Até ao final de 2018, pelo menos 20 mil portugueses deverão ter a sua conta bancária principal não num banco tradicional mas na Revolut, que oferece serviços bancários na Internet. A empresa britânica já tem 70 mil utilizadores dos seus serviços em Portugal e prevê chegar aos 100 mil em dezembro. Não é muito, comparando com os mais de cinco milhões de portugueses no ativo. Mas são clientes que fogem dos bancos clássicos para opções mais baratas e de fácil acesso no telemóvel.
Em cinco meses a Revolut cresceu 200% no país e é uma das aplicações financeiras mais descarregada a nível nacional. “Muitos dos nossos utilizadores já usam a Revolut para a sua conta principal, seja para receber salários, fazer pagamentos ou levantar dinheiro”, afirmou a porta-voz da Revolut ao Dinheiro Vivo. “Vemos isto em particular nos jovens que nunca interagiram com um banco, não entendem a linguagem dos bancos e que estão habituados a usar aplicações simples e intuitivas noutras áreas das suas vidas diárias”.
A empresa também conquista utilizadores que estão em constante mudança e viajam. “O nosso objetivo é que até ao final do ano pelo menos 20% dos nossos utilizadores (portugueses) usem a Revolut como a sua conta principal”, indicou. Até lá a Revolut, que ainda não é um banco, espera obter licença bancária. Só nessa altura os utilizadores da Revolut estarão cobertos pela proteção de um fundo de garantia de depósitos.
O mesmo não acontece com os clientes do banco alemão N26, também assente no digital, que já tem licença bancária para operar em Portugal.
Mas aqueles não são os únicos concorrentes que os bancos tradicionais como a Caixa Geral de Depósitos, o Millennium bcp e o Santander enfrentam. Tanto para clientes particulares como empresariais, a oferta de serviços de fintechs cresce e conquista utilizadores, numa altura em que os bancos tradicionais aumentam os preços das comissões e lutam para ganhar espaço no mundo online e mobile. E cresce a concorrência à SIBS, que opera os terminais de multibanco, e que é detida pelos bancos do sistema bancário português.
“Desde janeiro de 2018 até à presente data, o Banco de Portugal concedeu autorização para a constituição de cinco entidades, nos domínios da prestação de serviços de pagamento e da gestão de organismos de investimento coletivo”, adiantou fonte oficial do supervisor ao Dinheiro Vivo. “Três dessas entidades ainda se encontram a implementar os procedimentos necessários ao início de atividade”, disse. Nenhuma das entidades autorizadas está habilitada a receber depósitos do público, atividade esta reservada aos bancos.
No último ano e meio, muitas foram as entidades financeiras a iniciar atividade em Portugal. Só este ano, foram cerca de uma dezena as instituições de moeda eletrónica. Também instituições de crédito constam da lista de entidades com início de atividade em 2018, incluindo a fintech francesa Younited Credit, que faz empréstimos online. A fintech parisiense tem um total de crédito em carteira superior a 200 milhões e já emprestou um total de mais de 900 milhões. Esta plataforma de crédito foi criada em 2011 e também faz gestão de ativos. Geria um total de 400 milhões de euros no final de agosto.
A Younited Credit anunciou no dia 18 de setembro a sua entrada no mercado português, o sexto país para onde expandiu a atividade, acelerando o seu processo de internacionalização. “Depois do lançamento no final de junho, a sociedade já concedeu mais de um milhão de crédito a particulares portugueses e a sua proposta é 100% digital”, refere num comunicado à imprensa. “Somos a única plataforma de crédito online europeia com uma licença bancária e, por outro lado, somos uma fintech graças à nossa tecnologia que nos permite responder a pedidos de crédito mais rapidamente, com comissões mais atraentes e 100% online”, afirma Charles Egly, presidente do conselho de administração e cofundador, citado no mesmo comunicado. A empresa entrou no mercado português num regime de “livre prestação de serviços”, ou seja, sem presença física em Portugal. A atividade no mercado português é gerida a partir dos seus escritórios em Espanha e França, com uma equipa de marketing e de operações dedicada a Portugal, composta por cinco pessoas. Mesmo sem presença física, para atuarem no mercado, as entidades financeiras precisam de autorização das autoridades de supervisão, nomeadamente do Banco de Portugal, do Banco Central Europeu e da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, dependendo do caso.
Mudar de filosofia
“Os bancos precisam de mudar a sua atitude e cultura e pensar como podem ajudar os seus clientes”, diz Daniel Latimore, vice-presidente para a banca da Celent, uma consultora norte-americana especializada em serviços financeiros digitais. A transformação dos bancos, defende, não será só tecnológica, mas cultural.
“Portugal está três a quatro anos atrás de Espanha nos serviços financeiros digitais e sete a oito atrás do Reino Unido”, considera Duarte Líbano Monteiro, diretor-geral da fintech Ebury, para Portugal e Espanha. Esta empresa presta serviços de câmbios a empresas.
“Eu tenho a experiência de trabalhar com bancos e com a Ebury. E, entre escolher trabalhar com um banco ou com uma fintech como esta, escolho a fintech”, aponta Pedro Petronilho, diretor numa empresa no setor de matérias-primas. “Tenho um gestor dedicado e há muito mais flexibilidade nas operações”, garante.
Novas regras atrasadas
Os bancos em Portugal têm vindo a apostar no desenvolvimento do seu negócio no novo mundo em que a automação ganha terreno. Este mês, o Novo Banco criou uma nova função de chief digital officer que vai ser exercida por João Dias. O ex-sócio da consultora McKinsey em Colónia vai “liderar a transformação digital do banco”, segundo o Novo Banco. Sinais da pressão exercida sobre os bancos pela nova concorrência e pela legislação.
Em janeiro, entrou em vigor a diretiva europeia sobre serviços de pagamento, a PSD2 que vai permitir que qualquer entidade tenha acesso a uma conta de pagamento ou de depósito à ordem, com autorização do cliente. Os bancos terão de permitir o acesso a contas bancárias, por exemplo, a empresas de retalho ou consumo e a gigantes como o Facebook. Mas a diretiva ainda não está em vigor em Portugal. “O projeto de diploma, que transpõe a PSD 2, está finalizado e aguarda discussão em breve em reunião do Conselho de Ministros”, disse uma porta-voz do Ministério das Finanças.
E-dinheiro: Financiar, depositar ou pagar 100% online
-Revolut
Portugal é o sétimo maior mercado da Revolut na Europa. A empresa oferece uma conta corrente baseada no telemóvel que permite aos utilizadores fazer pagamentos e transferências sem pagar comissões em 25 moedas diferentes. Opera em Portugal desde 2016.
-N26
É um banco com sede na Alemanha, 100% online. Opera em toda a Europa. Os clientes têm acesso a uma conta bancária sem custos de manutenção que podem gerir a partir do ser telemóvel. Opera em Portugal desde 2016.
-Monzo Bank
O Monzo Bank é um banco apenas digital e no telemóvel com sede no Reino Unido. Originalmente, operava através de uma aplicação móvel e um cartão de débito pré-pago.
-Younited Credit
É a única plataforma online de concessão de crédito na Europa com uma licença bancária. Começou a operar em Portugal em junho deste ano e já concedeu um total de mais de um milhão de euros em crédito a clientes particulares portugueses.
-Ebury
Uma empresa gerida pelo português Duarte Líbano Monteiro que presta vários serviços financeiros, incluindo de gestão de câmbios para negócios globais. Está focada sobretudo no segmento de micro, pequenas e médias empresas.
-Open Bank
Banco online do grupo Santander, com todos os serviços bancários oferecidos através da internet. Foi criado em 1995 mas só iniciou a sua atividade em Portugal no dia 1 de dezembro de 2017.
-Paybase
Uma plataforma online com sede no Reino Unido para particulares e empresas com serviços diversos que vão dos pagamentos a angariação de financiamento. Iniciou a sua atividade em Portugal no passado dia 15 de setembro.
-Mypos Europe
Fornece terminais de pagamento a comerciantes e empresas, “sem taxas mensais nem custos ocultos”, assim como contas de pagamento eletrónico. Tem ainda um serviço que permite a empresas receber pagamentos nos seus sites, aplicações móveis, email e telefone. Iniciou a sua atividade em Itália em 2015 e opera em Portugal desde o início de 2018.
-ConnectPay UAB
Com sede na Lituânia, o banco quer ser um dos líderes no fornecimento de serviços financeiros a empresas focadas em negócios online de crescimento rápido.
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