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A data marcada no calendário para o fim das moratórias de crédito é setembro de 2021. A evolução da pandemia continua ainda a pesar muito sobre alguns setores. Numa altura em que está em cima da mesa o prolongamento de moratórias para áreas de atividade mais pressionadas pela crise, o turismo quer ver o adiamento das prestações de empréstimos alargado pelo menos até ao final do ano. E não só. O setor reclama medidas específicas.
“O turismo está paralisado há um ano e precisa de medidas que garantam a continuidade da atividade das empresas. O prolongamento das moratórias, pelo menos até ao final de 2021, é uma dessas medidas. Manter as moratórias vai permitir a solvabilidade das empresas até que a situação do país estabilize e mantê-las até à retoma económica”, diz ao Dinheiro Vivo Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP).
A hotelaria vai ainda mais longe. Raul Martins, presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), lembra que as linhas de apoio à economia criadas pelo governo devido à pandemia são empréstimos que vão ter de ser pagos. A retoma de atividade não aconteceu no último trimestre de 2020 “nem se perspetiva que tal aconteça para as empresas hoteleiras durante o primeiro semestre de 2021”. “É por isso urgente encontrar uma solução duradoura, pois as empresas hoteleiras não têm liquidez para fazer face aos seus compromissos com os fornecedores e impostos, e quando reabrirem não têm lucros para pagar os empréstimos. Os reembolsos referentes aos empréstimos da covid-19 só poderão ser pagos em 2022 e 2023 e os de longo prazo a partir de 2024”, diz ao Dinheiro Vivo Raul Martins.
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O turismo foi um dos setores mais afetados. Os dados recentes do INE mostram que no ano passado as unidades de alojamento para turistas perderam no total quase 17 milhões de hóspedes, o que ditou uma queda de quase três mil milhões de euros nos proveitos totais deste setor. Portugal é há muito um destino dependente do turismo internacional. A quebra do número de hóspedes não residentes no ano passado rondou os 12 milhões, o que ajuda em parte a explicar a queda nas receitas turísticas em mais de 10 mil milhões de euros, de acordo com os dados do Banco de Portugal.
Na semana passada, o ministro da Economia admitiu que estava a ser debatido, tanto com o Banco de Portugal como com a Associação Portuguesa de Bancos, “o que fazer à dívida que existe no setor turístico”. “Eventualmente, uma extensão de maturidades pode justificar-se neste setor, não apenas a suspensão de pagamentos que determinamos até setembro deste ano, mas uma extensão do prazo remanescente da dívida existente”, salientou ainda o governante. Para Francisco Calheiros não há dúvidas: “As empresas da atividade turística estão numa situação crítica em termos de tesouraria, pelo que essa extensão seria determinante.”
A AHP também se mostra “satisfeita” com o facto de estar em cima da mesa um prolongamento das moratórias, mas nota que “em parte esse é o problema, mas a hotelaria precisa de mais”. “É fundamental que sejam criadas para as empresas hoteleiras linhas específicas e exclusivas, com períodos de carência e maturidade muito alargados, parte substancial a fundo perdido e condições de acesso que atendam às características do setor hoteleiro. Sem isso as empresas hoteleiras de média e grande dimensão não vão sobreviver a dois anos com quebras de receitas superiores a 75%. É inaceitável que as empresas de média e grande dimensão tenham de pagar a TSU quando não têm lucros”, defende Raul Martins.
Já a CTP assume que, além do prolongamento das moratórias, há “um conjunto de medidas que são urgentes, como a renovação do programa Apoiar, fundamental para as pequenas e microempresas; a extensão do lay-off simplificado até, pelo menos, ao final do ano; bem como medidas de capitalização e de fundo perdido”.
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