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“Foca-te no que consegues controlar.” É este o conselho do histórico investidor Henry Kravis, presidente e co-CEO da KKR, uma das maiores empresas de investimento (private equity) norte-americanas. Questionado recentemente sobre como a sua empresa olha para as eleições, Kravis não hesitou: “Somos um investidor de longo prazo. Seja o vice-presidente Joe Biden a ser presidente ou o presidente Trump a ser reeleito, nós adotámos uma posição”, disse o investidor à Bloomberg. “Já passámos por muito, podemos encontrar oportunidades. Temos só de garantir que estamos extremamente bem posicionados para o que venha aí e estar preparados para uma crise difícil.”
A posição reflete a incerteza sentida nos mercados. Não é para menos. Estas são das mais importantes eleições presidenciais de sempre nos Estados Unidos e acontecem quando o mundo atravessa uma crise global. O ex-vice-presidente de Obama, Joe Biden, lidera nas sondagens e é dado como o favorito para o cargo. Mas Donald Trump ainda pode surpreender, como aconteceu em 2016, quando bateu inesperadamente a rival democrata Hillary Clinton.
O compasso de espera sente-se nos mercados, com a volatilidade a manter-se em níveis elevados, não só em antecipação às eleições no dia 3 de novembro, mas também devido às medidas mais restritivas que estão a ser impostas pelos governos em vários países. As consequências das primeiras medidas adotadas entre março e maio foram desastrosas para a economia e atiraram o mundo para uma crise.
Os bancos centrais vieram rapidamente em socorro, o que tem dado algum suporte aos mercados. Agora, aos receios de uma nova derrocada económica no quarto trimestre, junta-se a ansiedade em relação ao desfecho das eleições, que podem não ficar resolvidas no dia 3. Ambos os candidatos poderão vir a contestar os resultados das eleições.
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E os tumultos populares que ocorreram este ano nos EUA deixam em aberto a possibilidade de um regresso dos protestos. “Há 50 anos que invisto e não me lembro de uma altura em que vi tanta volatilidade como a que vemos hoje”, disse Henry Kravis. Apesar da incerteza e receios em torno das medidas relativas à epidemia do novo coronavírus e das eleições nos EUA, “tem sido um ano incrível”, adiantou. “Para nós, este está a ser provavelmente o ano mais ocupado e produtivo de sempre”, frisou. Desde o início do ano, a empresa investiu 42 mil milhões de dólares. No terceiro trimestre, o seu lucro líquido ultrapassou os mil milhões de dólares.
Trump vs. Biden
Até agora, e com a ajuda da Reserva Federal, os mercados acionistas registam ganhos nos EUA em 2020. O S&P 500 valorizou 2,5% e o Nasdaq 25%. Só o Dow Jones regista uma queda de 5,4% desde o início do ano. Nada comparável com as descidas superiores a 20% que registam os índices acionistas europeus, incluindo o FTSE, em Londres e o CAC40, em Paris, ou o português PSI20. “Provavelmente, para os mercados, em termos de estímulos fiscais, ambos os candidatos na corrida à Casa Branca podem criar condições para prolongar a tendência altista das ações que se iniciou em março.
Ambos têm em mente uma política orçamental expansionista para apoiar a economia e que poderá suportar os mercados financeiros”, defende Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. Lembrou que “Biden sempre liderou as sondagens desde janeiro, e é conhecido por querer aumentar os impostos sobre as mais-valias bolsistas, e o mercado nunca foi penalizado por isso”.
Uma reeleição de Trump “deverá beneficiar o setor petrolífero, enquanto uma vitória de Biden poderá favorecer as empresas limpas, verdes e investimentos em ESG (ambiente, social e governance)”, apontou o mesmo economista. Sinal da aposta dos investidores na vitória de Biden é o facto de a EDP Renováveis, que registou máximos históricos consecutivos, e a EDP, terem valorizado consideravelmente no último mês. Com ou sem eleições, “por agora, a tendência é de pressão nos ativos de risco, como as ações”, salientou Steven Santos, diretor de Trading Platforms & Brokerage do Banco BiG. “As medidas restritivas bastante agressivas e abruptas na Europa pesam. É prejudicial para tudo o que é atividade económica”, apontou.
Segundo Pedro Amorim, analista da Infinox “para os investidores, o nosso melhor conselho é: reveja as alocações da sua carteira e considere onde podem ter exposição excessiva a setores ou empresas potencialmente vulneráveis”. E acrescenta: “lembre-se que os principais motivadores das suas decisões sobre alocação de ativos devem continuar a ser os seus objetivos financeiros, o seu horizonte de tempo e a sua capacidade e disposição para assumir riscos”. O analista sublinhou que a reunião da Fed de 4 a 5 de novembro – logo após o dia das eleições – “pode fornecer mais proteção contra as perspetivas do mercado de ações”, já que o banco central pode decidir “intensificar as compras de ativos”.
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