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O que representa este prémio?
É uma grande honra, é um prémio que distingue mulheres notáveis em todo o mundo, em 43 países. E um prémio que distingue as pessoas que venceram pelo seu sucesso, pelo seu empenho, e servem de inspiração a outras mulheres.
Têm sido dados passos no sentido certo para a igualdade?
Estamos no percurso correto. É um percurso em que as mulheres vieram do nada para estarem à frente de grandes empresas. E em Portugal temos exemplos de mulheres à frente de grandes empresas. É óbvio que para uma mulher chegar ao topo tem mais entraves que um homem. Há imensos obstáculos que as mulheres têm que superar, com mais dificuldade que os homens. No entanto Portugal tem, em gestão de topo, números muito interessantes a nível europeu.
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E nos cargos políticos e instituições públicas?
Penso que os cargos de igualdade, na gestão estão mais no privado do que no público. Os cargos políticos estão maioritariamente entregues homens… Mas também não sei se as mulheres se candidataram ou se escolheram uma carreira política.
O setor público não dá o exemplo na promoção da igualdade?
Não me sinto confortável em ajuizar se é o Estado que não lhes dá poder ou se elas não o querem. Penso que há, no setor privado, uma maior oportunidade para as mulheres. Há mais equidade entre homem e mulher em cargos de gestão – e não estou a falar só de gestão de topo, estou a falar das primeiras linhas e nas segundas linhas das empresas.
Como o teletrabalho tem afetado as lideranças?
Teletrabalho é uma questão social muito interessante. Porque o teletrabalho é muito inclusivo. No entanto, também é complicado. Se nós pensarmos que as pessoas estão em casa, isoladas dos seus companheiros de trabalho – e a socialização dentro do local de trabalho também é importante – e se têm filhos com ensino à distância é uma sobrecarga brutal.
O teletrabalho, para mim, tem uma ameaça grande. É que pode gerar mais desemprego, quando alguém chegar à conclusão que pode ir buscar teletrabalho a qualquer parte do mundo, temos de ter cuidado para que sejamos nós, os portugueses, a ocupar esses lugares antes de outros.
E as ameaças para uma líder?
O teletrabalho não é possível em todas as profissões. As máquinas precisam de pessoas para trabalhar. Nós optámos por fazer uma semana de teletrabalho e uma presencial, para não perdermos o contacto. Troca de ideias é importante.
Para mim, o teletrabalho não é uma solução generalizada. Retina-nos alguma capacidade imaginativa. É muito cansativo levar reuniões em cima de reuniões por meios telemáticos. E as casas não foram preparadas para isso, o teletrabalho pode ser um pouco invasor dessa nossa privacidade.
Como é que a TMG se reinventou? Começou a fazer máscaras?
Nós fazemos de tudo um pouco e do que é preciso. No têxtil, temos a TMG dividida em áreas de workwear, moda e saúde e há uma disparidade grande. A moda está praticamente parada e há grupos de têxtil a sofrer muito com isso, é uma área quase parada. É preciso que se apoie muito bem a indústria, porque as empresas que fecharem agora não abrem mais.
Na área do workwear e da saúde fazemos o que todos têm vindo a fazer: máscaras. Temos uma diversidade de máscaras e exportamos. Mas não vai durar muito tempo, porque toda a gente está a fabricar máscaras. Além disso, as costureiras portuguesas são altamente qualificadas para fazer máscaras, que não lhes ensinam nada de grande valor acrescentado. Está a ajudar neste momento a indústria têxtil a sobreviver, mas não é solução para durar muito mais. Não é um negócio que se queira ter.
As empresas têm lamentado a lentidão na certificação máscaras. Como comenta?
É preciso ver que as nossas estruturas de controlo e de experimentação e de acreditação para máscaras não existiam. De repente houve uma invasão para testes e aprovação de máscaras. Em Famalicão, o CITEVE foi pioneiro. Era interessante ver que a fila era maior para o CITEVE do que para o teste Covid mesmo ao lado. O CITEVE não estava preparado para a enchente. E, por isso, é longo e é demorado. E depois uma máscara está inicialmente certificada para cinco lavagens, e depois para 20 e depois para 50. O que significa que a mesma máscara tem de ir a uma máscara de lavar 50 vezes. Portanto, a capacidade esgota-se.
Quando assistimos a sessões no Parlamento vemos muitos dos deputados com máscara descartável. Deveria o governo promover uma campanha de sensibilização para o uso de máscaras reutilizáveis? Não só pela indústria têxtil, mas pelo ambiente…
Eu sou completamente contra as máscaras descartáveis. Para os profissionais de saúde deixemos as máscaras descartáveis. Eu tenho uma máscara reutilizável e é isto que eu preciso de ter. Até porque tenho uma máscara que me pode custar 3 euros, ou 4 euros, e lavá-la pelo menos 50 vezes. O que quer dizer que se, por exemplo, tivéssemos gasto 10 euros por cada aluno do ensino eles ficariam com quatro máscaras e servia praticamente o ano inteiro, pelo menos um semestre.
É um problema gravíssimo o que está a acontecer com as máscaras descartáveis. Portugal já gastou 200 milhões de euros em máscaras. Se nós formos ver quantas dessas se poderiam reconverter em máscaras reutilizáveis, salvaria muito da indústria têxtil neste momento. Nós temos vindo a batalhar para um ambiente mais limpo, para evitar o single use, e agora, de repente, estamos a usar descartáveis – duas, três por dia – que além de ser um custo imenso, vai ter um grande impacto ambiental. Não há necessidade nenhuma de usar máscaras descartáveis na população. Eu sou contra, mesmo.
Nas exportações, em agosto o indicador melhorou mas as encomendas caíram em setembro e outubro. É o vosso caso?
É verdade que houve ali um ânimo em julho e agosto e em setembro realmente arrefeceu. Porque com a Europa a confinar as pessoas voltam a casa, as lojas voltam a fechar menos horas e, portanto, a indústria têxtil tradicional tem vindo a ter algum desaceleramento e mesmo, eu diria, adiar encomendas. O período começou a ser verdadeiramente complicado. Os meus parceiros da indústria têxtil queixam-se, com razão, que têm as encomendas paradas, suspensas ou adiadas.
E estão suspensas por tempo indeterminado?
Ninguém sabe dizer. Uma coisa… a única coisa que esta pandemia nos ensinou é que nada é certo. Tudo depende se a recuperação, que estávamos à espera que fosse em V, depois estava a ser em U e, de repente, voltou para W. Antes de haver uma vacina eficaz não sabemos e é muito difícil fazer previsões de como será a recuperação.
No dia em que estamos a conversar o primeiro-ministro anunciou mais uma série de apoios para PME. Os apoios que têm sido lançados são suficientes ou é preciso mais?
Se são suficientes? Nunca são. Porque nós estamos a viver um momento extremamente complexo e eu penso que só temos duas alternativas: ou realmente injetamos dinheiro na economia e nas empresas e apoiamos as empresas estrategicamente, ou, para o ano, teremos um problema agravado, que é, em vez de estarmos a apoiar empresas estaremos a pagar subsídios de desemprego a muita gente. Mas também não é fácil porque os fundos não são ilimitados. O apoio não pode ser ilimitado. É necessário que os nossos governantes estejam atentos à economia real, a ver o que se passa nas empresas e a ajudar a ultrapassarmos este período.
Que expectativa tem em relação ao Fundo de Recuperação da União Europeia?
Tudo depende de como esse dinheiro for utilizado quando chegar. Primeiro ainda não o temos. Portanto, fazer grandes projetos antes de termos o dinheiro do lado de cá é sempre complexo. Depois, vai haver grande investimento em infraestruturas, algumas relevantes. Não faz sentido levar três horas daqui de Famalicão a Lisboa… Se nós pensarmos também que vamos ter de exportar mercadorias e que vai ser proibido ir por carro ou camião teremos de pensar numa ferrovia. Mas, também terá que haver dinheiro para a economia real. Sabemos que vai ser muito através da digitalização e da economia circular. O ideal seria fazê-lo estrategicamente e não pensar só no curto prazo.
É a favor do TGV?
Eu não sei se é o TGV, exatamente. Eu digo que tem que melhorar a ligação Porto/Lisboa.
Considera que Portugal se atrasou a preparar a segunda vaga?
É fácil dizer que Portugal não se preparou, mas e os outros países? Também não se prepararam? Ninguém se preparou. Nós todos achamos que isto ia ser curto e já tínhamos passado o pior. Não sei se é uma questão de antecipar ou se é de uma questão de… nem sequer ponderar o risco que ia acontecer.
O estado de emergência suave será suficiente? Vai ao encontro das preocupações das empresas?
Nós não podemos ter um lockdown da economia. Porque senão, não morremos da doença morremos da cura. Nós temos de ter grande responsabilidade social e com regras, que nós não gostamos, mas que sejam, mais ou menos, justas para todos.
Não faz sentido fechar – e não podemos fechar por completo – porque a restauração, o turismo, está muito mal e não pode ficar pior. Mas, também não podemos ter, e basta olharmos e passearmos nas grandes cidades que vemos os jovens, todos em grandes grupos, sem grandes cuidados a conviver. Temos que ter uma maior responsabilidade social. E realmente penso que é importante focarmo-nos na solução, porque senão vamos mesmo de ter, obrigatoriamente, o confinamento agravado.
Conhece bem a China, onde costumava viajar em negócios. Como tem acompanhado a recuperação económica da China? O que podemos aprender com isso?
Sobre a China nós sabemos sempre muito pouco. Fizeram confinamentos brutais. Fizeram uma utilização muito precoce de máscaras em toda a parte e a toda a hora. É mais fácil, é óbvio que é mais fácil numa ditadura impor regras. Toda a gente tem que obedecer. O que se passa realmente nós não sabemos muito bem porque também não temos tido a possibilidade de ir à China. Ir à China, neste momento para nós, TMG, que temos lá uma empresa, está fora de questão. Porque é muito complicado.
Na TMG Automotive como estão as exportações?
Digamos que o mercado está animado. Principalmente nas chamadas marcas premium. A Mercedes, a BMW, a Volvo. Que também são as menos sensíveis a estas grandes alterações económicas. A Europa, nomeadamente a Alemanha mostra alguma procura de viaturas, principalmente ligada a uma maior proteção de utilização do carro e não partilhado por causa do covid. Eu acho que isso nos veio ajudar um pouco. Não sabemos é se esta grande procura momentânea se irá traduzir em grandes negócios posteriores. Também não sabemos se as empresas estão a armazenar produto para uma eventual desaceleração, ou eventual shutdown da economia outra vez.
Como estão os números das exportações da TMG Automotive?
Vamos acabar o ano 15% abaixo do orçamento inicial, o que é um número agradável. Mas, é como eu digo, preocupa-me mais se isto é sustentável, se é para continuar.
Como presidente da COTEC que apelo deixa aos empresários?
Resiliência. E como sou uma grande defensora da indústria na Europa, penso que nós estamos perante um momento único para repensar o que temos de fazer a nível de reindustrializar a Europa, nomeadamente Portugal. Nós vimos que a nossa massiva dependência dos países asiáticos foi problemática. Ficamos com cadeias de abastecimento interrompidas, à mercê dos grandes players económicos europeus até na aquisição de material hospitalar. Tivemos problemas que podemos vir a evitar de futuro. Para mim só faz sentido, para mim, a indústria ser limpa, ser inteligente. Mas a indústria só consegue ser sustentavelmente eficiente – economicamente, ambientalmente e socialmente -, num país que tem essas regras. Ora, nós neste momento estamos completamente dependentes da Ásia. Temos que estar atentos ao que se passa na sustentabilidade nesses países e que não podem invadir a Europa com produtos que não obedecem às mesmas regras que são impostas aos industriais da Europa. Ou seja, não faz sentido permitir entradas massivas de produtos que não obedecem a requisitos ambientais como os nossos e que depois nem sequer conseguimos reciclar esses produtos, porque no fim de já se ter feito a reciclagem eles não podem ser incorporados em matéria prima, pois porque não cumprem com os nossos requisitos que nós temos. Portanto, é um problema complexo. Uma globalização com regras que são locais só nos prejudica.
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