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As taxas de juro diretoras dos Estados Unidos da América (EUA) vão manter-se no intervalo de 5,25% a 5,5% (decidido em julho passado) depois de um ciclo de aperto que conta já com 11 subidas e que dura desde março do ano passado, anunciou o banco central do país, a Reserva Federal, esta quarta-feira, dia 20.
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Em comunicado, a Fed argumenta que a taxa de inflação continua “elevada”, mas diz recear que os aumentos de juros deste passado recente provoquem problemas na atividade económica e nas contratações de trabalhadores, por exemplo.
Ato contínuo, o presidente da instituição, Jerome Powell, fez questão de manter tudo em aberto até final deste ano, para mais porque fez uma substancial revisão em alta do crescimento, o que significa que a economia está a aguentar, como fez questão de sublinhar.
A Fed reviu em alta a previsão de crescimento económico deste ano, de 1% em junho para 2,1%. Uma revisão substancial, é mais do dobro do ritmo estimado há três meses.
Perante isto e assumindo os riscos negativos que ainda pairam no horizonte, “mantivemos as taxas, mas esperamos ter mais dados. Queremos ver, de facto, evidências convincentes de que alcançámos o nível apropriado” de taxas de juro, explicou Powell, em conferência de imprensa.
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“Vimos progressos nos dados recebidos e congratulamo-nos por isso, mas, como todos sabem, necessitamos de ver ainda mais progressos antes de decidir se podemos terminar com as subidas de taxas de juro”, advertiu Powell.
A autoridade monetária defendeu que “o sistema bancário dos EUA é sólido e resistente”, mas “é provável que as condições de crédito mais restritivas para as famílias e as empresas afetem a atividade económica, a contratação e a inflação”.
Segundo o banco central da área do dólar, “a extensão desses efeitos [da forte subida de juros] permanece incerta”, sendo que o comité da Fed adverte que “continua muito atento aos riscos de inflação”.
De facto, mesmo com o risco de as subidas de taxas poderem lançar a economia americana, a maior do mundo, numa estagnação ou mesmo recessão, os desenvolvimentos recentes na inflação não podem satisfazer a Fed, que pretende puxar o ritmo de preços da economia dos EUA para os 2%.
Por exemplo, o preço do petróleo nos mercados globais já subiu cerca de 30% desde junho e tem vindo a aproximar-se de forma implacável dos 100 dólares, novamente. É um forte contributo para alimentar uma eventual segunda vaga de inflação, sobretudo agora que vai entrar o outono e o inverno no hemisfério norte.
Muitos analistas dizem acreditar que o custo do barril atingirá essa fasquia “a curto prazo”.
Na dúvida, o comité da Fed (o equivalente ao conselho de governadores do Banco Central Europeu) reiterou que “procura alcançar o pleno de emprego e uma inflação de 2% a longo prazo” e que, de modo a apoiar estes objetivos, decidiu “manter o intervalo da taxa dos fundos federais [fed funds] em 5,25%-5,5%”.
Logo a abrir a declaração, a Fed observa que “os indicadores recentes sugerem que a atividade económica tem vindo a expandir-se a um ritmo sólido”, mas em contrapartida “a criação de emprego abrandou nos últimos meses, ainda que continue a ser forte”.
Segundo o sistema de bancos centrais dos EUA, “a taxa de desemprego mantém-se baixa e a inflação elevada”, o que reforça a necessidade de ir recolhendo e analisando mais informação nova e recente para tomar novas decisões daqui em diante. É o que diz Christine Lagarde, a presidente do BCE. Dizem que são “data dependent”.
O comité da Fed diz que “continuará a avaliar a informação adicional e as suas implicações para a política monetária”.
Para trazer a inflação para os 2% ao longo do tempo, a Reserva afirma que “levará em consideração o aperto cumulativo da política monetária, os atrasos com que a política monetária afeta a atividade económica e a inflação, bem como os desenvolvimentos económicos e financeiros”.
Além disso, a Fed “continuará a reduzir as suas detenções de títulos do Tesouro [obrigações] e de títulos de dívida e hipotecários de agências”.
Daqui em diante
Daqui em diante, a Reserva Federal promete que “continuará a acompanhar as implicações das informações recebidas para as perspetivas económicas” e que, a qualquer momento, “estará preparado para ajustar a orientação da política monetária, conforme apropriado, se surgirem riscos que possam impedir a consecução dos objetivos”, que é garantir uma inflação baixa (2%), mas sem comprometer o crescimento e o emprego.
Nesse sentido, o mandato da Fed é dual (além da inflação há uma prioridade máxima ao emprego e crescimento), sendo mais flexível do que o do BCE, que apenas se centra na inflação de 2%.
“As avaliações do comité terão em conta um vasto leque de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, as pressões inflacionistas e as expectativas de inflação, bem como a evolução financeira e internacional”, explica a Reserva norte-americana.
Ao contrário do que faz o BCE, a Fed revela quais os governadores que votaram a favor e contra a ação de política monetária.
E, também ao contrário do BCE, a Fed revela no comunicado as votações. Hoje, diz que houve unanimidade em manter as taxas de juro nesta reunião – todos os 12 governadores com assento no comité votaram a favor da pausa nas taxas.
No caso do BCE, na semana passada, Lagarde não revelou nomes, nem preferências, mas disse que houve dissidências, governadores que não concordaram com a subida de taxas.
Seja como for, o grupo dos falcões (o que votaram por mais aperto nos juros) ganhou com uma “sólida maioria”, disse a chefe máxima do BCE.
(atualizado 21h00)
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