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Ainda não há decisões tomadas, mas os trabalhadores da banca e os sindicatos estão prontos para aumentar a pressão sobre as instituições que têm em curso processos de saída de colaboradores. “Prevê-se que seja um final de verão muito quente para os bancários”, garante Mário Mourão, presidente do SBN – Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal. “É possível que os sindicatos acabem por radicalizar as suas ações. Se os bancos insistirem no despedimento coletivo, não está excluída uma greve no setor”, adiantou.
Por trás da contestação está um dos maiores movimentos de despedimentos na banca de que há memória. Só no segundo semestre deste ano poderão sair do setor até dois mil trabalhadores, dos quais quase 1600 do Millennium bcp e do Santander.
Nos últimos dias, a situação nos dois grandes bancos com os maiores processos de redução de quadros evoluiu. Terminados os prazos de resposta dos trabalhadores a propostas de saída apresentadas pelo Santander e pelo BCP, há já alguma clareza sobre o que se segue em cada uma das instituições. No caso do Santander, o banco anunciou que vai dar início ao despedimento de 350 bancários que recusaram propostas para sair. No BCP ainda não há dados oficiais, mas, segundo apurou o Dinheiro Vivo/DN, cerca de 300 terão recusado as propostas.
O BCP já tinha colocado a hipótese de avançar para um despedimento coletivo dos trabalhadores que rejeitassem sair no âmbito do plano de reestruturação.
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Protestos endurecem
O anúncio de greves por parte de sindicatos dos bancários pode surgir já na próxima semana. Para já, os sindicatos não confirmam quais serão as próximas ações de protesto. Mas asseguram: “Os sindicatos não vão ficar indiferentes ao que se passa. O mês de setembro vai ser quente, sem dúvida”, sublinha Paulo Marcos, presidente do SNQTB – Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários. “Podemos garantir que isto ainda não acabou.”
Paulo Marcos e Manuel Lopes, da União dos Sindicatos Independentes, foram recebidos na passada sexta-feira, em audiência, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. “Explicámos ao Sr. Presidente que os despedimentos que estão a ser feitos carecem de racionalidade económica. Estamos a falar de empresas com acionistas estrangeiros, muito lucrativas, que estão a impor despedimentos a trabalhadores portugueses”, vinca Paulo Marcos. E destaca que “as grandes empresas sistémicas que estão a afastar grande número de pessoas – como a Altice, o Santander e o BCP – pertencem a setores que não foram afetados pela crise” pandémica.
Da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa os dois sindicalistas trouxeram a esperança de que o Presidente vai acolher as preocupações acerca dos grandes processos de despedimentos em curso. “O tema político ainda está a fazer o seu caminho”, admite o presidente do SNQTB. Mas os sindicatos não vão ficar à espera de uma salvação por parte do governo ou da Assembleia da República e estão a arregaçar as mangas. Greves, protestos e ações de impugnação estão em cima da mesa. “Na próxima semana iremos ter reuniões para fazermos um ponto de situação. Não vamos aceitar o despedimento coletivo”, frisa Mário Mourão.
Para sindicatos e comissões de trabalhadores é mesmo incompreensível a dimensão da redução do número de trabalhadores no setor da banca, uma vez que “não foi um dos setores afetados pela crise”. “Todos os bancos têm lucros. Até o Novo Banco já tem lucros”, lembra o líder do SBN.
Todos os bancos no verde
No caso do Santander, o lucro líquido em Portugal ascendeu a 81,4 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, o que representa uma queda homóloga de 52,9%. O banco liderado por Pedro Castro e Almeida justificou que nos primeiros três meses deste ano “foi registado um encargo extraordinário, no valor de 164,5 milhões de euros, para fazer face ao plano de transformação em curso”. A casa-mãe espanhola anunciou, por sua vez, que registou um lucro atribuível consolidado de 3675 milhões de euros na primeira metade de 2021.
Quanto ao BCP, registou lucros de 12,3 milhões de euros no primeiro semestre de 2021, o que corresponde a uma queda homóloga de 84%. O banco explicou a queda dos resultados com “o reforço de 214,2 milhões de euros das provisões para riscos legais associados a créditos em francos suíços concedidos na Polónia e itens específicos de 87,2 milhões de euros em Portugal, respeitantes essencialmente a custos de reestruturação”.
Na atividade em Portugal, o banco registou um lucro líquido de 45,1 milhões de euros no primeiro semestre de 2021, “mantendo-se em linha com o montante apurado no mesmo período de 2020”. A instituição liderada por Miguel Maya prevê poupar 35 milhões de euros com a saída de até 900 pessoas.
Desde que os dois bancos anunciaram os planos de reestruturação que tem havido contestação. Os sindicatos têm acusado o BCP, o Santander, bem como outros com processos semelhantes, de estarem concertados numa estratégia de despedimentos no setor. Acusaram também as instituições financeiras de pressionarem e assediarem os trabalhadores.
Contestação contra “assédio”
Os sindicalistas garantem que os bancários dispensados estão a ser substituídos por trabalhadores externos em situação precária. Sindicatos, comissões de trabalhadores e banqueiros foram mesmo ouvidos numa comissão parlamentar sobre os despedimentos em curso, e quer o presidente executivo do BCP quer o CEO do Santander rejeitaram essas acusações, bem como as de assédio com vista a que os trabalhadores aceitem sair.
A contestação promete agora subir de tom, depois de, a 13 de julho, os sete sindicatos bancários se terem juntado pela primeira vez para se manifestarem em frente à Assembleia da República. Com a demora da justiça a afastar o recurso ao litígio legal, serão usadas “todas as outras armas”.
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