Durante anos, esteve adormecido mas, a pouco e pouco, o gigante chinês está a despertar e a a Europa, e Portugal, querem ficar com uma fatia deste mercado de milhões que está a descobrir o mundo. Na entrada da década, Pequim apostou numa transformação económica e, nunca perdendo de vista as exportações, decidiu apostar também no consumo interno. À medida que as famílias foram obtendo mais rendimentos, começaram a aceder cada vez mais a bens de luxo e a conhecer o mundo.
A população chinesa ronda os 1,4 mil milhões de pessoas, sendo que menos de 10% têm passaporte – cerca de 140 milhões de pessoas. No ano passado, os chineses realizaram 145 milhões de viagens transfronteiriças e no primeiro semestre de 2018 as visitas ao estrangeiro, indicam os dados oficiais, cresceram 15% face ao mesmo período de 2017 para 71,31 milhões.
Na hora de apanhar um avião, a Europa, e Portugal, estão no radar: no ano passado, cerca de 13 milhões de chineses viajaram para o Velho Continente, dos quais mais de 260 mil rumaram a Portugal o que, indica a secretária de Estado Turismo, traduz-se num aumento de cem mil pessoas em dois anos. “O que sentimos é que [este mercado] tem uma capacidade de crescimento cada vez mais exponencial. O crescimento em 2017 foi importante assim como a subida das receitas turísticas do mercado chinês, que aumentaram 80% em 2017”, disse Ana Mendes Godinho. “Isto deve-se muito às ligações aéreas (..) mas também ao facto de os chineses quererem descobrir destinos que não conhecem e destinos que são únicos”. No verão de 2017, foi lançado um voo direto da China para Lisboa que, entretanto, foi suspenso. Mas há várias ligações a outras capitais europeias que permitem a ligação posterior a Portugal.
No ano passado, além do número de hóspedes na hotelaria ter superado a fasquia dos 260 mil, as dormidas destas turistas superam as 455 mil e, este ano – até setembro -, já ascendem a mais de 345 mil, de acordo com os dados do INE. Estes dados fazem com a China tenha sido em 2017 o 12º maior mercado da procura externa para Portugal. Este ano posiciona-se como o terceiro mercado com maior crescimento no conjunto dos principais mercados emissores, segundo o Turismo de Portugal.
A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) não tem dúvidas que para o setor este é um “mercado importante” até porque elegem maioritariamente os hotéis como forma de alojamento e “que tem estado sempre em crescimento”. Apesar de Portugal estar nos últimos lugares do top 10 de destinos turísticos na Europa, gostarem de visitar nomeadamente locais com património cultural, Cristina Siza Vieira assume que estes turistas têm “em alguns destinos um peso muito grande, quer [por exemplo] em Lisboa, quer no Alentejo. Nos dois primeiros meses de 2018 foram terceiro mercado emissor para o Alentejo”.
Apesar desta evolução há ainda espaço para crescer. A associação que representa o setor hoteleiro defende que uma das questões que “temos de incrementar” é “a duração da estada média. Em Portugal, a estada média não chega a duas noites. 46% dos hóspedes vêm em circuitos organizados que decorrem em vários países. É natural que a estada-média seja curta. O que gostaríamos é que os turistas chineses valorizassem mais Portugal como um destino completo”.
Para a expansão deste mercado para Portugal estarão a contribuir também as campanhas em solo chinês. “O que temos feito são campanhas fortes na China para a promoção de Portugal, quer com operadores turísticos quer através da presença digital. Hoje, os chineses fazem tudo no mobile e Portugal tem uma página [no portal] de viagens da Alibaba, temos presença no WeChat e lançámos uma campanha para 2018 muito temática”, explica a secretária de Estado do Turismo.
Há ainda outro lado da moeda quando se fala de turistas chineses: viajam com os bolsos cheios. No capítulo das receitas turísticas a China foi responsável por 130 milhões de euros (dados do Banco de Portugal) no ano passado. “É um mercado que gasta muito. É o que mais gasta quando viaja. Neste momento, em termos de receitas turísticas, é o turista que mais gasta em termos per capita quando vem a Portugal”, acrescenta Ana Mendes Godinho.
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