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O setor das energias renováveis atingiu os 50.996 empregos (diretos e indiretos) em 2020, revela um estudo que a consultora Deloitte fez para a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) e que foi apresentado esta semana. De acordo com o documento, este número representa uma redução de pouco mais de 2200 empregos face ao ano anterior, ou seja, uma “ligeira quebra” que se justifica, exclusivamente, com a pandemia de covid-19. “Apesar do aumento da geração renovável, 2020 registou uma redução do emprego, eventualmente criada pela paragem e atraso no desenvolvimento de projetos em curso com impacto em toda a cadeia de valor”, pode ler-se no estudo intitulado Impacto da Eletricidade de Origem Renovável.
egundo Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN, notou-se “uma desaceleração dos licenciamentos”, mas os investidores privados não recuaram nos projetos já em curso e até reforçaram o interesse em continuar a investir nos inúmeros projetos que estão previstos para o país. De facto, no Plano Nacional Energia e Clima (PNEC) 2030 o objetivo é instalar mais 15 gigawatt (GW) de renováveis durante a próxima década, dos quais 8 GW serão projetos de energia solar, 1,5 GW serão hídricos e 3,9 GW serão de eólicas, incluindo o chamado repowering, ou seja, o aumento da potência dos parques já existentes.
É, por isso, que nas projeções que a Deloitte faz para a próxima década se estima que haja um franco aumento do número de empregos neste setor na próxima década, passando dos cerca de 51 mil de 2020, para os quase 120 mil em 2025 e para os cerca de 161 mil em 2030. “O emprego irá crescer em todas as fontes de energia, embora a ritmos diferentes, devido ao elevado crescimento do solar. No entanto, todas as fontes de energia irão incrementar o número de colaboradores, entre 2025 e 2030”. Contudo, a consultora deixa uma nota para o setor e para os seus intervenientes. “O aumento acentuado dos colaboradores do setor até 2030 deverá ser acompanhado do reforço da capacitação profissional. Para tal, é necessária uma aposta no aumento das competências ao nível das tecnologias digitais e de novos modelos de negócio para a geração descentralizada, por exemplo, a produção de energia em casa e nos edifícios de uma forma geral”.
Mas para que possa haver pessoas a trabalhar nestes 15 GW é preciso haver dinheiro e, neste caso, ele é praticamente todo privado. De acordo com o documento, “de 2021 a 2030, o investimento privado direto nos centros eletroprodutores com base em fontes de energia renovável e o das centrais eólicas deverá ascender a cerca de 20 mil milhões de euros, representando uma média anual de cerca de dois mil milhões de euros. A energia solar absorverá a maior fatia, com um total acumulado de cerca de 8,2 mil milhões de euros até 2030, representando uma média anual de cerca de 821 milhões de euros. A aposta na energia eólica continuará, com um investimento privado total acumulado de cerca de 5,4 mil milhões de euros até 2030, representando uma média anual de cerca de 542 milhões de euros. Nesta, destaca-se ainda o investimento associado ao repowering das centrais eólicas, o qual deverá totalizar cerca de 4,8 mil milhões de euros entre 2021 e 2030, representando uma média anual de 483 milhões de euros de investimento”.
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O impacto do hidrogénio
O PNEC 2030 foi aprovado pelo governo em maio de 2020 e é nele que está traçada a estratégia do setor energético para reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa (GEE), havendo, por isso, um claro reforço nas renováveis. Mas, com a Europa a apertar cada vez mais as metas de redução de GEE, em agosto do mesmo ano, foi aprovado um outro plano – a Estratégia para o Hidrogénio – onde se desenham os passos para produzir hidrogénio em Portugal e, assim, adicionar ao mix mais uma fonte de energia limpa para substituir os combustíveis fósseis. E, já este ano, a 14 de julho, a Comissão Europeia apresentou um pacote legislativo chamado “Fit for 55” que acrescenta ainda mais metas para a descarbonização e antecipa a redução de emissões de GEE para 55% em 2030.
Ora, de acordo com o estudo da Deloitte, havendo uma aposta no hidrogénio e assumindo as novas metas do “Fit for 55”, isso significa que vão ser desenvolvidos mais projetos e feitas mais alterações e, por isso, vai ser preciso mais investimento e, consequentemente, mais empregos. Assim, “com a incorporação do hidrogénio e o aumento da ambição climática, o investimento privado direto em centros eletroprodutores com base em fontes de energias renováveis para o período 2020-2030 poderá aumentar entre 4300 e 8000 milhões de euros”, pode ler-se no estudo. Ou seja, em vez dos 20 mil milhões de euros que se prevê que sejam investidos entre 2021 e 2030, poderão ser investidos entre 24.300 e 28 mil milhões de euros. Quanto ao impacto na geração de emprego, o hidrogénio e o “Fit for 55” poderão acrescentar entre 24 mil e 83 mil empregos ao setor em 2030. Ou seja, em vez de chegarmos ao fim desta década com os já referidos 160.937 empregos nas renováveis, teremos 243.779 pessoas empregadas neste setor.
Estas estimativas assentam ainda no facto de o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “não financiar tecnologias antigas, apenas as novas que ainda não são comercialmente rentáveis”, diz Pedro Amaral Jorge. “O PRR não vai apoiar a compra de painéis solares. Queremos ajudar noutras soluções, como o armazenamento ou o hidrogénio”, explicou o secretário de Estado da Energia, João Galamba, na intervenção que fez após a apresentação do estudo.
Poupanças na fatura
As contas são complicadas de fazer e de perceber, mas o resultado é muito simples: o facto de existirem renováveis em Portugal fez com que os consumidores domésticos poupassem até 50 euros por ano na sua conta da luz e com que os consumidores não domésticos (indústrias, restaurantes, armazéns, entre outros) poupassem até um máximo de 4500 euros por ano. Tudo junto, pouparam-se 1,7 mil milhões de euros entre 2016 e 2020, o período em análise pela Deloitte, sendo que a maior poupança se verificou no ano passado, por causa da quebra de consumo de energia provocada pela pandemia. De facto, em 2016 a poupança foi de 389 milhões de euros, nos anos seguintes baixou para 170, 284 e 144 milhões, mas depois em 2020 a poupança disparou para 684 milhões de euros. Ainda se encontram efeitos positivos da covid-19.
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