//Um novo “Big Short”? Investidor que previu crise de 2008 tira empresa do registo após apostar contra a IA

Um novo “Big Short”? Investidor que previu crise de 2008 tira empresa do registo após apostar contra a IA

Michael Burry, o investidor conhecido pelas apostas bem-sucedidas contra o mercado imobiliário dos EUA em 2008, cancelou o registo do seu fundo de cobertura (“hedge fund”, em inglês), a Scion Asset Management, depois de apostar contra o investimento na Inteligência Artificial (IA). A história de Burry inspirou o filme “The Big Short” (“A Queda de Wall Street”, em português).

O banco de dados da Comissão de Valores Mobiliários (SEC) mostra o registo da Scion como “encerrado” em 10 de novembro. O cancelamento do registo implica que o fundo não é obrigado a apresentar relatórios ao órgão regulador, ou a qualquer estado.

Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui

Os investimentos da Scion, que administrava 155 milhões de dólares em ativos em março, são há muito analisados na procura de indícios de bolhas iminentes e sinais de euforia no mercado. Os fundos de investimento que administram mais de 100 milhões de dólares em capital são obrigados registar-se na SEC.

Numa publicação na rede social X (antigo Twitter) na quarta-feira, Burry disse: “Rumo a coisas muito melhores em 25 de novembro”. A Scion Asset Management não respondeu às perguntas da Reuters.

Burry, famoso pela participação no livro e no filme “The Big Short” — onde foi interpretado por Christian Bale —, intensificou recentemente as críticas a gigantes da tecnologia, incluindo a Nvidia e a Palantir Technologies, questionando o crescimento exponencial da infraestrutura de armazenamento em “cloud”.

Michael Burry acusou também os principais fornecedores de utilizar contabilidade agressiva para inflar os lucros dos enormes investimentos em hardware, como em centros de dados.

Na publicação na rede social X, Burry disse ter gastado cerca de 9,2 milhões de dólares na compra de aproximadamente 50.000 opções de venda (“put options”) da Palantir, afirmando que essas opções lhe permitiriam vender as ações a 50 dólares cada em 2027. As opções de venda conferem o direito de vender ações a um preço fixo no futuro, e são normalmente compradas para expressar uma visão pessimista ou defensiva.

Na quinta-feira, as ações da Palantir estavam a ser negociadas a 178,29 dólares por ação, o que conferia à empresa um valor de mercado de 422,36 mil milhões de dólares.

Depois da aposta contra o imobiliário, a aposta contra a IA

No mês passado, Burry publicou uma imagem da sua personagem no filme “The Big Short”, e alertou sobre o perigo das bolhas, dizendo que “às vezes, a única jogada vencedora é não jogar”.

“A decisão de Burry parece menos um ‘desistir’ e mais um afastamento de um jogo que ele acredita estar fundamentalmente manipulado“, avalia Bruno Schneller, diretor administrativo da Erlen Capital Management.

Burry argumentou que, enquanto empresas como a Microsoft, o Google, a Oracle e a Meta investem milhares de milhões em chips e servidores da Nvidia, elas também estão, discretamente, a prolongar os cronogramas de depreciação, para que os lucros pareçam mais estáveis.

Entre 2026 e 2028, essas escolhas de contabilidade podem subestimar a depreciação em cerca de 176 mil milhões de dólares, estima Michel Burry, inflacionando os lucros reportados em todo o setor.

As ações relacionadas à Inteligência Artificial representam 75% dos retornos do índice S&P 500 desde novembro de 2022, quando a OpenAI lançou o ChatGPT, escreveu a JP Morgan Asset Management em setembro.

“Não o descartem, apenas esperem que ele opere fora do radar por um tempo. Ele pode simplesmente migrar para um modelo de negócio familiar e administrar o seu próprio capital“, disse Schneller.

Investimento de 16 mil milhões. Ministro da Reforma do Estado lança Portugal como "líder mundial" de IA

A aposta de Michael Burry contra as hipotecas subprime (empréstimos a pessoas com probabilidade de não conseguir pagar todas as prestações) durante a crise do mercado imobiliário foi relatada no livro de Michael Lewis, “The Big Short”, e numa adaptação cinematográfica.

Burry convenceu a Goldman Sachs e outros oito bancos de investimento a venderem-lhe produtos conhecidos como “credit default swaps”, acordos de troca financeira em que o vendedor tem de compensar o comprador no caso de incumprimento — o que, no mercado financeiro, era ativado quando os proprietários não conseguiam pagar a hipoteca de casa.

Apesar de revolta de muitos dos investidores no fundo gerido por Burry — que retiraram o dinheiro com receio das previsões estarem incorretas —, o próprio acabou por lucrar cerca de 100 milhões de dólares com a aposta, e rendeu mais de 700 milhões de dólares aos investidores no fundo.

O perfil na rede social X, com o nome “Cassandra Unchained”, é visto como uma referência à figura mitológica grega amaldiçoada por Apolo a revelar profecias verdadeiras em que ninguém acredita.

A Burry’s Scion encerrou o ano passado com ações de várias empresas do sistema de sáude, mas o fundo encerrou essas posições no início deste ano. Durante o segundo trimestre, a Scion Asset Management mostrou-se mais otimista em relação a empresas de diferentes setores e regiões geográficas, após ter apostado contra empresas chinesas anteriormente, quando o governo Trump ponderava a imposição de tarifas.

Mercado difícil para investidores como Burry

Burry, que relançou a Scion Asset Management em 2013, junta-se a um grupo de investidores de alto perfil num mercado cada vez mais hostil a visões pessimistas, graças ao otimismo desenfreado em torno da tecnologia e ao forte interesse dos investidores individuais.

A Hindenburg Research encerrou suas atividades no início deste ano, após uma série de recomendações de grande importância, incluindo apostas contra o grupo indiano Adani e a fabricante americana de camiões elétricos Nikola.

O veterano investidor Jim Chanos, mais conhecido pelas apostas contra a empresa de comércio de energia Enron meses antes da falência da empresa, também entrou em conflito com a empresa de investimentos em bitcoin de Michael Saylor, a Strategy.

Ver fonte

TAGS: