“Eu não vejo nenhum lugar para a canábis no tratamento de nenhuma doença, nem para aumentar qualquer criatividade”, alerta o psiquiatra Tiago Reis Marques. O especialista alerta para o facto de a droga “fazer lesões à memória relativamente graves”.
Convidado das “Conversas na Bolsa”, organização da Associação Comercial do Porto, Tiago Reis Marques, que estudou a esquizofrenia e a depressão e a relação de drogas como a canábis com a psicose, diz que “não ver nenhum espaço para a canábis a não ser na dor crónica”, lembrando, contudo, que “mesmo nesses casos conseguimos extrair a substância activa e dá-la”.
Tiago Reis Marques reparte a sua vida entre a investigação na Grã-Bretanha e as consultas de psiquiatria em Lisboa, Coimbra e Londres e mostra-se muito preocupado com a eventual legalização do consumo da canábis.
O psiquiatra diz que o assusta “o processo da legalização que passa por uma mensagem que a canábis não faz assim tão mal”. Tiago Reis Marques lembra que “o tabaco está legalizado e mata, o álcool é legal e mata milhares de portugueses”, portanto, “não é sinónimo estar legalizado e fazer bem”.
O especialista assegura que “todas as drogas fazem mal”, mas admite que a que “tem menor risco de consequências a curto e longo prazo, efeitos secundários imediatos, são os alucinogénios”.
Tiago Reis Marques lembra que “trabalha muito com esta droga” e afirma que “a canábis é uma droga com um risco enorme”.
Para o investigador do King´s College “o consumo aumenta o risco de doença mental grave como a psicose, cerca de quatro a seis vezes” e o risco de patologias graves “sobe à medida que o consumo é feito em idades precoces”.
Na Bolsa do Porto, Tiago Reis Marques debateu a “Neurociência da criatividade”.
Numa intervenção de cerca de cinquenta minutos, o psiquiatra dedicou-se a explicar o processo de criatividade que na sua opinião se desenvolve em “quatro estádios”.
Tudo começa com a “preparação”, a que se segue “incubação”, a “iluminação” e por fim a “verificação”.
Para o processo criativo, o psiquiatra lembrou a importância do desenvolvimento do cérebro, explicou as diferentes fases do órgão humano que “utiliza vinte por cento da energia corporal” e mostrou-se contra a ideia de que por detrás da criatividade está essencialmente o talento. E a este propósito, Tiago Reis Marques recordou que “Mozart – um prodígio musical – era filho de um professor de música e condutor de uma orquestra”; ou seja, reforça o psiquiatra “estas pessoas têm a possibilidade desde a infância nascer num ambiente onde são completamente estimuladas”.
Sobretudo nos Estados Unidos, ganhou força a utilização de drogas para estimular a criatividade. O investigador afirmou que “em Silicon Valley há pessoas a tomar LSD ao pequeno almoço”. “Tomam doses mínimas para não alucinar” e “fazem com que o cérebro comunique mais”; lembrou o psiquiatra que fez questão de esclarecer que “não estava a fazer a apologia do uso das drogas”, mas apenas “dar dados do que anda a fazer para aumentar a criatividade”.
Tiago Reis Marques foi considerado o Melhor Jovem Investigador em 2015. Antes tinha conseguido uma bolsa para estudar as ligações entre neurónios e a genética, com vista a novos medicamentos para prevenir surtos psicóticos.
A Renascença é Media Partner das “Conversas na Bolsa”, organizadas mensalmente pela Associação Comercial do Porto.
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