Partilhareste artigo
As cotadas do PSI viram os seus lucros dispararem nos primeiros nove meses do ano à boleia da pressão inflacionista. No total, as empresas cotadas na bolsa portuguesa tiveram resultados líquidos de 3,3 mil milhões de euros, um valor que representa um aumento de 53% face ao mesmo período do ano passado e que já ultrapassa os lucros registados antes da pandemia (3,1 mil milhões).
Relacionados
No entanto, a margem do lucro operacional da maioria das empresas não seguiu a mesma tendência, como foi o caso da EDP e da Galp que viram a margem EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) recuar de 25,1% para 19,2% e 14,6% para 13,9%, segundo os dados da Maxyield cedidos ao Dinheiro Vivo. Mas o que pode justificar esta aparente contradição entre a subida dos lucros e o abrandamento das margens?
O diretor de investimentos da Sixty Degrees explicou ao Dinheiro Vivo que “a inflação fez com que as empresas aumentassem o valor total de vendas, mesmo que o volume de produtos vendidos tenha baixado. Razão pela qual, mesmo com menor margem de lucro, os lucros totais tenham subido”. Além disso, Nuno Sousa Pereira destaca que “existe um efeito base importante pois os resultados de 2021 ainda foram afetados pela pandemia e 2022 já foi um ano de atividade empresarial plena”.
Num contexto de crise energética, esse setor continuou a ser o peso pesado dos resultados do PSI. A EDP, EDP Renováveis, Galp e Greenvolt valem metade dos lucros totais da bolsa nacional. Tiveram um resultado acumulado de 1,5 mil milhões, mais 57% que no mesmo período de 2021.
No geral, as empresas “com predominância absoluta de operações internacionais, Galp, EDP Renováveis, Navigator, Semapa, Jerónimo Martins e Greenvolt apresentam uma evolução robusta dos resultados quer trimestrais quer acumulados anuais, com taxas de crescimento significativamente elevadas”, sublinhou o presidente da Maxyield – Clube dos Pequenos Acionistas. Pelo contrário, as cotadas “com maior orientação para o mercado doméstico, designadamente CTT, Nos, REN e Sonae apresentam tendencialmente menores taxas de crescimento dos lucros”, apontou Carlos Rodrigues.
Lucros excessivos?
A forte subida dos resultados das empresas face à alta inflação tem levado à discussão, e em alguns casos até mesmo à aplicação de taxas sobre os lucros inesperados. Em Portugal, a medida foi aplicada à energia, seguindo o modelo europeu, mas o Governo decidiu ir mais longe e alargá-la ao setor da distribuição. A Sonae e a Jerónimo Martins lucraram, em conjunto, 629 milhões, mais 30% face ao ano anterior. Apesar desta melhoria, a margem EBITDA da holding que detém o Continente caiu de 8,3% para 8%, enquanto a dona do Pingo Doce viu este indicador recuar de 7,5% para 7,3%.
Subscrever newsletter
O diretor de investimento da Sixty Degrees recusa falar em lucros excessivos “num mercado minimamente livre”. “Se os lucros de uma empresa forem “anormalmente” elevados outras empresas quererão entrar no negócio, aumentando a concorrência e alguns membros da indústria quererão praticar preços mais baixos para ganhar quota de mercado. Não é uma tendência que se verifique”, comentou Nuno Sousa Pereira.
Uma posição partilhada por João Queiroz, que relembra que “a retórica” pode não estar adaptada a todas as situações, e por Carlos Rodrigues que considera “exagerado” falar em lucros excessivos.
Deixe um comentário