//Sindicatos da função pública tiram greve do confinamento

Sindicatos da função pública tiram greve do confinamento

Após mais de um ano de pandemia, a primeira grande greve alargada tem hoje lugar na função pública, num dia nacional de luta promovido pelos sindicatos da Frente Comum, aos quais se juntam Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local e Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa. A Fenprof marca também presença numa concentração marcada para o Palácio da Ajuda, onde o governo se reúne.

“É a primeira grande ação da Frente Comum a nível nacional e abrangendo já um largo conjunto de trabalhadores desde o início da pandemia”, reconhece Sebastião Santana, coordenador da Frente Comum. A saída à rua é pelo reforço de serviços públicos, por aumentos, mexidas nas carreiras, revogação do sistema de avaliação e revisão da tabela salarial.

Mas, se este é o primeiro desconfinamento de impacto na ação sindical, até abril, os números da Direção-Geral da Administração do Emprego Público mostram já 174 pré-avisos de greve na função pública, acima dos 163 que se registavam em igual período de 2019, ano em que o recurso à greve tocou um máximo de seis anos.

A última greve geral no setor – então com todas as estruturas sindicais – ocorreu a 31 de janeiro do ano passado. Já com a pandemia em Portugal, uma outra paralisação marcada para 20 de março acabou por ser desconvocada . Agora, ainda há cautelas: o setor da saúde fica fora da ação nacional. “Todos os outros estão em condições de demonstrar o seu descontentamento”, diz Santana.

À exceção de abril, maio e agosto do ano passado, os sindicatos da função pública foram lançando pré-avisos de greve. No setor privado e no setor empresarial do Estado também sucedeu o mesmo, e houve mais ações para além da greve. Mas, sem o impacto de uma grande paralisação ou a visibilidade concentrações largas de trabalhadores. A negociação coletiva também sofreu.

“As habituais formas onde se expressam as contradições da sociedade – conflitos, instâncias de diálogo, negociação – também sofreram este choque e esta relativa paralisia”, reflete Elísio Estanque, sociólogo que estuda o movimento sindical. O confinamento relativo em que viveram os cadernos reivindicativos dos sindicatos é agravado por novas organizações de trabalho, que apartam trabalhadores, e que ganharam força na pandemia. “Com o impacto da covid, do trabalho à distância e das plataformas digitais, a individualização tornou-se muito mais patente”.