natureza humana: ninguém gosta de saber que, daqui a um par de anos, vai ter um problema em mãos para resolver, ainda para mais quando envolve dinheiro e dívidas. Perante o presumível descontentamento das populações sobre o aumento do investimento em defesa (que já se começa a delinear), a bola fica do lado dos políticos: têm de explicar por que razões este sacrifício é um “mal menor”.
“Se não houver investimentos em defesa, pode haver tentação de qualquer outro país próximo da Rússia ser alvo de um ataque futuro. A ameaça, especialmente nos países de leste, os bálticos, etc., é prejudicial para a economia. Quando há incerteza, há uma retração do investimento das empresas e isso é prejudicial aos países”, esclarece Henrique Pita Barros.
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