//Termas recorrem à cosmética para dar mais saúde às conta

Termas recorrem à cosmética para dar mais saúde às conta

As termas já não servem apenas para irmos a banhos ou fazermos uma cura de águas. Agora, o top é trazer os tratamentos para a própria casa. Dos 41 balneários termais que estão em funcionamento este ano, ainda só uma minoria permite esse luxo: têm à venda cremes, loções ou sabonetes de marca própria, feitos com as águas que nascem em cada estância. Um nicho de negócio que tem permitido às empresas gestoras das termas dar outras cores às contas do final de ano.

S. Pedro do Sul, Caldas de Felgueira, Chaves e Caldas das Taipas são pioneiras nesta nova área de negócio, com a qual esperam elevar o volume de negócios. No ano passado, as termas faturaram um total de 14 milhões de euros, valor que sobe para 23 milhões juntando hotelaria, restauração, outros serviços e comércio local, esclarece João Pinto Barbosa, secretário-geral da Associação das Termas de Portugal (ATP).

“É uma área que está em franco crescimento em Portugal. Tirando partido das características únicas das águas minerais naturais, os produtos de dermocosmética termal constituem oferta complementar de grande valor, do ponto de vista da afirmação das marcas termais nacionais junto dos consumidores desta categoria de produtos”, sublinha João Pinto Barbosa. E o potencial é significativo: 123 mil é o número de pessoas que visitam as termas todos os anos.

“A curto/médio prazo outras termas vão seguir o exemplo e outras marcas surgirão no mercado, sendo claramente uma aposta estratégica do setor”, acredita João Pinto Barbosa.

Caldas da Felgueira – As primeiras a chegar ao mercado

Adriano Ramos, diretor-geral das Caldas de Felgueiras. Fotografia: Fernando Fontes/Global Imagens

Adriano Ramos, diretor-geral das Caldas de Felgueiras. Fotografia: Fernando Fontes/Global Imagens

As termas de Caldas de Felgueira, no concelho de Nelas, terão sido as primeiras a colocar à venda, em Portugal, cosméticos produzidos com recurso às suas águas termais. Estávamos em 2009. Hoje apresenta uma coleção com quatro referências, que incluem uma loção corporal, um creme de rosto com proteção solar, um tónico facial e um leite de limpeza facial.

Todo o processo de investigação e desenvolvimento foi feito por um laboratório espanhol, o Alan Coar, em Valência, que realizou as análises físico-químicas dos produtos implicados e a sua compatibilidade com as águas, e foram feitos os testes até se obter as formulações finais que chegaram ao mercado.

As características das águas, tidas como “muito mineralizadas”, com elevado teor de silício, deram alento para inaugurar o novo ramo de negócio, explicou Adriano Ramos, diretor geral das termas. Foram usadas bases já existentes e alteradas para incorporar as águas de Caldas de Felgueira.

A produção é feita no mesmo laboratório, para onde a água vai embalada no vácuo e onde chega em 24 horas. Para cá, vêm os produtos já embalados, para serem vendidos nas próprias termas, que é o principal canal, segundo Adriano Ramos, embora sejam igualmente comercializados online e em farmácias da proximidade.

“Entrámos no negócio por uma questão de imagem. As nossas termas são procuradas também por pessoas com problemas de pele, porque o silício é muito bom para tratamento de dermocosmética”, explica o gestor. “Tem havido um mercado crescente na área do bem-estar e, como temos tratamentos de estética e beleza, era importante ter os produtos próprios”.

Adriano Ramos refere-se à linha obtida como um reminder da marca, “que as pessoas gostam de levar para casa, e isso ajuda a reforçar a imagem”.

Para futuro, há a uma ideia latente, que perdura desde a origem do projeto, e que poderá avançar quando chegar o momento oportuno: evoluir para a produção de gel de banho e de sabonetes.

“A solução foi compensadora. Foi importante para o nosso posicionamento. Queríamos estar na linha da frente e conseguimos”, conclui Adriano Ramos.

Termas de Chaves – A recordação que faltava

Fátima Pinto, administradora das Termas de Chaves. Fotografia: Rui Manuel Ferreira/Global Imagens

Fátima Pinto, administradora das Termas de Chaves. Fotografia: Rui Manuel Ferreira/Global Imagens

São bem recentes os produtos de dermocosmética das Termas de Chaves, que chegaram ao mercado no início de março, quando o balneário reabriu. Incluem um creme hidratante do rosto, um creme hidratante corporal, outro de mãos e dois sabonetes: um hidratante e um esfoliante. O projeto Aquae Termal resultou de uma parceria com a InovPotek-Pharmaceutical Research and Development, Lda e a UpTec-Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, com a preocupação de se conceberem produtos que mantivessem as suas propriedades intactas ao longo de 24 meses.

Depois de desenvolvidas e testadas as fórmulas dos cinco produtos, a produção dos cremes foi entregue à empresa Coslab e a dos sabonetes à Group GM, indica Fátima Pinto, administradora das termas.

“Como as águas das Termas de Chaves são naturalmente hidratantes, por terem sílica na sua composição, os produtos são indicados para o cuidado e tratamento da pele, oferecendo a sensação de conforto e hidratação”, explica a gestora.

Com um investimento na produção de 24 mil euros, os resultados começam agora a fazer sentir-se. Apesar do escasso tempo de permanência no mercado, Fátima Pinto revela que “a receção dos produtos está a ser muito boa. Suscitou muita curiosidade. As pessoas fazem os tratamentos e depois querem levar para casa, mesmo para recordação”. Daí admitir que a solução encontrada venha a ser rentável.

Por agora, os produtos estão à venda apenas nas termas e no site, mas estão a ser estudadas parcerias com agentes locais para dinamizar o comércio.

No futuro, Fátima Pinto acredita que a linha possa evoluir para incluir um spray apenas de água termal.

S. Pedro do Sul – Em franco crescimento

Vítor Leal, presidente da administração da Termalistur, S. Pedro do Sul. Fotografia: Tony Dias/Global Imagens

Vítor Leal, presidente da administração da Termalistur, S. Pedro do Sul. Fotografia: Tony Dias/Global Imagens

As Termas de S. Pedro do Sul arrancaram, em 2006, com um projeto pioneiro de investigação das propriedades cutâneas das águas termais, em parceria com a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Mas os primeiros cinco produtos só chegaram ao mercado em 2014. Nesse ano de lançamento, a faturação na dermocosmética significou 50 mil euros, um valor que mais do que duplicou, atingindo 106 mil euros em 2017. O objetivo para este ano é chegar à meta dos 200 mil euros. A administração das Termas de S. Pedro do Sul, nas mãos da Termalistur, ressalva que “a venda dos dermocosméticos ainda só representa menos de 10% no total faturado” pela empresa. Mas está a crescer.

Apesar do peso ainda diminuto no volume de negócios, a Termalistur justifica que esta opção “insere-se num conjunto de ações desenhadas para contrariar a tendência geral de diminuição da procura do termalismo”. E visa “promover a imagem de qualidade/inovação associada às Termas de S. Pedro do Sul”.

A ideia final é “reforçar a competitividade, pela diversificação e aprofundamento da oferta de bens e serviços inovadores”, com a criação de “novos segmentos de procura para esta estância termal”, explica Vítor Leal, presidente do conselho de administração da Termalistur.

Depois de comprovadas as propriedades “hidratantes, suavizantes e apaziguantes” a nível cutâneo, a água termal – que já “curou o primeiro rei de Portugal e a última rainha” – passou a ser usada como o principal ingrediente ativo de duas linhas: uma de hidratação de rosto e corpo, que integra um vaporizador, base de limpeza, sabonete creme corporal, óleo corporal, fluído de rosto e um creme de rosto; e outra antienvelhecimento, com máscara de rosto e creme de rosto antirrugas.

São produtos “100% portugueses”. A Termalistur, sem avançar quais, garante que recorre a diferentes empresas nacionais especializadas na produção e comércio de produtos de cosmética para a elaboração das suas linhas.

Os produtos AQVA podem ser adquiridos nas Termas de S. Pedro do Sul, em farmácias aderentes no concelho ou concelhos vizinhos, através do site ou nos Espaços Saúde e Bem-Estar das lojas Pingo Doce.

Quanto ao investimento realizado na investigação, na procura de novas oportunidades e de novos mercados, Vítor Leal afirma que será sempre “pequeno” face aos “prováveis resultados que representa para a empresa, para o concelho, região e até para Portugal”.

Neste momento, a Termalistur está a estabelecer parcerias com outras instituições de ensino superior, como a Universidade da Beira Interior, para aprofundar a investigação sobre as propriedades da água termal e a possibilidade de a usar para outros fins.

Certo é que a empresa já estuda também novas formulações de produtos que irão complementar as linhas disponíveis, como esfoliantes de rosto e corpo, uma água micelar desmaquilhante, um champô, um creme de mãos, um stick labial e dois produtos de hidratação para a gama homem, bem como a criação de uma linha infantil e o desenvolvimento de uma linha de dispositivos médicos.

Taipas Termal – Primazia aos sabonetes

Ricardo Costa, presidente da Cooperativa da Taipas Termal. Fotografia: Miguel Pereira/Global Imagens

Ricardo Costa, presidente da Cooperativa da Taipas Termal. Fotografia: Miguel Pereira/Global Imagens

Em Guimarães, quem quiser usufruir dos benefícios da água das termas, sem se deslocar ao balneário, pode fazê-lo através do uso de dois sabonetes que a Taipas Termal lançou há cinco anos, com base no recurso hídrico captado naquela estância.

É o sabonete de tratamento e o de aromaterapia, resultado de um trabalho de investigação que envolveu a Natural Concepts e o Instituto 3B’s da Universidade do Minho.

Numa fase inicial, a unidade de produção de cosméticos entrou em funcionamento ainda no Parque de Ciência e Tecnologia, o Avepark, onde ambas as instituições estavam sediadas, mas em setembro de 2015 foi transferida para o edifício da Taipas Termal – marca da cooperativa que gere as termas.

Os sabonetes são produzidos pela própria Taipas Termal, num processo artesanal, envolvendo uma equipa de 10 pessoas, uma opção justificada pelo presidente da cooperativa, Ricardo Costa, para “garantir a superior qualidade do produto”.

Apesar de a investigação académica prévia, os sabonetes são feitos de forma tradicional, apenas com água (grande parte, água termal), soda cáustica e óleos naturais (“100% puros”), para lhes conferir os aromas.

Uma grande parte da produção é vendida pela própria Taipas Termal, e a restante por parceiros retalhistas. Mas as receitas alcançadas – não especificadas – “estão muito longe de superar as do negócio original das termas”, admite Ricardo Costa.

No entanto, o responsável sublinha que, “muito além da questão do retorno financeiro do lançamento desta gama de produtos, o mesmo foi com o intuito de levar a água das termas de Caldas das Taipas para casa das pessoas e, com isso, promover a divulgação dos benefícios terapêuticos que esta proporciona”.

E, apesar da ainda pequenez do negócio, já há projetos para acrescentar mais cosméticos à família dos sabonetes, nomeadamente, os cremes. Tudo em nome da saúde dos termalistas… e das contas das empresas.

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