A Associação Têxtil de Portugal (ATP) diz que o sector está em risco de parar por causa do coronavírus por causa de dificuldades na obtenção de matéria-prima
“A experiência levou a que se começasse a trabalhar com ‘stocks’ baixos, que nunca chegam para meses”, diz à Renascença o presidente da ATP, Mário Jorge Machado. “Se este problema não se resolver dentro de algumas semanas, as situações poderão ser bastante mais complicadas.”
O presidente da ATP diz que o encerramento temporário de unidades de produção pode chegar já no mês de março.
De acordo com Mário Jorge Machado, até agora, nenhum dos associados da ATP foi obrigado a suspender a produção, mas esta semana, a Calvelex, filiada na Associação Nacional das Industrias de Vestuário e Confecção (ANIVEC), teve de parar parte da sua produção.
A têxtil de Lousada, com fábricas também em Matosinhos e Vila Nova de Gaia e que tem cerca de 600 trabalhadores, suspendeu a produção até final do mês por falta de matérias-primas, como botões, etiquetas e forros.
A Renascença tentou, sem sucesso, ouvir o líder da Calvelex, que é também presidente da ANIVEC.
Por sua vez, o Sindicato dos Trabalhadores dos Sectores Têxteis, Vestuário, Calçado e Curtumes do Distrito do Porto (SINTEVECC) afirma que, por agora, apenas tem conhecimento da suspensão temporária de atividade da têxtil de Lousada. O sindicado revela também que nenhum dos trabalhadores pediu apoio.
Portugal como solução
O presidente da ATP não esconde que o problema do coronavírus constitui uma oportunidade para o têxtil português porque “muitos compradores europeus de produtos têxteis estão a procurar fornecimento em Portugal”, em busca de “um fornecimento de mais proximidade”, por terem percebido, com esta crise, que “estarem dependentes em exclusividade da zona da Ásia pode ser um problema”.
“É uma lição importante para quem é comprador de produtos têxteis” perceber que ” se deve manter fontes alternativas de abastecimento”. Nesta perspetiva, “Portugal está muito bem posicionado para ser uma fonte que pode responder às necessidades daquilo que é o consumo de produtos têxteis na Europa e não só”.
Na semana passada, a imprensa espanhola revelava que a fileira têxtil do país – na qual se inclui a Zara – estava a estudar alternativas à China e que Portugal poderia ser uma opção válida.
O presidente da ATP defende que a Europa tem de refletir sobre a importância da reindustrialização. Mário Jorge Machado afirma que “a reindustrialização como importância da criação de riqueza num país e como importância estratégica para um país e para o seu ciclo económico tem de ser pensada e reavaliada sobre as decisões que temos tomado”.
“Temos de pensar como o Continente e como o país devem atuar para que a indústria tenha um papel relevante na economia.”
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