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A chuva de gritos e assobios recebida esta semana pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, poderá ser prenúncio de um “inverno de raiva” devido à subida do custo de vida, que os partidos extremistas querem aproveitar.
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“Traidores do povo” ou “mentirosos” foram alguns dos insultos dirigidos ao chanceler alemão que na quarta-feira, numa visita a Neuruppin, em Brandeburgo, teve de recorrer a altifalantes para ser ouvido. Manifestantes da extrema-esquerda e, principalmente, da extrema-direita, quiseram mostrar o descontentamento pela subida da inflação.
Na altura em que foi vaiado, o chanceler e líder do Partido Social Democrata (SPD, na sigla em alemão) prometia um novo pacote de ajuda para fazer face à subida de preços provocados pela crise energética.
Floris Biskamp, especialista em política populista de direita da Universidade de Tübingen avisa que, caso o governo não atue de forma “decisiva”, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) poderá ganhar com o crescente descontentamento do povo alemão.
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“De facto, já está a resultar. De acordo com as sondagens, o partido ronda os 12% neste momento, acima dos 9% durante a pandemia, mas ainda não está perto dos 15% que pontuaram anteriormente”, sublinha em declarações à Lusa.
De acordo com uma sondagem revelada pelo instituo INSA no final do mês de julho, 44% dos alemães estão disponíveis “com certeza” ou “alta probabilidade” para participar em manifestações contra os altos preços da energia.
Metade dos eleitores do partido liberal FDP, 60% dos da Esquerda e 72% da AfD, segundo este estudo, chegam mesmo a considerar os protestos necessários.
Nos últimos dias, circularam informações sobre a possibilidade de protestos em massa no outono contra as políticas do governo, que antecipam o já chamado “Wutwinter” (“inverno de raiva”). Para Biskamp, este “inverno de raiva” é “concebível”, mas não deve ser dado como certo.
“É importante notar que os extremistas de direita não beneficiam automaticamente das crises, como algumas pessoas erradamente acreditam”, defendeu, acrescentado que isso só acontece se duas condições forem preenchidas.
“Primeiro, se uma parte significativa da população se sentir frustrada com a atuação do governo; segundo, a extrema-direita deve oferecer uma resposta que seja coerente com a sua ideologia, ao mesmo tempo que atende as queixas da população”, explicou.
À subida dos preços do gás para os consumidores, somam-se a incerteza sobre se haverá abastecimento suficiente durante todo o inverno, e a possibilidade de muitas pessoas perderem os seus trabalhos devido à recessão e à dependência do gás em algumas indústrias.
“Se o governo não conseguir resolver estas questões, assegurando o abastecimento e atenuando os efeitos para a população, há condições para um considerável aumento dos protestos”, apontou Floris Biskamp.
“Devemos notar que a AfD e outros já estão a tentar capitalizar a crise (…) A maioria deste partido de extrema-direita toma uma posição fortemente favorável a Putin e culpa o governo por antagonizar desnecessariamente a Rússia, perseguindo uma retórica algo cínica de “paz”. Em segundo lugar (…) culpam as políticas do Banco Central Europeu pela inflação. Em terceiro lugar, afirmam que o governo está a empurrar o fardo da crise para os trabalhadores. Quarto, criticam as políticas energéticas, criticando os outros pela decisão de acabar com a produção de energia nuclear na Alemanha”, enumerou.
Biskamp alerta para o facto de também a extrema-esquerda poder tirar partido de uma crise iminente. O partido “A Esquerda” (Die Linke) convocou para a próxima segunda-feira uma manifestação em Leipzig.
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