Um pouco por toda a Europa, o setor das feiras e eventos procura reinventar-se. A aposta no digital é uma obrigatoriedade e as empresas procuram, agora, avançar com iniciativas em formato híbrido. Foi o que aconteceu em Lisboa com o Portugal Smart Cities Summit e vai acontecer, já na próxima semana, com o SIL, Tektónica e Intercasa, mostra das fileiras do imobiliário, materiais de construção e decoração. A Norte, a Exponor “continua sem condições para retomar a atividade”.
As perdas em 2020 serão “muitíssimo significativas”, admite Paulo Vaz, administrador da Exponor. Maria João Rocha de Matos, diretora-geral da AIP-Feiras Congressos e Eventos, assume que as estimativas são para uma quebra da faturação da ordem dos 80%. “É imperativo que haja apoios especiais para relançar o setor, tal como está a acontecer noutros países da União Europeia”, sublinha.
Num ano normal, a Fundação AIP recebe, nos três equipamentos que gere, a FIL-Feira Internacional de Lisboa, Centro de Congressos de Lisboa e PT Meeting Center, cerca de 170 eventos, dos quais 20 próprios e 150 de terceiros. Neste ano, dos 15 eventos próprios previstos fez três, antes do confinamento, e o Portugal Smart Cities Summit em setembro. Quatro foram adiados para 2021, caso da BTL e da Futurália, e dois estão agendados, o já referido SIL, de 8 a 11 de outubro, e o Portugal Exportador, agendado para 18 de novembro, na FIL. Há mais em análise, como a Natális e a FIA-Feira Internacional do Artesanato.
Dos eventos de terceiros, foram realizados 23 e mais cinco decorrerão até ao final do ano. Cancelados ou adiados foram 58, mas Maria João Rocha de Matos diz que “há ainda eventos em negociação” para este ano e que, nos últimos meses, foram assinados 25 novos contratos para eventos a realizar em 2021, 2022 e anos posteriores. “Tão importante como voltar a realizar eventos é perceber como o mercado é unânime, não só em Portugal como no resto da Europa, ao reconhecer que os eventos físicos, o chamado face to face, são essenciais. Se há coisa que todos ficámos a conhecer durante este período de pandemia foram os limites das plataformas digitais no que respeita à relação entre as pessoas”, sublinha.
Já a Exponor recebeu, apenas, quatro feiras até ao início de março, das 25 que faz em média por ano. Para Paulo Vaz é incorreto dizer que o negócio das feiras recomeçou em setembro, considerando que sucederam, em alguns países, eventos de dimensão mais pequena, procurando sempre respeitar as respetivas limitações sanitárias. “A Exponor/Fiporto fechou por imposição das limitações de ordem sanitária, decorrentes da pandemia, a que acresceram as restrições legais superiormente impostas, e, com todas estas razões somadas, continua sem condições para retomar a atividade”, indicou este responsável em resposta escrita.
Opção digital
Sobre a estratégia para o próximo ano, a Exponor não avançar ainda com pormenores. “Estamos a estudar o plano para 2021, obviamente dependente da forma como vai evoluir a pandemia”, diz Paulo Vaz. Questionado sobre a intenção de realizar também certames virtuais ou híbridos, a reposta é que “está nas intenções” da empresa “considerar, igualmente, essas modalidades”.
A Exponor fechou 2018 com resultados históricos de 8,1 milhões de euros e, o ano passado, faturou 7 milhões. Previsões para este ano? “Não temos ainda números fechados para 2020, mas será uma quebra muito significativa”, assegura o responsável. Mesmo com um cenário tão difícil, os empregos foram mantidos. A Exponor conta com 40 trabalhadores, que estiveram em lay-off até 30 de junho e estão agora no regime de retoma progressiva. “Não cortámos postos de trabalho”, frisa Paulo Vaz.
Já Maria João Rocha de Matos garante que a FIL e o Centro de Congressos de Lisboa estão a “abraçar o digital e o híbrido”, encarando-os como uma “nova oportunidade” de negócio. “Não obstante termos consciência que o físico é para nós a âncora, nesta mudança de paradigma a que todos assistimos, já não será possível deixar para trás o digital, pois este permite o alcance a uma audiência que nenhum organizador de eventos, como é o nosso caso, se pode dar ao luxo de perder”, sustenta.
A dirigente não tem dúvidas que o setor dos eventos “vai mudar”, mas garante que “é estratégico” para o grupo Fundação AIP, nomeadamente através da Lisboa Feiras Congressos e Eventos (Lisboa FCE), fazer parte desta mudança. “Pretendemos que o digital, sempre complementar ao físico, passe a ser uma realidade quer nas feiras organizadas por nós, quer como produto diferenciador para os nossos clientes dos eventos de terceiros, tendo como objetivo principal a satisfação e a garantia de qualidade e segurança, cumprindo escrupulosamente as orientações da DGS”, frisa.
Em paralelo, a estratégia para 2021 passa ainda por um “reforço ao nível da comunicação e das parcerias”. A Fundação AIP e as suas participadas pretendem “posicionar-se estrategicamente em relação à concorrência” e “dar uma resposta de valor acrescentado aos clientes e visitantes”. E, apesar da situação atual, Maria João Rocha de Matos garante que as empresas do grupo têm “bastantes razões para estar otimistas e ter esperança no futuro”, motivados pelo desempenho que o setor estava a ter antes da pandemia, mas também pela perceção de que “há um grande interesse para que o setor regresse, em pleno, com a maior brevidade possível”.
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