Mais de 50 trabalhadores da Petrogal manifestaram-se esta terça-feira em frente à sede da Galp, em Lisboa, contra o encerramento anunciado da refinaria de petróleo em Leça da Palmeira, Matosinhos, e pela sua reconversão numa biorrefinaria.
Os trabalhadores chegaram às Torres de Lisboa, onde está sediada a Galp, pelas 10h30, num autocarro que os trouxe do norte país, e concentraram-se em frente à porta principal, gritando “A Petrogal é nossa, não é do capital”, para protestar contra o encerramento de uma instalação que consideram necessária para a região e para as famílias que dependem daqueles postos de trabalho, antes de seguirem para a residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento.
Os trabalhadores ali reunidos aprovaram por unanimidade uma resolução para entregar à administração da Petrogal, que, entre outros pontos, contesta o argumento da transição energética como motivo para o encerramento da refinaria de Matosinhos e exigem investimentos e a aposta na formação profissional, com vista à modernização daquela estrutura e a sua reconversão numa refinaria de biocombustíveis.
A secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha, esteve presente na ação de luta dos trabalhadores da Petrogal e, em declarações aos jornalistas, considerou a decisão de encerrar aquele polo industrial “inaceitável, porque coloca no desemprego 1.500 trabalhadores, 500 diretamente e 1.000 de empresas que prestam serviços à Galp”.
“Ninguém mais do que os trabalhadores consideram necessária a defesa do clima, mas a verdade é que o encerramento da refinaria não vai contribuir praticamente em nada para a redução da emissão de dióxido de carbono, o que vai é fazer com que haja aumento das importações nesta área”, defendeu a responsável da central sindical.
Para Isabel Camarinha, a decisão de fechar a refinaria de Matosinhos “mostra bem que as opções são pelo lucro”, aproveitando fundos europeus “para dar mais lucro aos acionistas”, que, em maio, receberam 500 milhões de euros em dividendos.
“A refinaria, em termos técnicos, está dotada de todos os equipamentos que permitem ser já hoje uma biorrefinaria”, disse aos jornalistas Telmo Silva, dirigente sindical e membro da Comissão de Trabalhadores da Petrogal.
No entanto, Telmo Silva acusou a administração da Petrogal de ter rejeitado um estudo para reconverter Matosinhos numa biorrefinaria, “porque teve de dar a refinaria do Porto em troca para os fundos monetários [da Comissão Europeia] para estratégia do hidrogénio em Portugal”.
O protesto em frente à residência oficial do primeiro-ministro justifica-se porque, segundo aquele dirigente sindical, “o primeiro-ministro foi a primeira pessoa a saber desta tentativa de encerramento antes de ser comunicada à CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários] e, até hoje, não teve uma palavra para com os trabalhadores da refinaria”.
A administração reuniu-se, em 19 de janeiro, com estruturas representativas dos trabalhadores, mas, segundo Telmo Silva, “não houve diálogo”, mas sim “a leitura de uma comunicação” e entrega de documentos.
“Soluções concretas, nada”, lamentou, garantindo que os trabalhadores vão continuar a lutar pela permanência de todos os postos de trabalho em Matosinhos.
“Para nós é mais do que evidente que isto vai ser um processo que vai começar, como todos os outros, muito bem, muito politicamente correto, mas depois acaba em despedimentos, como nós sabemos”, referiu o dirigente sindical.
Para Carlos Cunha, trabalhador há 21 anos naquela refinaria, “a reconversão energética tem de ser feita com a manutenção dos postos de trabalho e criação de postos de trabalho, não com a sua destruição”.
Garantindo que os trabalhadores “não são contra a transição energética”, mas sim contra a perda de postos de trabalho, Carlos Cunha considerou, porém, que o encerramento “não tem nada a ver com questões ambientais”.
“Nós estamos a falar de uma refinaria que, nas refinarias europeias, é a que tem melhores condições ao nível de emissões ambientais”, apontou aquele trabalhador.
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