A temporada dos prémios Nobel arranca nesta segunda-feira com o anúncio do vencedor em Medicina, mas a edição deste ano, à semelhança de outros grandes eventos internacionais, também foi forçada a adaptações devido à pandemia da doença covid-19.
Apesar das datas previstas para o anúncio dos laureados nas seis áreas distinguidas (Medicina, Física, Química, Literatura, Paz e Economia), entre 5 e 12 outubro, não terem sofrido alterações, a Fundação Nobel divulgou nas últimas semanas que, pela primeira vez desde 1944 (durante a Segunda Guerra Mundial), a tradicional cerimónia presencial de entrega dos galardões, agendada para 10 de dezembro em Estocolmo (capital sueca), não terá lugar.
Por causa do novo coronavírus, a solução encontrada foi a realização de uma cerimónia quase inteiramente ‘online’, à exceção de uma reduzida plateia que estará no edifício da câmara de Estocolmo.
“A ideia é que as medalhas e os diplomas sejam entregues aos laureados em segurança nos respetivos países de residência, muito provavelmente com a ajuda das embaixadas e das universidades dos laureados”, explicou a Fundação Nobel, com sede na capital sueca.
Já em julho passado, a Fundação tinha anunciado o cancelamento do tradicional banquete dos prémios, pela primeira vez desde 1956.
O banquete, um jantar de gala realizado em Estocolmo todos os anos em dezembro em honra dos laureados, foi cancelado durante as duas Guerras Mundiais. Também não foi realizado em 1907, 1924 e 1956.
O último cancelamento, em 1956, aconteceu para evitar o convite ao embaixador da então União Soviética por causa da violenta repressão dos protestos em Budapeste, na Hungria.
Também a cerimónia de entrega do prémio Nobel da Paz em Oslo (Noruega, onde é entregue este galardão), igualmente agendada para 10 de dezembro, irá decorrer em moldes reduzidos.
Ao contrário de anos anteriores, o evento não será realizado no grande salão da câmara municipal da capital norueguesa, que pode acolher mil convidados, mas num edifício da Universidade de Oslo, com uma capacidade para uma centena de pessoas.
A eventual presença do laureado ou dos laureados com o Nobel da Paz ainda é uma questão em aberto, com o diretor do Instituto Norueguês do Nobel, Olav Njolstad, a admitir a possibilidade da entrega física do prestigiante prémio ocorrer em 2021.
Apesar destes constrangimentos associados à atual pandemia do novo coronavírus, a Fundação Nobel e o Instituto Norueguês do Nobel mantiveram o calendário do anúncio dos laureados nas distintas disciplinas.
A Medicina abre a temporada dos galardões (segunda-feira, dia 5), a seguir a Física (terça-feira, dia 6), a Química (quarta-feira, dia 7), a Literatura (quinta-feira, dia 8), a Paz (sexta-feira, dia 9) e a Economia (segunda-feira, dia 12).
Um dos aspetos que também se mantém é o ambiente de especulação sobre os potenciais galardoados e, neste ano atípico, o novo coronavírus é um tema que marca presença nestas ‘conversas de bastidores’.
Os galardões da Literatura e da Paz são normalmente aqueles que concentram mais atenções.
Mas, num ano marcado por uma grave pandemia e uma forte recessão económica, as áreas da Medicina, Física, Química e Economia irão beneficiar de uma atenção particular, mesmo que os comités científicos garantam que não serão influenciados pela atualidade.
“A pandemia é uma grande crise para a Humanidade, mas ilustra a importância da ciência”, salientou Lars Heikensten, diretor-geral da Fundação Nobel, entidade que supervisiona estes galardões criados pelo sueco Alfred Nobel (1833-1896).
No entanto, é improvável que algum dos galardões seja atribuído a trabalhos diretamente relacionados com a covid-19, uma vez que a verificação e a análise das investigações distinguidas são realizadas durante alguns anos.
Para o 101.º prémio Nobel da Paz, o único galardão que é entregue em Oslo, os analistas indicam que o jogo está em aberto.
“Não há um verdadeiro grande progresso no sentido da paz ou de acordos de paz”, observou, em declarações às agências internacionais, o diretor da organização Stockholm International Peace Research Institute (Sipri), Dan Smith.
Numa época de notícias falsificadas (‘fake news’) e de ataques aos ‘media’ e aos respetivos profissionais do setor, alguns especialistas argumentam que a liberdade de imprensa deveria ser enaltecida, apontando a organização não-governamental (ONG) Repórteres sem Fronteiras como uma potencial laureada do Nobel da Paz.
“Durante os conflitos, é extremamente importante que os jornalistas ajudem a fornecer informações sobre o que está a acontecer, tanto para estabelecer as responsabilidades dos campos opostos como para informar o resto do mundo”, disse o diretor do Instituto de Investigação para a Paz de Oslo, Henrik Urdal, que também referencia o Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede em Nova Iorque.
A luta contra as alterações climáticas é outra das grandes crises à escala global e o nome da jovem ativista sueca Greta Thunberg, de 17 anos, é igualmente mencionado, como em 2019, entre os possíveis vencedores do galardão da Paz.
Para suceder ao primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali, o Nobel da Paz de 2019, outros analistas apontam como possíveis laureados a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONG anti-corrupção Transparency International, a chanceler alemã Angela Merkel ou a ativista afegã Fawzia Koofi.
A ONU e o secretário-geral da organização, o ex-primeiro-ministro português António Guterres, são igualmente apontados como potenciais vencedores.
Os prémios Nobel nasceram da vontade do químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel em doar a sua imensa fortuna para o reconhecimento de personalidades que prestassem serviços à Humanidade.
O inventor da dinamite expôs este desejo num testamento redigido em Paris em 1895, um ano antes da sua morte. Os prémios foram atribuídos pela primeira vez em 1901.
Nove anos após ter reduzido o valor pecuniário associado aos galardões por motivos financeiros, a Fundação Nobel anunciou, em setembro, que o cheque atribuído aos laureados em cada disciplina será atualizado para 10 milhões de coroas suecas, cerca de um milhão de euros.
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