Os sindicatos dos trabalhadores da Groundforce exortaram esta terça-feira a administração da empresa a adotar medidas para garantir que não se verifiquem problemas de tesouraria em maio, após esta assegurar ter liquidez para os salários de abril.
Em comunicado conjunto, os nove sindicatos revelaram que questionaram o presidente do conselho de administração relativamente “ao futuro da empresa” de “handling” e dos seus cerca de 2.400 trabalhadores, além de terem colocado em causa a “existência de condições” para Alfredo Casimiro continuar a liderar a empresa.
“Exortámos ainda a que a administração adote as medidas possíveis, neste momento, a fim de garantir que não se verifiquem problemas de tesouraria no mês de maio, uma vez que, conforme já havíamos transmitido, a empresa já havia assegurado ter liquidez para os salários de abril”, revelaram os sindicatos.
As estruturas sindicais da Groundforce insistiram, também, que “a escassez de informações” sobre o futuro da empresa “não está desligada do facto de se tratarem de matérias sensíveis”, algumas das quais “envolvendo sigilo bancário”, pelo que, frisam, os trabalhadores não devem “encarar a ausência de informação com o facto de nada estar a acontecer”.
Segundo os sindicatos, é “indiscutível” que a Groundforce vinha de vários anos de resultados positivos e foi drasticamente afetada pela pandemia de Covid-19, pelo que “não estamos perante uma empresa com problemas estruturais”, mas sim de um “gravíssimo problema conjuntural” que necessita de “respostas adequadas de todos os acionistas”.
“Todas as organizações representativas de trabalhadores demonstraram a sua enorme preocupação com o atual estado de instabilidade em que a empresa se encontra mergulhada e para o qual são necessárias medidas urgentes de estabilização e viabilização da mesma”, frisam as organizações sindicais.
O acionista privado da Groundforce, Alfredo Casimiro, passou na segunda-feira a ser o presidente executivo da empresa de “handling”, substituindo no cargo Paulo Neto Leite.
Em comunicado, a Pasagol, de Alfredo Casimiro, acionista maioritário da Groundforce (50,1%), explicou que “a destituição de Paulo Neto Leite, com efeitos imediatos, justifica-se por um conjunto de situações que configuraram uma violação grave dos deveres de lealdade”.
Em 19 de março, depois de várias negociações, a Groundforce e TAP chegaram a um acordo, em que a companhia aérea adquiriu por cerca de sete milhões de euros equipamentos da empresa de “handling” (assistência nos aeroportos), que passa a pagar à TAP pelo aluguer deste material.
Este acordo permitiu desbloquear provisoriamente o impasse na empresa e pagar os salários em atraso aos 2.400 trabalhadores.
O acordo foi fechado com três votos a favor – os dois administradores nomeados pela TAP e o presidente executivo da empresa de “handling”, Paulo Neto Leite, a abstenção do presidente do Conselho de Administração, Alfredo Casimiro, e um voto contra, disse então à Lusa fonte ligada ao processo.
Segundo adiantou à Lusa a mesma fonte, os dois administradores da Groundforce nomeados pela TAP, acionista minoritário (49,9%), aprovaram o acordo, a que se juntou o presidente executivo da empresa de “handling”, Paulo Neto Leite (nomeado pela Pasogal), que já tinha manifestado na véspera a sua intenção de validar o acordo proposto pela TAP.
Por seu lado, o presidente da Pasogal absteve-se e o outro administrador nomeado pelo acionista privado, Gonçalo Carvalho, votou contra.
Numa carta aos trabalhadores, Alfredo Casimiro recordou na segunda-feira que as restrições à circulação na aviação, devido à pandemia de Covid-19, afetaram a tesouraria e os resultados da empresa de “handling”.
“Desde a primeira hora que recorremos aos instrumentos que o estado português disponibilizou às empresas, particularmente solicitando ao ministro da tutela um aval de estado para um financiamento essencial à manutenção da atividade da empresa. Não tendo sido obtido este aval a Groundforce mergulhou numa profunda crise de tesouraria cuja principal consequência foi a incapacidade de pagamento atempado dos salários de fevereiro”, refere, sublinhando que “este financiamento é essencial”.
A Groundforce é detida em 50,1% pela Pasogal e em 49,9% pelo grupo TAP, que, em 2020, passou a ser detido em 72,5% pelo Estado português e que é acionista minoritário e principal cliente da empresa que presta assistência nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Porto Santo.
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