A semana de quatro dias seria uma “boa solução” para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), defende em entrevista à Renascença o economista e investigador de emprego no setor público Pedro Gomes, autor do livro “A Sexta-feira é o Novo Sábado – Como uma semana de quatro dias pode salvar a economia”.
A implementação de uma medida “disruptiva”, como a semana de quatro dias, teria de envolver a “contratação de mais médicos”, mas o professor associado de Economia em Birkbeck, na Universidade de Londres, acredita que o SNS iria “funcionar melhor e com menos custos”.
Casado com uma obstetra, Pedro Gomes considera que a solução para a Saúde não é “pôr os médicos a trabalhar ainda mais horas”, mas sim “haver mais médicos”.
O estudioso e defensor da semana de quatro dias considera que a medida vai criar as condições para um “aumento sustentado dos salários”, da produtividade e ajudar a resolver problemas de recrutamento.
É um defensor da semana de trabalho de quatro dias, uma alteração que estudou a fundo e para a qual propõe um modelo de aplicação apresentado no livro “A Sexta-feira é o Novo Sábado – Como uma semana de quatro dias pode salvar a economia”. Vamos começar pelos argumentos. Apresenta oito vantagens económicas para esta alteração. Por exemplo, estimula a economia. Como é que trabalhar menos dias pode estimular a economia?
Eu proponho a semana de quatro dias, não como uma medida para trabalharmos menos, mas para trabalhar melhor. Uma das vantagens económicas é o estímulo à economia através da procura das indústrias de lazer.
Para consumirmos precisamos de dinheiro e de tempo. É no nosso tempo livre que vamos aos restaurantes, aos cinemas, aos teatros, que viajamos. Com mais tempo livre aumenta a procura de várias indústrias. Basta pensar o que seria uma semana de quatro dias na Europa, com turistas alemães e franceses a passar fins de semana prolongados no sul da Europa.
Para aumentar o consumo é preciso mais dinheiro, como disse, e muitos receiam que reduzir a semana de trabalho reduza também o salário. Mas acredita que será o contrário, aumenta o salário e diminui as desigualdades.
Sim, exatamente. É preciso distinguir dois aspetos: um é a implementação da semana de quatro dias. É de facto uma mudança grande da forma como organizamos a sociedade e a economia, tal como foi a mudança do escudo para o euro. Necessariamente vai ser disruptiva.
Outro aspeto é o que acontece depois. Acredito que a semana de quatro dias vai criar as condições para um aumento sustentado dos salários. Os salários não se mudam por decreto ou por pedido do primeiro-ministro. Mudam-se por, entre outras coisas, as leis de mercado, a lei da oferta e da procura. Ao reduzir o número de horas no mercado de trabalho, aumenta a procura de trabalhadores, para os restaurantes e hotéis, por exemplo, e a produtividade que se verifica nas empresas que têm implementado os quatro dias.
Este aumento da procura de trabalhadores e uma redução da oferta de horas de trabalho vai criar as condições para um aumento sustentado dos salários.
A produtividade é justamente uma das críticas dos patrões, que não acreditam que a redução de dias de trabalho garanta o aumento deste indicador.
Não sou eu que digo, é o resultado de muitas empresas que têm adotado a semana de trabalho de quatro dias, porque melhora o negócio.
Este aumento da produtividade está relacionado com o facto de os trabalhadores, por um lado, trabalharem mais intensivamente nos outros dias, por estarem mais descansados, e por trabalharem melhor e cometerem menos erros.
Também reduz o absentismo, que é um dos grandes problemas atuais das economias, e melhora a contratação. As empresas que têm adotado os quatro dias, muitas vezes, têm problemas de recrutamento, que são generalizados agora em Portugal, em vários setores, e com esta prática os problemas de recrutamento desaparecem. Todos querem trabalhar nas empresas que oferecem quatro dias de trabalho.
Quer pela redução dos custos de treino dos trabalhadores, quer pela redução do absentismo, que implica muitas vezes contratar trabalhadores temporários que são muito mais caros, quer pela redução dos erros e dos acidentes de trabalho, quer pela redução da incidência de burnout, o negócio melhora. Isto são ganhos de produtividade.
Defende ainda que até pode haver mais atividade económica, porque as pessoas podem utilizar o tempo livre noutras atividades.
Para mim é o argumento principal. Para isso, é preciso mudarmos a forma como vemos o tempo de lazer. Quase toda a gente associa o tempo de trabalho à contribuição para a economia e o tempo de lazer como tempo morto, em que não se faz nada, e isso não é verdade.
Há muitas empresas que nasceram com trabalhadores que tinham um trabalho das 9h00 às 5h00, cinco ou seis dias por semana, e era no tempo livre que se empenhavam na sua paixão e construíram empresas ou inovação. E não estou a falar de empresas pequenas, falo da Apple, da Nike ou da Ford, que nasceram assim, no tempo livre dos trabalhadores.
Acho que isto é muito importante no contexto português. Chama-se empreendedorismo híbrido, começar uma empresa acumulando com um trabalho diurno para pagar as contas, mas depois empenhar-se na construção da empresa ao fim de semana. Isto seria uma grande oportunidade para Portugal aumentar o empreendedorismo, a criação de novas empresas.
Este aumento do tempo livre pode ser usado para inventar e criar.
Está associado. Pode-se criar e inovar com um novo produto ou uma empresa. Tudo o que é cultura vive muito disto.
Por exemplo, J.K.Rowling, autora do Harry Potter, era secretária na Amnistia Internacional e depois veio para o Porto dar aulas enquanto escrevia o Harry Potter. Qual foi a contribuição dela para a economia britânica? Foi como trabalhadora ou com o que criou no tempo de lazer? E isto passa-se muito na cultura.
Em Portugal, Carlos Paredes e António Variações tinham empregos, mas ficaram conhecidos como artistas. Em Espanha, Pedro Almodóvar trabalhou para a Telefónica durante 12 anos, enquanto estudava cinema e escrevia guiões.
Não podemos ver o tempo de lazer como tempo morto para a economia e temos de pensar nas vantagens económicas que também traz.
Defende ainda que esta também pode ser a resposta a uma ameaça crescente, que advém da polarização da sociedade, que é o crescimento dos movimentos populistas?
Pensarmos em economia, não é só tentar melhorá-la, pô-la a crescer, é também protegê-la dos riscos que existem. E um dos riscos maiores para as economias mundiais atualmente é o populismo. Vimos o que aconteceu com Trump, vemos o que aconteceu no Reino Unido, com o Brexit, que foi uma resposta a um descontentamento das pessoas que veem que as suas vidas não estão melhor do que as vidas dos seus pais há 30 anos.
Com a semana de quatro dias toda a gente está de acordo, todos gostam da ideia, em qualquer inquérito 80% a 90% das pessoas dizem que gostavam de ter uma semana de quatro dias. Agora podem ter medo, porque dizem que vai trazer mais riscos para a economia, mas como ideia não divide as pessoas, une.
Acho que podemos unir, quer a esquerda quer a direita, quando ouvir todos os argumentos, em torno desta ideia e imagine o que seria daqui a cinco anos se Marine Le Pen ganhar as presidenciais francesas, o risco que isso coloca à União Europeia e toda a economia europeia.
Se no final os meus argumentos económicos não convencerem, mas evitar uma Marie Le Penn no Eliseu, então terá valido a pena.
Em Portugal demos agora um passo na semana de quatro dias, com a aprovação no Parlamento da discussão e início de um teste piloto, embora tenha contado com os votos contra de toda a direita. Há uma clara divisão ideológica.
É uma coisa que quero mudar e espero conseguir com o meu livro. Vejo a semana de quatro dias como uma inovação social, uma melhor forma de organizar a economia no século XXI e não vejo como uma política partidária. Basta perguntar: o fim de semana, o sábado e o domingo, são da direita ou são da esquerda?
Não devemos ver isto de uma forma partidária. Atualmente, esta proposta vem mais da esquerda do espectro político. Mas, quando escrevi o livro, metade dos argumentos são mais à esquerda, outra metade dos argumentos económicos são mais à direita. Acredito que quando pessoas ligadas ao setor empresarial, ao PSD, à Iniciativa Liberal quiserem ler o livro e tentar pensar, podem apoiar a ideia. Seria muito importante, se de facto queremos implementar, haver um grande consenso na sociedade, no espectro político, e era muito importante ter partidos de direita envolvidos na implementação.
Eu digo que é uma forma melhor de organizar a economia. Agora, a implementação vai ser disruptiva, porque vamos alterar a forma como organizamos a sociedade e nessa implementação era muito importante ter as vozes da direita e do setor empresarial. A medida tem o potencial de nos unir.
Apresentou várias vantagens, mas ainda não respondem a todas as críticas, que também chegam dos trabalhadores. Há, por exemplo, receios que a redução do horário prejudique a progressão na carreira, ainda muito associada ao número de horas trabalhadas.
A investigação económica o que diz é que, infelizmente, as promoções dentro de uma empresa muitas vezes estão associadas não tanto à produtividade do trabalhador, mas ao número de horas que passa no emprego, independentemente da qualidade do trabalho que faz.
Na verdade, numa empresa com muitos trabalhadores é muito difícil medir a produtividade de um trabalhador, sobretudo quando se funciona em equipas. Muitas vezes usa-se o número de horas que se está no emprego como forma de promover. Isto prejudica sobretudo mulheres, que muitas vezes são as que, fazendo todo o trabalho, saem mais cedo e muitas vezes são penalizadas.
A semana de quatro dias elimina este efeito, implica um foco muito maior no trabalho, na qualidade do trabalho, em medir a produtividade de uma equipa e de um trabalhador.
Estudou este processo a fundo e propõe um modelo para aplicar a medida, que passa por envolver todos os agentes económicos e fazer a alteração de cima para baixo. Quer explicar?
Estudei a passagem dos seis para os cinco dias de trabalho, que começou sempre com empresas. Nos Estados Unidos, a Ford mostrou que a semana de cinco dias funcionava como tática de gestão, mas não se generalizou sem uma legislação que forçasse as empresas maiores a adotar os cinco dias como norma.
Eu vejo o mesmo processo agora. Muitas empresas, que não são tão grandes como a Ford era na altura, mas são muitas. Há um grande movimento, no Reino Unido, 70 novas empresas aderiram a um teste na semana de quatro dias, mais de 3.000 trabalhadores.
Em todo o mundo estão a adotar esta prática de gestão, estão a mostrar que funciona e que melhora o negócio. Mas não podemos ter esperanças que todas as empresas vão seguir, um pouco como o teletrabalho, que já existia antes, mas nenhuma empresa utilizava, teve de vir um vírus para pôr toda a gente a trabalhar de casa e percebermos que em muitas situações funciona muito bem.
É o mesmo processo. Vai ter de vir de cima para baixo. Pode ser por legislação, pode ser por concertação social, por acordos entre sindicatos e patrões. Mas tem que ter sempre um enquadramento legal de cima para baixo. É uma questão de coordenação, quando estamos todos coordenados na semana de cinco dias, é muito difícil uma empresa individualmente adotar ou uma pessoa passar a trabalhar a tempo parcial, a mudança tem de vir de cima. Vai ser um processo longo, começar com o projeto piloto é um bom começo de discussão.
E é necessário que seja acompanhado de uma redução salarial?
Não, acho que não. No livro falo em oito formas de ajustamento para as empresas. Não é só apenas o corte de salário ou o aumento de duas horas nos outros dias. Isto são duas versões extremas de implementação. Temos de procurar em cada setor, cada empresa a forma de fazer essa implementação.
Os cortes de salário em Portugal são para evitar para 80% da população que ganha abaixo de 2.000 euros por mês. Os salários são muito baixos em Portugal, é uma linha vermelha que se deve ter.
O horário deve ser concentrado ou pode ser reduzido?
As horas trabalhadas nos outros dias já variam muito entre setores. Há setores onde a semana de trabalho já é de 35 horas, por exemplo, nos seguros, aí poderá ser implementado com o reajustamento das horas nos outros quatro dias.
Quando se trabalha 40 horas, transferi-las para quatro dias é demasiado como solução genérica. Mas, por exemplo, aumentar meia hora nos outros dias de trabalho ou mesmo uma hora compensa logo um quarto ou metade do ajustamento.
Depois há os aumentos de produtividade, que podem ser diferentes entre setores, mas que existem.
Esta é uma medida para aplicar como um penso rápido ou de forma progressiva?
Não temos de fazer esta passagem de um dia para o outro. Podemos fazer ao longo de vários anos, eu falo em cinco, para que seja mais gradual e evitar cortes de salários no momento da implementação.
Um aumento de preços também pode ajudar a evitar o corte de salários?
Sim, há setores onde, se a legislação afetar todas as empresas e tiverem de contratar mais trabalhadores (o que iria reduzir o desemprego), podem refletir esse aumento dos custos nos preços, no caso de os ganhos de produtividade não serem os suficientes.
Isto é válido para todos os setores?
Não. É possível nos setores que os economistas chamam de não transacionáveis. Por exemplo, nos cortes de cabelo pode-se refletir um aumento de preço. Não vai gerar necessariamente inflação, porque não é uma subida generalizada de todos os preços, apenas de alguns.
Também fala em redução de lucros ou subsídios como alternativas.
Os subsídios já foram aplicados, por exemplo, com o lay-off, muitas empresas trabalharam quatro dias por semana e o Estado compensou uma parte. Eu acho que é uma solução a evitar para a maioria. Em Portugal, sempre que se pensa em economia envolve sempre dinheiro ou subsídios, penso que não é preciso para a generalidade dos sectores mas pode ser utilizado pontualmente.
Quanto aos lucros, há muitas empresas, sobretudo multinacionais e empresas em bolsa que têm poder de mercado e capacidade financeira de implementar a semana de quatro dias, mesmo que envolva alguns custos iniciais.
Terão capacidade, mas os acionistas estarão disponíveis para abdicar de parte dos lucros?
Isso é outra questão, por isso a medida deve ser aplicada de cima para baixo e vir do Estado. Eles têm a capacidade financeira e, se houver alguma legislação, começa sempre com as grandes empresas e só passado muitos anos aumenta a abrangência da lei para pequenas, médias e micro empresas.
Pode haver resistência dos acionistas, mas espero que possam ser persuadidos.
Portugal já tem luz verde para o projeto-piloto, mas vários países já estão a executar experiências. Partimos com atraso?
Penso que é o passo correto a dar, dado que partimos de uma discussão praticamente nula sobre a semana de quatro dias. Qualquer passo maior só poderá vir se houver um apoio mais alargado, mais do centro e mais à direita. Pode parecer muito estranho agora, mas eu acredito que possa vir. Por exemplo, na Bélgica, a concentração do horário de 38 horas em quatro dias veio de um governo que envolve socialistas e liberais.
No contexto atual, a criação de um grupo de trabalho que seja abrangente, que envolva economistas, sociólogos, juristas, sindicatos e pessoas envolvidas com o setor empresarial, é um bom começo.
Há setores essenciais que devem participar neste projeto?
Deve ser relativamente transversal a vários setores. Mas dadas as notícias sobre as urgências de obstetrícia, deixe-me dar este exemplo.
Existe muito a visão de que implementar no Sistema Nacional de Saúde seria muito difícil, porque os médicos a trabalhar quatro dias não podiam tratar tantas pessoas como tratam em cinco. Este tipo de raciocínio é falacioso, o que é importante e que temos que pensar não é se um médico consegue tratar tantos pacientes em quatro dias, como em cinco, é se o sistema consegue tratar os mesmos pacientes com menos custos.
O Sistema Nacional de Saúde paga um salário aos trabalhadores, mas depois tem muitos custos, por exemplo, com horas extraordinárias, tarefeiros que são pagos a três vezes o salário, quando um médico está doente e não pode vir.
Existem muitos erros médicos e depois custos legais e de compensação por erros médicos. E isto está tudo relacionado com o facto de os médicos estarem a trabalhar muitas horas e está muito estudado na literatura: quanto mais longos forem os turnos, quanto mais horas trabalham por semana, é mais normal haver mais absentismo, médicos ficarem doentes e não aparecerem, acumulam-se mais erros médicos, não por serem maus médicos mas por estarem cansados. E tudo isto traz custos enormes para o sistema nacional de Saúde.
Mas o SNS está em condições de aplicar a semana de quatro dias sem alterações?
Acho que a semana de quatro dias seria uma boa solução para ser pensada para o Serviço Nacional de Saúde. Tinha de envolver, necessariamente, a contratação de mais médicos. Mas isso não quer dizer que o sistema não funcionasse melhor e com menos custos.
Tínhamos de acrescentar à equação quanto é que se gasta com horas extraordinárias e tarefeiros, quanto é que se gasta com indemnizações e custos legais, quanto é que se gasta na formação de médicos, que depois não querem trabalhar para o Sistema Nacional de Saúde porque o trabalho é muito intenso.
A minha mulher é obstetra, aqui em Inglaterra, sei muito bem o quanto eles trabalham e pensar que os problemas de contratação de médicos podem ser resolvidos a pôr os médicos a trabalhar ainda mais horas é não estar a pensar na solução. Tem sempre que passar por trabalharem menos horas, haver mais médicos.
Esta também pode ser uma solução para atrair profissionais, não só na área da saúde, mas em todas as áreas? Inclusive para o interior.
Sim, para o interior ou em relação aos restaurantes e hotéis, por exemplo. Dizem que é muito difícil contratar trabalhadores e, portanto, não se pode implementar a semana de quatro dias. Então a solução parece que é fazer ainda mais horas extraordinárias, nem sempre pagas, tornar o trabalho ainda mais intenso e pensar que é assim que vamos contratar? Não é assim.
Os testes piloto têm contrariado estas teorias?
As empresas que experimentam a semana de trabalho de quatro dias como prática de gestão fazem-no exactamente porque vai melhorar esse recrutamento. Porque, de facto, as pessoas valorizam o trabalho não apenas pelo salário, mas também pelas condições de trabalho, incluindo o número de horas e os dias de trabalho. E, portanto, isto pode ser uma vantagem para todas as empresas que estão a ter dificuldades de contratação, serão solucionadas com uma semana quatro dias.
Para as pessoas que trabalham em empresas ou que têm empresas e que estão a ouvir, eu acho que o risco não é tanto experimentar a semana de trabalho de quatro dias e depois correr mal. O risco é que um dos seus concorrentes implemente a medida e que depois levem todos os funcionários, porque uma empresa que implemente a semana de quatro dias agora vai ter uma vantagem competitiva enorme.
Já falou da experiência piloto que começou este mês no Reino Unido, é até ao momento a maior no mundo deste género? Qual é a expetativa, que conclusões é que espera que saiam deste teste?
A experiência está a ser levada a cabo por uma organização chamada “Four Day Week Global”, que é uma associação sem fins lucrativos que foi fundada por um dos empresários da Nova Zelândia, que implementou a semana de quatro dias na sua empresa com resultados. Funcionou muito bem e, portanto, está a apoiar outras empresas em todo o mundo a fazerem essa mudança.
Existem projetos-piloto na Nova Zelândia, na Austrália, na Irlanda, nos Estados Unidos e agora no Reino Unido. Eu conheci uma das professoras, a socióloga Juliet Shoer, de Boston, que está envolvida na medição dos ganhos. O que se vê nos resultados preliminares é que a empresa funciona tão bem como antes, reduz muito as visitas aos sites do Facebook e tudo o que não é relacionado com o emprego, porque as pessoas conseguem separar melhor o tempo de trabalho e o tempo de lazer, reduz muito o stress e o burnout.
As medidas de produtividade normalmente são muito específicas de cada empresa. A medição da produtividade é muito difícil em qualquer empresa. Em geral, melhoram. É por isso que as empresas que têm testado muitas vezes mantêm esse formato, os lucros aumentam e todas vão dizer que não querem voltar atrás.
Nós estamos muitas vezes presos a uma forma de trabalhar só porque sempre foi assim e é quando se sai dela que nós conseguimos perceber que há outras formas melhores de trabalhar. Na pandemia, mudámos a forma como trabalhávamos e vimos que podia funcionar tão bem como antes. Esta é a melhor forma de trabalhar na economia do século XXI.
Já anda a defender a semana de quatro dias há algum tempo, quem são os mais céticos a esta alteração?
Para começar, os economistas académicos tendem a ser muito céticos, pela forma como veem a economia.
Quem está a liderar o movimento são os empresários, associações não-governamentais que estão a apoiar as empresas na mudança, os académicos, desde sociologia, direito, estudos de género e sobretudo de ambiente.
Quem está a chegar atrasado são sobretudo os políticos, mais ao centro, os sindicatos e as associações patronais, se calhar mais institucionais, que nem sequer estão a olhar para esta prática de gestão.
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