O antigo ministro grego Yanis Varoufakis compara um vídeo do presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, a propaganda da Coreia do Norte. O deputado socialista João Galamba e a bloquista Joana Mortágua também deixam críticas.
“A Comissão Europeia insulta a insuportável miséria da Grécia com um vídeo da máquina de propaganda norte-coreana”, escreveu Varoufakis nas redes sociais.
O deputado socialista João Galamba também não gostou da mensagem de Mário Centeno.
“Um vídeo lamentável que apaga o desastre que foi o programa de ajustamento grego e branqueia todo o comportamento das instituições europeias”, atira João Galamba no Twitter.
A deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, partido que apoia o Governo no Parlamento, escreve na mesma rede social que, “definitivamente, não somos todos Mário Centeno”.
“Mais valia por as legendas em alemão, o discurso dos povos expiadores de pecados orçamentais cola bem no reino da Merkel. Por cá sabemos em que altar se inventou a austeridade. E até fora de horas aparecem novos crentes”, critica Joana Mortágua.
O social-democrata Duarte Marques regista uma incoerência no discurso do primeiro-ministro e do ministro das Finanças.
“Para António Costa e Mário Centeno, entre 2011 e 2015 tivemos em Portugal austeridade desnecessária imposta pelo PSD/CDS enquanto que na Grécia tivemos um programa de reformas estruturais bem conseguido, coordenado, mas não imposto por Bruxelas, e mais eficaz. É isto”, escreveu Duarte Marques, no Twitter.
As críticas do antigo ministro grego das Finanças têm como alvo um vídeo em que Mário Centeno, ministro português das Finanças e presidente do Eurogrupo, saudou o fim do resgate à Grécia, ao fim de oito anos.
O país “reconquistou o controlo pelo qual lutou”, diz Centeno, advertindo que tal também acarreta “responsabilidade” acrescida.
Numa mensagem vídeo publicada na sua conta na rede social Twitter, e também no sítio de Internet do Conselho da União Europeia, no dia em que a Grécia sai formalmente do seu terceiro programa de ajuda externa, Centeno começa por sublinhar que “hoje é um dia especial para a Grécia”, pois chega ao fim “um trajeto longo e sinuoso”.
“Mas isso agora é História. Hoje, o crescimento económico melhorou, estão a ser criados novos postos de trabalho, regista-se um excedente orçamental e comercial, e a economia foi reformada e modernizada”, afirma Centeno, acrescentando ter noção de que “estes benefícios ainda não são sentidos em todos os quadrantes da população”, mas garantindo que, “gradualmente, serão”.
Segundo Centeno, “a Grécia enfrenta agora uma nova realidade”, em que “não há mais ações prévias” (as medidas de ajustamento que Atenas tinha que honrar perante os credores para receber os empréstimos), “mas também não há mais desembolsos”.
“A Grécia reconquistou o controlo pelo qual lutou. Com controlo, vem a responsabilidade. Os gregos pagaram caro as más políticas do passado, pelo que voltar atrás seria um erro prejudicial”, sublinhou então o presidente do Eurogrupo.
A concluir, Centeno lembra que “a Grécia está agora numa posição na qual pode gozar plenamente a pertença à zona euro, sujeita às mesmas regras dos restantes membros da área do euro”.
“Nesse sentido, a Grécia regressou hoje à normalidade. Por isso, bem-vindos de volta”, conclui.
A Grécia concretiza esta segunda-feira a saída do seu terceiro programa de assistência, numa data histórica para o país e para a zona euro, que vira a página sobre oito anos de resgates.
A Grécia, o país europeu mais atingido pela crise económica e financeira, foi o primeiro e último a pedir assistência financeira – e o único “reincidente” -, e a conclusão do seu terceiro programa assinala também o fim do ciclo de resgates a países do euro iniciado em 2010, e que abrangeu também Portugal (2011-2014), Irlanda, Espanha e Chipre.
Face às características únicas da (tripla) assistência prestada ao país, e às fragilidades que a sua economia ainda revela, a Grécia será alvo de uma “vigilância pós-programa reforçada”, com missões de três em três meses, para garantir que Atenas prossegue, nesta nova era pós-resgates, uma “política orçamental prudente”.
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