Para o diretor-geral do N26, Portugal é um mercado com grande potencial e representa uma oportunidade de crescimento para o banco digital alemão. Sarunas Legeckas, de 35 anos, nascido na Lituânia, entrou para o N26 em 2019 e é responsável por 18 mercados europeus, incluindo Portugal.
No total, o banco digital está presente em 26 países, tendo acabado de entrar nos Estados Unidos. Em entrevista ao Dinheiro Vivo, Legeckas falou sobre os planos para Portugal, a concorrência e os desafios.
O N26 triplicou a sua base de clientes em Portugal em 2019. Que oportunidades oferece um mercado como o português?
Lançámos a operação em Portugal no fim de 2017. Inicialmente, começámos a operar em 24 mercados na Europa e estivemos focados nos nossos grandes mercados, como Alemanha, Itália e Espanha. Depois vimos como os outros mercados reagiam ao N26. Estamos muito satisfeitos que, em 2019, a nossa base de clientes tenha triplicado e esperamos poder anunciar algumas grandes metas atingidas no início de 2020. Acreditamos que existe um grande potencial em Portugal. Basicamente, porque a satisfação com os bancos incumbentes não é assim tão grande. As pessoas queixam-se das comissões de manutenção de conta, por exemplo. E, em geral, a confiança nos bancos tradicionais é baixa. Sendo um banco alemão, com credibilidade, é uma oportunidade estar presente em Portugal. E vamos crescer rapidamente em Portugal.
Onde está a grande oportunidade em Portugal?
São dez milhões de pessoas, talvez seis a sete milhões de contas bancárias. Se tivermos 25% desse mercado, é um número considerável de clientes que podemos ter.
Qual é a vossa ambição? Que tipo de banco o N26 vai ser daqui a uns anos?
Somos um pouco diferentes, temos uma visão global e Portugal faz parte dessa visão global. Queremos ter cem milhões de clientes em todo o mundo; queremos ser o primeiro banco de retalho global e, se Portugal contribuir com dois a três milhões de clientes, seria o cenário ideal para nós. É cedo para falar da ambição real, mas penso que seria ser um dos bancos no top 3 em alguns anos, em Portugal, em número de clientes. Não nos podemos comparar ainda com alguns bancos incumbentes, porque ainda não oferecemos crédito à habitação ou outro tipo de crédito, mas estou a olhar apenas para o mercado em termos de número de clientes bancários. Queremos ser um dos três maiores bancos em Portugal.
O que oferecem aos clientes?
Ainda estamos a crescer nos produtos básicos: conta-corrente, cartão de débito, levantamentos de dinheiro nos ATM, pagamentos instantâneos grátis, pagamentos peer to peer, transferências internacionais muito baratas. São os serviços que pensamos que os clientes usam todos os dias. Não se contrata um crédito à habitação todos os dias, talvez uma vez na vida. Acreditamos que ainda há muito espaço para crescer oferecendo só os produtos básicos e gratuitos, totalmente digitais e móveis. Ainda há muito espaço, incluindo em Portugal, para crescer.
Vê-se como uma banqueiro?
Eu pareço um banqueiro?
Não. Mas sente que é um banqueiro? Como é ser um banqueiro da era digital?
Nunca fui um banqueiro. Venho da área de tecnologia. Trabalhei no Barclays Bank, mas na divisão de experiência do cliente e inovação, e formei-me em Física. Nunca fui um banqueiro e os nossos fundadores não são banqueiros. Claro que temos agora pessoas com experiência de banca, muito experientes: mas somos também uma empresa de tecnologia. Aspiramos a ser como empresas como Netflix, Airbnb e Spotify. Não me vejo como banqueiro. O nosso fundador diz que a banca é muito simples: precisas de uma conta para guardar o teu dinheiro, um cartão para movimentar o dinheiro, fazer transferências para pagar a alguém. É isto que pretendemos: simplificar a banca.
Trabalhar com dinheiro é diferente de outros tipos de negócios?
Traz muita responsabilidade. Somos uma empresa de tecnologia mas somos também um banco. Infelizmente, não somos como Netflix: se perder cinco músicas, o dano não é assim tão grande. Mas se perder as poupanças de alguém o custo é muito alto.
Como protegem os clientes, em termos de cibersegurança?
Temos equipas especializadas em diferentes áreas. E a Alemanha é um dos países mais duros em termos de segurança de dados e de privacidade. Mas é sempre um desafio para bancos digitais e convencionais.
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