O facto de o dinheiro ser cada vez mais zeros e uns agrada às autoridades. Fica mais fácil seguir-lhe o rasto, seja para cobrança de impostos seja para detetar atividade criminosa – fraude, branqueamento de capitais ou financiamento do terrorismo. Por isso é que criminosos começaram a adotar as criptomoedas, são mais difíceis de rastrear.
Mas a digitalização do dinheiro também está ter outra consequência: a transferência do negócio que era dos bancos para empresas tecnológicas, retalhistas, redes sociais, empresas de entretenimento e outras.
Este ano será marcado por uma revolução do dinheiro em Portugal. Os bancos vão ter de deixar entidades terceiras aceder às contas bancárias dos seus clientes, desde que estes autorizem. A revolução chega com atraso a Portugal após a transposição para a legislação portuguesa da diretiva dos serviços de pagamentos europeia, a PSD2. Chegou em setembro de 2018, com quase um ano de atraso.
A plataforma tecnológica que vai fazer a gestão do acesso às contas bancárias está a ser desenvolvida pela SIBS e estará pronta em setembro deste ano. É todo um novo mundo que se abre para pagamentos, oferta de serviços de poupança e investimento.
Os não regulados
O melhor exemplo de alternativa ao dinheiro físico é, muito provavelmente, o das criptomoedas. Além de totalmente digitais, são uma alternativa ao próprio sistema do dinheiro tradicional. Como têm por base uma tecnologia de consenso conhecida como blockchain, uma rede imutável e distribuída de registos, as criptomoedas não respondem a qualquer entidade central.
Entre 3 e 7 de fevereiro, os dados mostram que a mais conhecida e valiosa das criptomoedas, a bitcoin, teve uma média de 338 mil transações diárias em todo o mundo. A média de valor movimentado por dia também ronda os 4,5 mil milhões de euros, segundo o site CoinMarketCap.
Esta relação desequilibrada – muito dinheiro para poucas transações – justifica-se pelo facto de o volume de utilização ainda estar acima de tudo ligado ao conceito de criptomoeda enquanto ativo digital, como se fossem ações. A grande questão para as criptomoedas é se um dia alguma terá capacidade para se afirmar como a grande opção do dinheiro digital a nível global.
Giuseppe Perrone, líder do centro de excelência de blockchain para Portugal, Espanha e Itália da EY, acredita que acabará por acontecer. “Penso que sim, mas o mais provável é que seja algo como um criptoeuro, uma moeda regulada por uma autoridade central. As criptomoedas não são reguladas e existe muita especulação”, diz em entrevista ao Dinheiro Vivo.
“Penso que é uma oportunidade para regular uma moeda com ajustes graças a um algoritmo automático. O bitcoin nasceu do algoritmo”, diz sobre uma hipotética criptomoeda amplamente aceite e usada.
Já Sebastião Lancastre considera que as criptomoedas ganham por “serem fácil e rapidamente transacionáveis” e com custos de transferências de “cêntimos”. Mas avisa: “São extremamente voláteis, pelo que não se aconselha grandes investimentos.”
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