//Transferências de crédito aceleram

Transferências de crédito aceleram

Mais famílias estão a transferir o seu crédito à habitação para outros bancos. A luta para captar clientes está a pressionar ainda mais os juros dos empréstimos à compra de casa, como se viu com o recente anúncio do Bankinter de oferecer um spread de 0,95%. A DS, empresa de consultoria e intermediação de crédito, no 3.º trimestre de 2020 registou “um crescimento na transferência de créditos de 238%, que pode ser reflexo do atual contexto de crise económica, pois trata-se de uma das formas das famílias conseguirem poupar algum dinheiro, nomeadamente na transferência dos créditos à habitação”.

Para Nuno Rico, economista da Deco, no momento atual faz todo o sentido transferir o crédito ou renegociar: “Esta é uma altura muito propícia para uma transferência de crédito ou uma negociação do contrato com o banco”. Até porque “os bancos estão disponíveis para negociar e captar e reter clientes” a antecipar a crise que se deverá agudizar no futuro, com um estreitar do mercado de crédito. Prova disso são as diferentes ofertas dos bancos para facilitar a transferência de crédito, com alguns a assumir pelo novo cliente os custos relativos à operação.

Os bancos procuram captar clientes para prevenirem adversidades maiores. As medidas adotadas pelo governo para combater a pandemia, incluindo o confinamento forçado da população, provocaram uma das maiores crises de sempre. Empresas fecharam e o desemprego disparou. Mas o pior pode estar para vir, avisa Nuno Rico. “O terramoto já houve. Mas ainda falta o tsunami”, afirmou. Para fazer face à situação, foram implementadas moratórias no crédito, incluindo uma pública cujo prazo foi alargado e está fixado no final de setembro de 2021. Nessa altura, o crédito malparado deverá subir, segundo bancos e analistas.

Poupar milhares de euros

A renegociação ou mudança do crédito para outro banco pode gerar poupanças de milhares de euros às famílias. Segundo uma simulação da Deco, uma família que tenha contratado um crédito com um spread de 4,9%, se o conseguir passar para um de 1,1%, traduz-se numa taxa anual nominal (TAN) de 0,953%, que compara com a anterior, de 5,233%. Num crédito a 30 anos, no valor de 150 mil euros, se ainda faltarem 24 anos para o final do contrato, a mudança traduz-se numa poupança potencial de 74 mil euros. A prestação mensal, que inicialmente era de 826,73 euros e, entretanto, baixou 43 euros (até meados deste ano graças à queda da Euribor), com a renegociação passa para 526 euros.

O consumidor tem de ter cuidados, incluindo levar em conta três tipos de custos envolvidos na transferência de crédito: custo de abertura de processo e avaliação, custos com uma nova escritura e a comissão de amortização antecipada no banco atual. “O melhor é, primeiro, pedir duas simulações a dois bancos diferentes e usá-las para tentar renegociar com o banco onde o consumidor tem o seu crédito à habitação”, afirmou Nuno Rico.