//Tomás Correia. “É muito fácil criticar. Muito mais difícil é fazer”

Tomás Correia. “É muito fácil criticar. Muito mais difícil é fazer”

A Associação Mutualista Montepio (AMM) vai mudar, garante o seu histórico líder, António Tomás Correia, que há uma década comanda os destinos da Mutualista. O novo Código das Mutualidades a isso impõe e será um dos temas-chave das próximas eleições marcadas para 7 de dezembro.

Tomás Correia ainda não decidiu se avança como candidato. Mas avisa, em declarações por escrito ao Dinheiro Vivo, que a AMM está hoje sujeita a um maior escrutínio. O gestor histórico da AMM já garantiu que mesmo que não se recandidate vai haver uma lista apoiada pela atual administração da associação.

A lista liderada por Tomás Correia venceu as eleições em 2015, num processo alvo de críticas por parte de concorrentes que acusaram haver falta de transparência e um défice democrático em todo o processo. Nos últimos anos, o gestor tem estado envolto em várias polémicas. Lembra que as decisões na AMM foram sempre “tomadas colegialmente pelo órgão de administração, e com o competente suporte do seu conselho geral”. E que “ é muito fácil criticar”.

Para a próxima década, vê a AMM a consolidar-se como “uma incontornável instituição da economia social” e outro importante desígnio do grupo será “o desenvolvimento da oferta nas áreas da saúde, em todos os momentos do ciclo de vida das famílias”.

As próximas eleições para a liderança da Associação Mutualista são decisivas para o seu futuro, em termos de estabilidade e estratégia?
Estatutariamente, a cada três anos, a Associação Mutualista Montepio (AMM) elege os membros dos seus órgãos associativos. O desenvolvimento da AMM foi notável ao longo deste percurso de 178 anos, e muito concretamente nas últimas duas décadas. Efetivamente, a responsabilidade que a AMM assume perante os seus mais de 620 mil associados, torna cada ato eleitoral num importante momento em que os associados são chamados a participar nas escolhas sobre o futuro da sua associação. Essas escolhas serão feitas sobre as propostas de programas de ação a apresentar pelos associados que se candidatarem nas listas para o efeito. A dimensão, complexidade e o que a AMM representa hoje na sociedade portuguesa diz muito da responsabilidade deste ato, e do escrutínio sobre a qualidade dos programas e dos candidatos ao exercício do novo mandato para os órgãos associativos.

O resultado das eleições pode ditar uma mudança do rumo da Associação?
O resultado das eleições é um importante compromisso entre os associados que participam no ato eleitoral e os eleitos para desempenhar o próximo mandato à frente do destino da AMM. E isso implica um escrutínio sobre a qualidade dos candidatos, das suas propostas, e da capacidade para as concretizar, com responsabilidade, seriedade e determinação.

Qual o balanço que faz da Associação em 2018?
A AMM está muito mais sólida e muito mais preparada para os desafios do futuro: ultrapassou os difíceis obstáculos da grave crise financeira que o país viveu nos últimos anos, e conseguiu responder, com responsabilidade e confiança, às necessidades de capitalização da atividade da sua Caixa Económica e das empresas do grupo, mantendo o poder de decisão na esfera nacional, construindo as bases de desenvolvimento de um grande grupo português da economia social. E tudo isto respondendo sempre, com competência, a todas as responsabilidades assumidas com os seus Associados. Sublinho que a capacidade de a AMM se adaptar aos contextos mais difíceis é que permitiu chegar aos 178 anos, com um confiante olhar no futuro em busca da perpetuidade.

As perspetivas futuras são positivas ou há muitos desafios pela frente?
O futuro constrói-se nas bases das decisões do presente, e na determinação com que essas decisões são tomadas. Nos momentos passados que se afiguraram mais difíceis, as decisões tomadas colegialmente pelo órgão de administração, e com o competente suporte do seu conselho geral, é que permitem agora olhar para o futuro com mais confiança. Nos tempos mais próximos, a AMM estabelecerá um calendário de adaptação ao novo enquadramento de supervisão previsto no Código Mutualista, estando a AMM apta para cooperar com as autoridades, de forma competente. Aliás, como sempre foi por nós defendido, e agora num quadro regulatório que só vem beneficiar a AMM e a relação que os Associados estabelecem com a sua Associação. Isso vai ter implicações ao nível da alteração dos Estatutos da AMM, e também ao nível da sua organização interna.

Se decidir avançar com uma lista candidata nestas eleições, prevê que possa encontrar críticas e comentários negativos?
Ainda não tomei decisões sobre essa matéria. Posso, no entanto, acrescentar, que a AMM, com a dimensão e a importância que alcançou na sociedade portuguesa, está hoje sujeita a um maior escrutínio. O que implica maiores responsabilidades junto de quem pretende ajudar a construir o seu futuro. É muito fácil criticar. Muito mais difícil é fazer e ter competências para tomar as decisões certas no momento adequado. O que os associados certamente procurarão é que a sua associação cresça, se desenvolva, se modernize e seja capaz de responder às suas necessidades, com confiança, responsabilidade e competência.

O que gostaria de dizer aos associados da Mutualista e a todos os clientes do Montepio nesta altura?
Gostaria de reforçar que a AMM é o expoente máximo da capacidade associativa emergente da sociedade civil portuguesa. Um enorme legado inter-geracional, do qual todos os associados se devem orgulhar. Pois, nesta instituição, sempre encontraram os valores de confiança, solidez e solidariedade, ímpares no contexto do país.

Sobre o aniversário, que a Associação celebra este fim-de-semana, existem muitas diferenças entre a Associação de hoje e a que foi criada há 178 anos?
Muito diferente. Em 1840, permito-me dizer que o então Montepio dos Empregados Públicos foi a “start up” dos regime de proteção social em Portugal. No momento seguinte, adoptaria a designação de “Montepio Civil” e em 1842, a marca “Montepio Geral”, que nos transportou até aos dias de hoje. Depois de muitas crises sociais, políticas e financeiras. A Associação Mutualista Montepio é, hoje, uma Instituição que se desenvolveu, que cresceu e que se modernizou. Permanecem os valores da participação associativa, da solidariedade, do mutualismo. São esses os valores que perpetuarão o Montepio.

Como gostaria de a Associação evoluísse nos próximos 10 anos?
A consolidação de uma incontornável instituição da economia social, capaz de satisfazer a cada momento, as necessidades de poupança e de proteção dos seus associados e dos seus beneficiários. Nos desafios que são colocados aos portugueses, o desenvolvimento da oferta nas áreas da saúde, em todos os momentos do ciclo de vida das famílias, é igualmente um importante desígnio do Montepio. Em simultâneo, a AMM deverá ter participação ativa na melhoria dos indicadores de desenvolvimento e bem-estar dos portugueses. Estou certo que as sementes estão lançadas à terra, o caminho está traçado. Não é despicienda a forma como será percorrido. E os detalhes contam muito.

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