//Rebeca Grynspan: Portugal deve “apostar na capacidade de fazer pontes” 

Rebeca Grynspan: Portugal deve “apostar na capacidade de fazer pontes” 

“Criatividade e inovação são fatores-chave” num contexto económico atual marcado pelas “oportunidades que traz a mudança digital”. Quem o diz é a secretária-geral ibero-americana, que nesta semana participou no Growth Forum, iniciativa da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa que levou ao palco da Fundação Champalimaud o debate sobre como Portugal pode crescer com mais ambição.

Em entrevista ao Dinheiro Vivo, a responsável destacou a “capacidade única de Portugal para construir pontes comerciais pelo mundo”, uma mais-valia “com um valor incrível no mundo moderno”, sobretudo quando falamos da proximidade entre o país e África, o continente que mais crescimento populacional vai ter neste século. “Em 2100, serão 260 milhões de africanos de língua portuguesa, com particular relevo em Angola e Moçambique”, sublinha Rebeca Grynspan, justificando assim que Portugal se encontra numa posição única para criar pontes quer entre aquele continente e a Europa quer entre África e a América Latina, sendo um ator dinâmico nas relações deste triângulo atlântico.

“Procurar novas fontes de crescimento e investir nelas, em novos mercados, pessoas e ideias” é a receita que deixa para um crescimento económico mais ambicioso, concretizando “nas energias renováveis, no turismo sustentável, nas novas tecnologias e na expansão do valor dos serviços” as apostas que devem ser feitas já, antecipando o “boom de produtividade”.

Leia aqui a entrevista completa a Rebeca Grynspan

Rebeca Grynspan, secretária-geral Ibero-Americana

Rebeca Grynspan, secretária-geral Ibero-Americana

Competir num mundo global e digital é particularmente difícil para países pequenos como Portugal. Qual é a melhor maneira de chegar lá? Através do que temos de diferentes? A criatividade e a inovação são fatores relevantes?

Criatividade e inovação são, de fato, fatores-chave quer na lógica de um sistema educacional pertinente e de qualidade quer ao longo de toda a vida profissional. A concorrência no mundo digital não é necessariamente diferente de outros tipos de concorrência a que as nossas economias já estão habituadas e em que Portugal já brilha, apesar de ser um país pequeno. Por isso prefiro ver o desafio digital enquanto oportunidade. A economia digital tem modernizado o setor privado, aumentando a produtividade, investindo nos trabalhadores e criando os incentivos certos para os nossos negócios. E estou certo de que Portugal terá sucesso também nesta tarefa.

Considera que, como se tem, dito, os robôs podem ser uma ameaça ou antes são instrumentais para criar oportunidades de crescimento?

Os robôs em si não são bons nem maus. A tecnologia sempre foi uma faca de dois gumes: o fogo dá luz, mas também queima. A tarefa de fazer o melhor da Quarta Revolução Industrial em geral, e da robótica em particular, está inteiramente nas mãos da humanidade.

A tecnologia capacita aqueles que têm acesso a ela, aqueles que sabem como usá-la. E a robótica é, de facto, uma grande oportunidade de crescimento, mas pode ser uma ameaça se esse crescimento não for distribuído uniformemente pelas diferentes economias e sociedades. E se não ajudarmos trabalhadores e empresas durante a transição. Portanto, o desafio que temos pela frente é o de democratizar novas tecnologias e permitir que até mesmo os negócios mais pequenos lucrem com o boom robótico, de modo a garantir que a era robótica trará menos, e não mais desigualdade.

Sendo um país europeu com laços com África, Brasil e até o Extremo Oriente, como pode Portugal ganhar vantagem nestes tempos?

Portugal sempre teve uma capacidade única de construir pontes comerciais em todo o mundo. Neste século XXI em particular, esse ativo é incrivelmente valioso. Como todos sabemos, o continente que mais crescerá em termos de população neste século é África. Para se ter uma ideia, até ao ano 2100 haverá 260 milhões de africanos de língua portuguesa, principalmente em Angola e Moçambique — mais do que atualmente no Brasil. Portugal está, portanto, numa posição única e incrível para aproveitar ao máximo este crescimento, tirando proveito dos seus laços com a América Latina e com África (o triângulo atlântico).

Qual deve ser a nossa aposta mais relevante para realmente conseguir estar na linha de frente do crescimento?

Temos de procurar aquelas que são as novas fontes de crescimento e investir nelas. Precisamos de investir em novos mercados, em novas pessoas e em novas ideias — é aí que devemos apostar. Mercados como as energias renováveis, o turismo sustentável, a expansão dos serviços de alto valor (saúde e economia do cuidado), as novas tecnologias, é aí que está o próximo boom de produtividade.

Mas para aproveitar ao máximo esses investimentos, temos de garantir que todos estão envolvidos, especialmente a população jovem. É por isso que uma grande parte desse investimento acontecerá na educação, num novo modelo de educação capaz de dar às novas gerações as skills necessárias para aproveitar as novas oportunidades de emprego e empreendedorismo, para criar os novos negócios do futuro e para criar e usar as tecnologias de que esses negócios precisarão. A promessa de crescimento é imensa, podemos manter o otimismo nessa tarefa.

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