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Poderá ter o setor imobiliário uma “saída limpa” da pandemia? A convicção do presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) é de que sim, será possível. Luís Lima fundamenta a sua expectativa em algumas informações que tem recolhido, nas últimas semanas.
“Tenho indicações, daquele que é talvez um dos maiores bancos a operar no nosso país, de que estão a surgir pedidos de informações por parte de cidadãos estrangeiros que ponderam vir para Portugal, e isso é extremamente positivo”, diz à Renascença, para sustentar a opinião de que “se correr bem, vamos passar um sinal muito positivo.
“Não quero o mal de países como a Espanha ou a Itália, que eram nossos concorrentes diretos, mas acho que o imobiliário pode ajudar”, tal como aconteceu na crise anterior, em que o setor “puxou pela reabilitação urbana e ajudou a recuperar a construção”.
Alguns especialistas internacionais têm destacado a forma como Portugal está a reagir à pandemia do novo coronavírus, o que levou Marcelo Rebelo Sousa a aludir a um “milagre português”, para definir a forma como o país está a lidar com o o problema. O Presidente da República considera que o “milagre” é fruto do “sacríficio”. “Se isto é um milagre, o milagre chama se Portugal”, completou, na declaração em que anunciou a renovação do estado de emergência até 2 de maio.
Se Portugal conseguir refletir este estado num período de retoma favorável, então Luís Lima acredita que o mercado imobiliário pode ser uma das alavancas da recuperação económica.
Mercado vai puxar pela economia
Luís Lima acredita que será, de novo, a compra e venda de casas a puxar pela economia e acha, que, a curto prazo, as limitações colocadas aos vistos “gold” terão que ser reavaliadas pelo Governo.
“Neste momento não perco forças com isso, mas acho que dentro de dois meses o tema vai estar na ordem do dia. Acho que devem meditar sobre a decisão que tomaram, porque neste momento já devem estar arrependidos. Daqui a poucos meses o Governo não terá outra hipótese que não seja dar todas as condições e utilizar todos os veículos para tentar captar investimento. Tomara o Governo que venham para cá estrangeiros e cada qual traga 500 mil euros, porque isso ajuda a gerar emprego perante esta ‘bomba atómica’”.
Mais atenção ao arrendamento
O presidente da APEMIP acentua que “alguma coisa vai ter de ser feita, nomeadamente para dinamizar o mercado do arrendamento, porque é por aí que a recuperação do imobiliário vai começar”.
Os preços das casas vão cair, mas Luís Lima diz ver “com bons olhos um ajustamento de preços”, manifestando a esperança de que se alcancem “valores corretos de mercado e que não aconteça como na altura da ‘troika’, com as pessoas a perder a cabeça e a colocar à venda por qualquer preço”.
O presidente da APEMIP desafia, entretanto, as empresas do setor a recorrer às linhas de crédito aprovadas pelo Governo, após semanas de conversações, numa altura em que “80 a 90% das imobiliárias estão paradas e não fazem transações”, nomeadamente porque estão impedidas de promover visitas e contactar diretamente com os clientes.
Luís Lima, um dos mais de 150 subscritores do documento entregue ao Governo em que é pedida a reabertura da atividade económica, apela ao executivo de António Costa para que decida quando poderão as imobiliárias retomar a sua atividade normal, “e com que condições de segurança deverão fazê-lo”.
A criatividade e o “mundo digital” ao serviço do negócio
Quando o mês de março arrancou com números muito positivos, Patrícia Santos, diretora-executiva (CEO) da imobiliária “Zome”, não sabia ainda o que estava para vir. A verdade é que a procura caiu e as vendas também. “Com a entrada em vigor do estado de emergência, sentimos uma quebra, visível, nomeadamente nas pesquisas via internet, quer por potenciais compradores quer por meros curiosos, que também há muitos” diz à Renascença.
A procura, traduzida em pedidos no site, caiu para metade e foi acompanhada de uma queda na faturação na ordem dos 20%, obrigando direção e consultores a puxar pela cabeça. A opção só poderia recair no “meio digital”, face à impossibilidade prática de manter contactos presenciais com os clientes (proprietários e compradores). Os obstáculos a ultrapassar começam logo nas fotografias a disponibilizar no site da imobiliária.
“Aquilo que fizemos foi contruir um guia, para o proprietário saber como preparar o imóvel e como tirar as fotografias, para termos uma reportagem com um mínimo de qualidade e não serem apenas umas fotos de telemóvel sem qualquer preparação”, explica Patrícia Santos, antes de avançar para o passo seguinte do processo.
“Como nem todos os imóveis têm visitas virtuais preparadas, nem agora há possibilidade de as preparar, aquilo que estamos a fazer é uma videochamada com o proprietário e com o cliente, em que é possível ver o imóvel em tempo real”, concretiza.
A “digitalização” da compra de casa é levada ao limite por esta imobiliária, que criou uma ferramenta específica que “permite ao cliente que tenha gostado de uma casa, formalizar uma proposta ‘online’, sem ter que preencher papéis, mantendo o acompanhamento do consultor, seja por telefone ou por videochamada”. E porque há formalismos que exigem assinaturas, a empresa disponibiliza gratuitamente dispositivos de leitura do cartão de cidadão.
“Obviamente que dada a natureza do investimento haverá sempre um momento final para validação presencial da compra, mas já evitamos andar a visitar cinco ou seis imóveis”, faz notar Patrícia Santos, antes de concluir com duas observações – a de que o futuro próximo passa pelo digital e a de que o mercado imobiliário terá novas regras a partir de agora.
“Antes, estávamos com uma procura muito grande face à oferta. O que sentimos é que isto vai regular o mercado e que, devagarinho, haverá uma recuperação, apesar de a normalidade nunca mais ser a mesma. O momento atual não vai passar em meia dúzia de semanas, há o risco de uma segunda vaga e temos que garantir aos nossos clientes que o processo de compra ou venda poderá ter continuidade em segurança, de uma forma muito digital”, conclui.
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