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Em setembro de 2017, a Lone Star assumia a maioria do capital de um Novo Banco em sérios apuros, com o Estado a manter-se acionista enquanto se acionava o processo de reestruturação, com aval de Bruxelas, e um resultado anual negativo a chegar aos 1395,4 milhões de euros. Cinco anos passados sob gestão de António Ramalho – que deixou a liderança apenas no verão passado, sendo substituído em agosto por Mark Bourke -, e tendo beneficiado da maior parte dos 3,9 mil milhões de euros previstos de capital contingente do Fundo de Resolução, a 13 de fevereiro, a Comissão Europeia deu como concluído o processo. Com sucesso, como provam os lucros de 428 milhões de euros acumulados até setembro de 2022, um crescimento de 178% e que representa o maior lucro da banca privada no país.
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“A conclusão com sucesso do período de reestruturação é um marco para a afirmação do futuro do novobanco, tendo permitido apresentar resultados positivos e níveis de rentabilidade sustentáveis e prosseguir de forma independente – esse era o objetivo”, explica ao Dinheiro Vivo o atual CEO, que em comunicado à CMVM confirmara já a execução “completa e bem-sucedida do plano de negócios, mesmo num cenário de condições de mercado mais desafiantes do que as previstas no plano de negócios” (incluindo uma pandemia e uma década de taxas Euribor negativas).
Durante o processo de cinco anos, o banco libertou dos balanços heranças tóxicas do antigo BES, com recurso a 3,4 mil milhões do Fundo de Resolução, largou ativos não estratégicos, cortou 160 balcões (são agora 300) em Portugal e reduziu o pessoal em cerca de 1350 pessoas, para os atuais 4120 trabalhadores (menos de 20 fora de Portugal). E o CEO vê-o preparado para entrar pela porta grande nesta nova fase, com a gestão agora livre das amarras da reestruturação. “A execução do plano de negócios transformou o novobanco num banco sólido, competitivo, reforçando a sua missão de apoio às empresas e às famílias”, concretiza Mark Bourke. “Temos hoje um modelo operativo simples, focado no negócio doméstico, eficiente e uma equipa com vasto conhecimento, além de uma ambição clara de cumprir os objetivos definidos no plano estratégico, de crescer com os clientes, contando com a dedicação e o compromisso dos colaboradores.”
Num ano em que não faltam desafios, com a Europa a travar a fundo e a economia portuguesa a arrefecer brutalmente – ainda nesta semana Bruxelas antecipou um crescimento mais fraco do que o governo antecipa, de 1%, com a inflação nos 5,4% -, o novobanco parte de uma base sólida, quer nos resultados quer nos rácios de solidez. Como frequentemente lembrava António Ramalho durante os anos difíceis, nenhum outro banco foi tão escrutinado como este. Mas que papel quer Mark Burke pôr o novobanco a desempenhar agora? Que prioridades estabelece para esta nova era?
O CEO não hesita na resposta. “O novobanco irá reforçar o seu papel estratégico e central no apoio ao tecido empresarial. Somos o parceiro das empresas, e em especial das PME, destacando-se a colocação das várias linhas de financiamento estruturantes, desde o PRR ao Portugal 2030.” E reforça os números de 2022: “Contratámos 1,1 mil milhões de euros de linhas BEI e FEI. Reforçámos a proximidade, física e virtual, com os clientes particulares. Estamos centrados em soluções que mais se adequem a ultrapassar as dificuldades atuais do impacto da inflação no rendimento das famílias, tanto no crédito à habitação como nos produtos mais adequados de poupança e investimento.”
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A título de exemplo, para melhorar o retorno às famílias, no início deste mês, o novobanco lançou um depósito a um ano que remunera até 2%, para montantes até aos 250 mil euros. Tendo visto também agora renovada a distinção da Global Finance enquanto melhor banco em Trade Finance em Portugal, um “reconhecimento internacional” da importância da atividade de apoio às empresas.
Agora com o capital repartido entre os 75% da Nani Holdings (empresa associada que assumiu a participação da Lone Star em 2021), os 19,31% nas mãos do Fundo de Resolução e os 5,69% da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, a venda do novobanco – ou pelo menos a saída do Estado do capital – parece afigurar-se como o próximo passo. O governador do Banco de Portugal tem falado na “inevitável” consolidação na banca portuguesa e o próprio fundo que detém a maioria terá já ponderado alternativas que podem passar pela dispersão de capital em bolsa. Questionado nesta semana, o ministro das Finanças, Fernando Medina, afirmou apenas que “o Estado terá uma palavra” na decisão. “O fim do processo de reestruturação significa [que o novobanco] ganha em pleno os seus graus de liberdade para se poder posicionar no mercado. Não quero antecipar qual será o futuro do processo em relação à instituição, mas o Estado terá uma palavra a dizer”, disse, na sequência do comunicado que revelava a conclusão da reestruturação.
Para já, Mark Bourke não revela prazos ou sequer se a intenção de alienação é uma hipótese em cima da mesa. “Como equipa de gestão, estamos focados na execução contínua do nosso plano estratégico, atingindo níveis de negócio e de rentabilidade sustentáveis, e afirmando assim o novobanco como um banco independente e presente no mercado de capitais”, responde o CEO ao Dinheiro Vivo.
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