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O antigo ministro das Finanças socialista, Fernando Teixeira dos Santos, afirmou esta quinta-feira, durante a conferência anual da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), que “Portugal tem um sério problema de poupança de longo prazo” com impacto negativo na produtividade e nos rendimentos do país. Por isso, defendeu benefícios fiscais para incentivar as empresas a criar planos de poupança para complementar a reforma dos seus trabalhadores.
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“A existência de um plano a nível empresarial e enquadrar as pessoas nesse pilar de poupança é fundamental para melhorar a poupança nacional e é preciso ver de que forma é possível gerar os melhores incentivos para que as empresas estejam predispostas para avançarem com este tipo de planos”, salientou Teixeira dos Santos.
O antigo governante notou que “há já uma perceção de que a taxa de substituição” do valor da reforma face ao último salário”não é 100%”. Teixeira dos Santos ressalvou, porém, que “ainda há muita gente que vive na ilusão, que acredita” que a pensão será igual ao ordenado. “Como a tendência demográfica é inescapável, a situação vai agravar-se e o fator de sustentabilidade no cálculo das pensões vai ter repercussões e isso pode ser um incentivo para que as pessoas acordem para a necessidade de pouparem mais para compensar uma pensão que será cada vez mais reduzida no decorrer do tempo”, vincou.
Preocupado com o património financeiro das famílias, o antigo ministro revelou que, “nos últimos anos, cerca de 48% do património corresponde a depósitos, cerca de 33% a ações ou unidades de participação e 16% a fundos de pensões”. “A parcela da componente de fundos de pensões no património das famílias atingiu um pico em 2019 e a partir daí reduziu-se. O que é que está errado?”, atirou. Na perspetiva do economista, para resolver este problema será necessário “maior agressividade comercial e alguma inovação financeira para ter produtos atrativos”.
A reduzida poupança também tem impactos negativos ao nível da produtividade e dos rendimentos do país. Fernando Teixeira dos Santos insistiu que “o reforço da poupança nacional tem de passar pelo reforço da poupança de longo prazo”, que é “o porta-aviões da poupança”.
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Teixeira dos Santos reconheceu que Portugal atingiu “algo inédito que é ter uma situação de equilíbrio externo sustentado e que só foi perturbando pela pandemia”. “Nestes dois séculos, Portugal nunca teve tantos anos de equilíbrio líquido externo como teve desde 2012 e isso teve muito a ver com a recuperação da poupança”, sublinhou.
Apesar desta melhoria, o antigo ministro de José Sócrates considerou que “a poupança ainda é insuficiente”. “Portugal poupou algo que rondou os 18% do PIB o que compara com 25% em termos de média da Zona Euro”, detalhou.
E reduzido nível de poupança está “relacionado com a produtividade”. E acrescentou: ” Se a produtividade não melhora, não é possível melhorar os rendimentos e se o anseio é melhorar os níveis de vida, temos de melhorar a produtividade mas para isso precisamos de investimento, de capital e aí a poupança assume um papel central para ultrapassar o bloqueio para o crescimento e melhoria de rendimentos”.
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