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Seria expectável que os salários acompanhassem de alguma forma o ritmo de crescimento económico do país, mas não foi isso que sucedeu desde que Portugal iniciou a rota de recuperação após a crise de 2008-13. O Produto Interno Bruto (PIB) começou a crescer logo em 2014, e até à data só contraiu em 2020, devido à pandemia, sem que as remunerações dos portugueses sentissem na generalidade esse impacto positivo.
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Os salários demoraram a refletir a recuperação económica da grave recessão do início da década passada – só a partir de 2018 se evidencia uma tendência mais generalizada de incremento das remunerações -, mas com os aumentos a evidenciarem taxas inferiores ao crescimento da riqueza. Esta é uma das conclusões do estudo do CoLABOR – Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social, apresentado hoje na Fundação Calouste Gulbenkian.
Em 2014, o PIB começa a registar taxas positivas de crescimento, contudo esse dinamismo da economia pouco se refletiu no aumento dos valores reais dos salários. A taxa de crescimento anual “foi sempre substancialmente inferior à taxa de crescimento do PIB real”, aponta o estudo “Os salários em Portugal: padrões de evolução, inflação e desigualdades”.
Só em 2020, ano em que o PIB recuou 8,3% é que os dados analisados permitem concluir que os três indicadores de salário (ganho bruto mensal médio, ganho bruto mensal mediano e remuneração bruta mensal média) apresentaram taxas de crescimento de valores reais acima da verificada na criação de riqueza. Mas, em 2021, já se constata “um regresso ao padrão anterior”.
Ou seja, conclui o estudo “não só existe uma discrepância temporal considerável entre o início das tendências de recuperação económica e de valorização real dos salários como esta última decorreu quase sempre a um ritmo inferior ao da primeira”. Concretamente, “o aumento dos salários no pós-2013 foi pouco expressivo até 2017/2018 e apenas tardiamente (a partir de 2018) teve um alcance mais elevado”.
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Quebra no poder de compra
Neste contexto de ténues crescimentos salariais, disparou a inflação. As consequências do aumento do custo de vida já fizeram recuar o valor do salário para níveis de 2019. Como reconhece o estudo, baseado nos indicadores disponíveis na DataLABOR, a maior base de dados estatísticos e informação jurídicos sobre trabalho, emprego e proteção social em Portugal, ” os ganhos salariais reais verificados no pós-2018 foram já seriamente comprometidos pelo aumento da inflação”.
As estatísticas assim o comprovam. “O valor real da remuneração bruta mensal em julho de 2022 representava -5,3% face à de julho de 2021; a de setembro de 2022 (data dos últimos dados disponíveis) -4,9% em relação à de setembro de 2021”, aponta o relatório.
Para uma maior clareza, o estudo refere que em fevereiro deste ano, o valor real da remuneração bruta mensal era equivalente a janeiro de 2020 e, seis meses passados, em julho de 2022, estava já ao nível de julho de 2019 – um recuo de três anos. E a tendência mantém-se.
O aumento da taxa de inflação, uma evolução que se regista desde meados de 2021, “está rapidamente a erodir grande parte dos ganhos ao nível do salário real que se registaram em Portugal a partir de 2018”.
Considerando que nos anos anteriores os salários tiveram incrementos residuais, estar-se-á a chegar perto dos valores reais remuneratórios da última crise económico-financeira.
O estudo da CoLABOR também vem confirmar que o crescimento do valor real dos salários no país tem sido sobretudo impulsionado pelo aumento do salário mínimo nacional.
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