Esta quinta-feira, a Toshiba anunciou a venda de dois terços das suas ações à Japan Industrial Partners (JIP), numa compra concluída esta quarta-feira. A JIP é uma empresa de capital privado, ou seja, uma organização que investe dinheiro que não está na bolsa de valores pública. Por essa razão, tudo indica que a empresa que inventou o primeiro portátil do mundo terá o caminho traçado para passar de empresa nacional a privada.
Num comunicado oficial, a Toshiba anuncia que a JIP detem agora 78.65% das suas ações, o que lhe atribui autoridade suficiente para tomar decisões relevantes na empresa, como a sua privatização.
O acordo foi concluído por 13,132 mil milhões de euros, o que daria para construir cerca de 40 hospitais como o Hospital Universitário, em Lisboa. Este valor equivale a 14 mil milhões de dólares americanos e dois mil milhões de ienes, a moeda do Japão.
A emblemática empresa japonesa entrou na bolsa de valores de Tóquio em maio de 1949, depois da Segunda Guerra Mundial, e foi um símbolo da recuperação económica do país e da indústria tecnológica. Em 1985, lançou o seu primeiro computador portátil, que designou como “o primeiro computador portátil do mercado de massas do mundo”.
A queda de um gigante
Há quase dez anos que empresa nipónica enfrenta problemas de liderança. Em 2015, uma investigação independente mostrou que a Toshiba tinha publicado valores falsos sobre os seus lucros nos últimos sete anos. O evento foi visto como um escândalo no Japão e no mundo económico global, o que levou membros da direção – como o então presidente da empresa, Hisao Tanaka, e vice-presidente, Norio Sasaki – a despedirem-se.
Os efeitos desta descoberta não ficaram por aqui: a Toshiba teve de pedir 600 mil milhões de ienes em investimento estrangeiro, ou seja, três mil milhões de euros, e viu a sua reputação prejudicada. Reputação essa que ficou ainda mais afetada em 2021, quando se descobriu que a Toshiba tinha conspirado com o governo para influenciar os votos de investidores estrangeiros, o que provocou mais saídas na liderança.
O negócio do ano no Japão
O presidente da Toshiba, Taro Shimada, afirma que a empresa “dará agora um grande passo em direção a um novo futuro com um novo acionista”. A venda pode significar novas decisões de liderança, já que envolverá menor influência do governo e de outros acionistas.
Gerhard Fasol é presidente da Eurotechnology Japan e colaborador da BBC há vários anos, em assuntos de economia e tecnologia japonesa. Segundo Fasol, a maioria dos japoneses e o governo vêem a Toshiba como um “tesouro nacional”, acrescentando que esta venda é o resultado “de uma liderança corportativa inaquedada vinda do topo”.
Entre abril e junho de 2023, a empresa tinha cerca de quatro mil milhões de euros, menos 5% quando comparado com o mesmo período do ano passado.
[notícia atualizada às 18h35 de 21 de setembro de 2023]
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