Abrir os restaurantes com apenas metade da lotação não é algo que preocupe Vítor Sobral. “Adorava ter essa preocupação. Há alguém que acredite que isto vai estar cheio? Haver fila à porta era bom, mas não acredito”, diz o chef dono do grupo Quina. Os restaurantes só vão poder reabrir a partir de 18 de maio, estando fora do lote de espaços comerciais que a partir de segunda-feira abrem portas ao público, embora com limitações. “Vamos ter o comércio aberto, mas para isso vamos ter de usar máscara”, afirmou António Costa, sublinhando que há que assegurar a segurança da saúde pública.
Critério que, de resto, deveria ter norteado a decisão para a reabertura das lojas de retalho, defende a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) “O critério devia ser abertura em segurança e não a dimensão da loja”, diz Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da associação que representa cadeias como a Ikea, Worten, Fnac, Forever ou a C&A.
Na segunda-feira só lojas de rua até 200 metros quadrados (m2) poderão reabrir, seguindo-se a 18 de maio as lojas (ou partes de loja) até 400 m2, estando prevista a reabertura de lojas com maior dimensão ou em centros comerciais só a partir de 1 de junho.
“O checklist de boas práticas do retalho alimentar devia ser transposto para o retalho especializado”, considera o diretor-geral da APED. “Esperamos que nos próximos 15 dias, que as boas práticas consigam provar, que possamos abrir mais espaços e que se possam abrir nos centros comerciais”. Para a semana a APED vai reunir com a Associação Portuguesa de Centros Comerciais para definir um manual de boas práticas, à semelhança do que foi feito para o retalho alimentar, e aguardam reunião com DGS.
Na segunda-feira muito poucas lojas de retalho especializado da APED poderão reabrir as suas lojas. Das 2200 lojas, cerca de 1070 são até 200 m2. “Cerca de 70% não vão poder reabrir na segunda-feira pois estão em centros comerciais ou galerias comerciais”, diz. “Na segunda fase podem abrir lojas até 400 metros, mas se estiveram em centros comerciais ou galerias comerciais não vão poder reabrir, mas os cabeleireiros ou stands automóveis nesses espaços podem”, critica. Facto que, o responsável da APED considera “relativamente discriminatório”.
Até lá, o retalho ‘vive’ das vendas online. Mas esse é “completamente residual, não sustenta uma atividade”, garante Gonçalo Lobo Xavier. O ano passado representava 8% das vendas do retalho especializado. “Agora tem crescido até 6 vezes mais, mas é insuficiente para manter os negócios.” Dos 163 associados da APED, cerca de 100 são do retalho especializado. “Tem sido um processo muito doloroso, está quase tudo em lay-off”.
Maior otimismo quanto ao retalho alimentar. Os super e os hipermercados nunca fecharam portas, apesar da redução de clientes por metro quadrado. Agora em vez de quatro clientes por cada 100 m2, os super poderão receber cinco, permitindo “que haja outro tipo de fluidez”, resultado, acredita, dos “investimentos para tornar as lojas mais eficientes, aumentando a rentabilidade dos negócios mantendo os elevados padrões de segurança”, como instalação de acrílicos, gel desinfetante, equipamento de proteção para os colaboradores.
Estes investimentos, juntamente, com os prémios pagos em março, fez com que nesse mês os custos das cadeias tenham disparado 15%. “Feitos os investimentos estamos a ter um aumento de 2 a 3% mês dos custos por causa da covid-19 (layout, sinalética).”
“Cada dia que passa é mais um dia que prejudica grandemente estes negócios e a manutenção de postos de trabalho e o relançamento da economia que não pode esperar mais.”
A 18 de maio a McDonald’s tem tudo pronto para abrir as salas. “A McDonald’s irá reabrir os seus restaurantes de acordo com as indicações do Governo e seguindo todas as recomendações da Direção-Geral da Saúde. Atualmente, enquanto nos mantemos focados nos serviços McDrive e McDelivery, para garantir a máxima segurança dos nossos clientes e colaboradores, temos também aproveitado para preparar, com o máximo cuidado, a reabertura das nossas salas assim que seja possível”, afiança fonte oficial da cadeia de restauração. “Temos vindo a reforçar muitos dos processos de higiene e segurança alimentar que sempre aplicámos nos nossos restaurantes, bem como a introduzir algumas medidas adicionais”.
Vítor Sobral não tem dúvidas. “É mais seguro ir a um restaurante do que a um supermercado, onde as pessoas circulam com máscara, os empregados usam todos máscara, enquanto nos super nem sempre é assim e as pessoas tocam em tudo”, diz o chef dono dos grupo Quina.
O Guia de Boas Práticas – Reabertura dos Estabelecimentos de Restauração e/ou Bebidas, no qual se promove um conjunto de boas práticas a aplicar-se à restauração, já foi partilhado com o Governo que está a fechar com a AHRESP o tema, mas o uso de máscara e a redução da lotação para 50% e funcionamento até às 23h são já restrições conhecidas nesta fase para os restaurantes, cafés e pastelarias.
“A minha ideia é reabrir”, admite o chef que, com a declaração do Estado de Emergência, viu-se brigado a fechar os espaços de sala dos restaurantes do grupo Quina, que detém a Tasca da Esquina, a Peixaria da Esquina, o Talho da Esquina, o corner no Time Out Market, três padarias (Padaria da Esquina de Campo de Ourique, de Alvalade e do Restelo) e a Oficina da Esquina, a fábrica onde se fazem os pães e bolos da Padaria. Todos menos o espaço no Time Out Market, que para espaços inseridos e grandes aglomerados de pessoas nem há ainda data para uma reabertura.
Neste momento o negócio alimenta-se do take away e das entregas ao domicílio. “O negócio está entre 10 a 15% das receitas de quando os restaurantes estavam abertos. Acredito que com esta abertura possamos ir aos 25 a 30%, se fizermos 50% será muito bom”. Dos 120 colaboradores, apenas 14 estão a trabalhar, com esta abertura não muitos mais irão sair da situação de lay-off.
“O custo desta pandemia a nível financeiro é assustador, mas mais do que as receitas que já perdemos assusta-me as que vamos perder. O que me assusta é o que vamos deixar de ganhar nos próximos meses”, diz.
A melhor época para o setor da restauração é entre março e outubro. “Este ano julgo que será janeiro e fevereiro, por norma, são sempre os piores”, diz. Medidas como as linhas de crédito, as moratórias sobre as rendas ajudam sempre, “mas em outubro temos de fazer face a tudo isso, e as receitas para fazer face? A grande luta vai ser a partir de outubro”. E “se não quiserem que aumente o desemprego vai ter de continuar. Temos de voltar a debater e a prorrogar a medida”.
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